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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“VINHOS DE VINHAS VELHAS”

Lendo os artigos do Grupo de Masters in Wine reproduzidos no site da Jancis Robinson sobre os vinhos de vinhas velhas, lembro que os amantes de vinhos geralmente me perguntam por que eles são tão especiais, raros ou caros?

Muitas vezes o produtor gosta de ressaltar que seu vinho foi produzido a partir de “vinhas velhas” e ostentam o termo nos seus rótulos. As “vinhas velhas” têm um efeito estranho nos enólogos. Elas exercem uma atração emocional perto do encantamento - uma espécie de magia que se torna mais poderosamente fascinante quanto mais antiga a videira for.


Em visitas a vinhedos, especialmente em Portugal e na Espanha, você vê o carinho enquanto eles tocam os troncos das plantas mais antigas, a névoa melancólica dos olhos enquanto orgulhosamente revelam a idade das videiras. O relacionamento pode ser emocional, mas não é irracional, mesmo que a ciência sobre o assunto seja um tanto superficial e não desenvolvida.

A idade da videira não é uma garantia de qualidade no vinho: muitos vinhos ruins são feitos a partir de videiras muito antigas, e muitos bons são feitos de plantas relativamente jovens. No entanto, a esmagadora maioria dos enólogos concorda: uma proporção incomumente alta dos vinhos excepcionais é produzida a partir de vinhas com idade entre 50 e 100 anos.


De fato, a busca por uma trama negligenciada de videiras antigas - quanto mais remota, melhor - se tornou um rito de passagem para os ambiciosos vinicultores. Suas descobertas, desde as montanhas Sierra de Gredos da Espanha até a Swartland da África do Sul e as montanhas de Santa Cruz da Califórnia, transformaram a sabedoria recebida sobre onde é possível produzir um ótimo vinho.


Em Portugal, ainda não existe uma definição que determina com exatidão a idade a partir do qual se pode considerar uma vinha como Vinha Velha. Por exemplo, no Alentejo considera-se uma Vinha Velha aquela com 30 anos ou mais. Nas regiões do Douro, estes 30 anos não são suficientes. Por estas terras, uma Vinha Velha só ganha essa distinção se tiver pelo menos 40 anos.


O cenário repete-se de país para país. Espanha e França, outros dois grandes produtores de vinho, também não têm uma definição fechada de Vinha Velha. E se olharmos para países que hoje crescem na produção de vinhos, como a Nova Zelândia, ainda mais difícil seria definir o conceito de Vinha Velha. Isto porque são países que começaram a cultivar há pouco mais de 20 anos e as duas primeiras décadas de uma videira são aquelas em que ela produz mais.

Então, por que, se as vinhas velhas são tão especiais, muitas delas acabam abandonadas ou substituídas por plantas mais jovens? E por que esse processo é ativamente incentivado - na forma de subsídios e outros incentivos - por instituições como a UE e os governos nacionais e locais?


As respostas podem ser resumidas a idéias concorrentes de como ganhar a vida com o vinho e a melhor forma de equilibrar a qualidade e a quantidade. As vinhas velhas em comparação com as videiras jovens, são mais caras para produzir, pois não se pode mecanizar uma vinha antiga, o que significa que tudo deve ser feito à mão. E elas não são nada produtivas: uma vinha de 70 anos pode produzir 4.000 kg de uvas por hectare; uma vinha jovem de 10 anos pode produzir 50.000 kg por hectare.


Como entender isto? Vamos organizar primeiro algumas informações para você compreender o que o termo “vinhas velhas” representam.


Depois do produtor plantar a vinha, as videiras levam cerca de três anos para produzir frutas. A videira atinge a “idade adulta” em torno de sete ou oito anos, quando sua produção começa efetivamente a ter consistência e qualidade. Diz -se que uma videira "madura" está entre 12 e 25 anos. “Vinhas Velhas” geralmente têm mais de 25 anos e, de preferência, mais de 50 anos!


O interessante é que, ao longo do ciclo de vida de uma videira, existem algumas mudanças notáveis ​​que criam qualidades únicas de vinhedos envelhecidos. Por exemplo, as videiras produzem frutas concentradas. Por outro lado, as videiras velhas tendem a perder a produtividade com a idade. Muitos acreditam que isso aumenta a concentração das frutas e resultam na produção de um vinho mais concentrado ou encorpado.


