Tendo participado da 25ª Edição do VAM (Vamos à Montanha), em que um grupo de apaixonados por vinhos se reuniu em Teresópolis, num evento muito bem-organizado por Ana Maria Gazolla e equipe, o tema que chamou a atenção de todos foi a rápida evolução da vitivinicultura fluminense.
O “VAMOS À MONTANHA DE ...” (VAM) é um encontro que reúne os participantes do Fórum Enológico, a lista de discussão sobre vinho criada em 1997 pelo site Academia do Vinho (www.academiadovinho.com.br) e se transformou num encontro informal tradicional entre enófilos do Brasil!
O Encontro não tem fins lucrativos. Trata-se, portanto, de uma reunião de amigos enófilos, que lhes propicia adquirir novos conhecimentos enológicos e estreitar amizades nascidas e mantidas em torno do vinho. Ou simplesmente, gostar do vinho e brindar pela vida!
HISTÓRIA DA VITIVINICULTURA FLUMINENSE - Há relatos de experimentos de plantio de uvas para produção de vinhos na época colonial, sem grande sucesso, até que em 1880 o português Manuel Fernandes Enes começou a produzir um vinho no estilo do Vinho Verde e sua atividade vai até o ano de 1920. Havia inclusive propaganda do vinho em 1892 no jornal “O Friburguense”.
Em 2008, depois de uma chuva de granizo que destruiu toda a plantação de café, mantida por José Cláudio e Ângela Aranha em Inconfidência (antiga Sebollas), começou a história do vinho da Serra Fluminense. Pensando em uma solução para a crise, surgiu a ideia de produzir uvas. Em 2010, depois de um trabalho ao lado do engenheiro agrônomo Murillo de Albuquerque Regina foi feita uma análise de solo e a correção de acidez para, enfim, serem plantadas 8 mil mudas na propriedade que viria a ser a Vinícola Inconfidência.
A produção de vinhos finos na serra se tornou possível graças à técnica da dupla poda, desenvolvida pelo pesquisador Murillo de Albuquerque Regina, na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Era início dos anos 2000 e, fazendo seu doutorado na França, ele constatou semelhanças climáticas entre o verão das colheitas em Bordeaux e o inverno no sul mineiro. Desta observação surgiu a ideia de fazer a inversão do ciclo das videiras, quando as plantas são podadas no chuvoso verão do Sudeste, e começam a frutificar para amadurecer na temporada do frio na região serrana.
As primeiras vinhas da região foram plantadas com a técnica de dupla poda, em que se altera o ciclo da videira e permite que a colheita ocorra no inverno (nos meses de junho e julho, a estação mais fria, ensolarada e atrativa nessa bela área montanhosa do Rio), quando o clima da região é seco e a diferença de temperatura entre o dia e a noite cria condições ideais para a maturação das uvas.
A primeira colheita da Vinícola Inconfidência foi feita em 2014 e as uvas foram levadas para Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais em Caldas, em viagens noturnas para aproveitar o frio e preservar a qualidade da matéria prima. Quatro anos depois, foi construída a primeira estrutura para a produção, que passou a ser feita na própria vinícola.
A produção inicial foi feita com uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Syrah. Mais recentemente, foram plantadas experimentalmente as videiras de Petit Verdot, Nero d’Avola e Viognier. A ousadia dos Aranha inspirou outros produtores a seguir o mesmo caminho.
Atualmente há 35 projetos vitivinícolas em evolução no Estado do Rio de Janeiro, que já soma 80 hectares de vinha plantada. Entretanto, 25 produtores têm vinhas com área menor que 3 hectares. Há somente 1 produtor de vinho orgânico, que planta fileiras de uvas viníferas intercaladas com fileiras de uvas americanas.
A vitivinicultura se desenvolveu rápido na Serra Fluminense. É uma área que ainda está sendo estudada, mas a acidez das uvas, que resulta das noites muito frias e a concentração de taninos e açúcares pelos dias ensolarados, promete um bom potencial para produção de vinhos finos de qualidade.
Nesses terroirs, já que a vitivinicultura está presente em Teresópolis, Nova Friburgo, Areal, Petrópolis, a versátil uva syrah, de origem francesa, foi a que melhor se adaptou ao ciclo de dupla poda, despontando como carro-chefe nos rótulos fluminenses. Em geral, na garrafa, o que se encontra são vinhos que primam pela suavidade, no caso das uvas tintas, e mais complexos entre as brancas. Junto à espetacular paisagem verde, elas tornam o passeio um belo programa.
Durante o VAM de Teresópolis visitamos as seguintes vinícolas:
FATTORIA VINHAS ALTAS – uma vinícola em estilo boutique, está localizada em Teresópolis, a 1 200 metros de altitude. Oferece wine tour nos vinhedos com degustação da linha própria Uberto Molo, nos varietais syrah e viognier, seguida de brunch com produtos regionais. O proprietário Murilo Pilotto recebe a todos muito bem e faz uma apresentação contando sua história de piloto de corridas a produtor de Vinhos. A “prata da casa” é o vinho Uberto Molo Syrah. Provamos o vinho de 2022 que se mostrou rubi escuro, com notas típicas da syrah, com frutas escuras e ameixa, especiarias e uma sabor gostoso de quero mais. Depois fizemos um belo passeio pelas vinhas que sobem as encostas. Para dizer a verdade, como a região é montanhosa, achar terrenos de grande extensão plana não é fácil e nem sempre é o melhor local para a vinha que gosta de se expor ao sol. Endereço: Estrada Guiomar Fleury Broux, s/nº, Campanha, Teresópolis. Reservas pelo tel.: (21) 97145-3703 ou pelo Instagram @fattoriavinhasaltas.
VINÍCOLA MATURANO – uma megaestrutura de produção, situada em Teresópolis, RJ, programada para inaugurar em 2025 como um complexo enoturístico completo. Haverá um hotel, restaurante, wine bar, uma capela e uma moderna vinícola com capacidade de produzir até 320.000 garrafas por ano.
A família Maturano tem raízes na região e vai cultivar as castas Syrah, Cabernet Franc, Sauvignon Blanc, Malbec, Merlot e Chardonnay, juntamente com 11 variedades experimentais. Orientados pela enóloga Monica Rosetti, reconhecida por seu trabalho em eventos globais, e a consultoria Floeno, pretendem produzir garantindo práticas sustentáveis e de alta qualidade.
O hotel será um refúgio luxuoso, integrado à paisagem natural. Equipado com spa, academia e centro de convenções, oferecerá aos hóspedes conforto e comodidade incomparáveis. Um heliporto e um hangar para até 5 helicópteros garantirão fácil acesso. O hotel promete uma experiência de hospedagem única, unindo luxo à beleza serena de Teresópolis.
O restaurante oferecerá uma fusão de cozinha internacional utilizando ingredientes de origem local, valorizando pratos sazonais, da fazenda à mesa, perfeitamente combinados com os vinhos da vinícola. Os hóspedes estarão em meio a vistas deslumbrantes dos vinhedos.
Maiores informações com os contatos: Instagram: @vinicolamaturano e e-mail; vinicolamaturano@gmail.com
VINÍCOLA INCONFIDÊNCIA - a primeira vinícola fluminense fica em Pedro do Rio, em Petrópolis, e tem a mais extensa linha com sete rótulos, incluindo um tinto de corte diferente de syrah e sauvignon blanc. A visita aos vinhedos de mais de 20.000 videiras é guiada por José Claudio Aranha que conta a história da fundação da empresa, seguida de degustação de quatro rótulos da casa. Durante a degustação provamos 4 vinhos, começando pelo Sauvignon Blanc Luísa, que revelou notas típicas e bom frescor. João Paulo é um corte inusitado de Syrah e Sauvignon Blanc. Passamos ao Matheus feito com Cabernet Franc, seguido pelo Rafael feito com Syrah. Terminamos degustando a grappa produzida na vinícola. Destaque para o Rubro que foi provado numa Master Class – um corte de Syrah, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Merlot, feito sem filtração e sem passagem por madeira, que mostra um grande equilíbrio e complexidade. Endereço: Estrada do Fagundes, 4000, Pedro do Rio, Petrópolis. Reservas pelo tel.: (21) 97970-9966 ou pelo Instagram @vinicolainconfidencia.
Na próxima semana escreverei sobre os vinhos provados em Master Classes, Almoços e Jantares.
Então, que tal provar um vinho fluminense ir acompanhando a evolução destas vinícolas no futuro? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
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