Apesar da maturidade de uma videira não ser um problema, o fato é que as frutas de “Vinhas Velhas” tendem a alcançar a maturidade fisiológica de maneira mais consistente, e assim sendo, especialmente com vinhos tintos, nos quais os taninos verdes podem gerar um sabor verde e adstringente, o problema é menor, pois as uvas mostram taninos maduros e geram vinhos macios.

“Vinhas Velhas” tem raízes mais profundas, o que parece ser muito bom, por que significa que as videiras puxam seus nutrientes e fontes de água de áreas mais profundas, longe da superfície. Por esse motivo, as videiras mais antigas não sofrem tanta variação ao longo da sequência de safras e tendem a ser mais tolerantes a mudanças extremas de clima. Outro fato interessante é que aparentemente as “Vinhas Velhas” cuidam de si mesmas, desde que sejam saudáveis, e vão gerando bons frutos safra após safra.


Aparentemente o problema com “Vinhas Velhas” é a redução da produção da videira. De certa forma, numa primeira visão, menos produção significa menos dinheiro para um produtor de uva, e possivelmente ele tentará recompor o equilíbrio financeiro da vinícola criando vinhos mais caros. Entretanto, os vinhedos mais antigos não são de uvas que estão na moda como Syrah ou Cabernet Sauvignon para vinhos tintos. Você os encontrará plantados com variedades menos conhecidas como Petite Sirah, Carignan, Grenache, Trousseau e Zinfandel. Isso significa que um produtor de uva não poderá cobrar um preço mais alto por suas frutas e seu vinho. Um verdadeiro “paradoxo” !


● ONDE ENCONTRAR VINHAS VELHAS


♦ Santorini, Grécia - Os vinhos tintos não são o único tipo de vinho que se beneficia de vinhas velhas. Na ilha de Santorini, você encontrará a rara uva de Assyrtiko com condução “rés do chão” em videiras circulares como se fosse uma cesta, ou uma coroa de flores. As melhores uvas são frequentemente usadas para uma versão rara do vinho chamada “Nykteri”, que lembra um belo Borgonha Branco (feito com uva Chardonnay).


♦ Languedoc, sul da França - Durante a década de 1970, o Languedoc ficou conhecido como “um Mar de Vinho” por causa da superprodução de vinhos a partir da uva carignan. O resultado geral desta superprodução foi tão ruim que os vinhos produzidos na área foram destilados como combustível. A denominação instituiu regras no sentido de recuperar a qualidade e pagou aos agricultores para arrancar suas videiras, e muitos o fizeram.


♦ Barossa Valley, Austrália - A Austrália do Sul tem a sorte de ficar tão isolada que as vinhas de Shiraz e Grenache aqui não tenham sido infectadas com filoxera. Esta área está repleta de “vinhas velhas”. Aliás, esta é a única região do mundo com uma diferenciação para a idade das videiras: “Vinha Velha” (mais de 35 anos), “Vinha Sobrevivente” (mais de 70 anos), “Vinha Centenária” (mais de 100 anos) e “Videira Ancestral”(mais de 125 anos).


♦ Lodi, Califórnia - Lodi é duas vezes maior que o vale de Napa, com cerca de 40.500 hectares de vinhas. A região era um epicentro da produção de uvas no final do século XIX. Você encontrará muito Zinfandel, juntamente com outras variedades únicas, como Trousseau, Touriga Nacional e Tannat e todas elas em “vinhas velhas”.


Uma curiosidade a ser dita é que a videira mais antiga - "Stara Trta", está plantada na cidade de Maribor, na Eslovênia. A videira é de uma casta eslovena tinta rara chamada Žametovka. Seus vinhos são brilhantes e de cor de rubi, com acidez viva, com aromas de framboesa e notas de groselha vermelha e baixo álcool. Quando visitei esta vinha me disseram que seus vinhos são considerados “emblemas nacionais” e são oferecidos como presentes para autoridades internacionais. Portanto, vontade tive, mas não consegui comprar ou provar vinhos feitos de uvas cultivadas a partir desta videira!


A verdade é que vale fazer um esforço para preservar as “Vinhas Velhas”, mesmo que isso tenha um custo adicional ou mais alto. Afinal, o tempo é uma daquelas coisas que nunca podemos voltar atrás e aproveito para perguntar: Você já provou um vinho de “Vinha Velha”? Saúde !!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).

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