Os turistas conhecem a Campânia pela cidade de Nápoles, as ruínas de Pompéia, a ilha de Capri e a bela Costa Amalfitana. Agora é hora de conhecer seus vinhos.
A Campânia está localizada na parte sul da península italiana, de frente para o Mar Tirreno, no que pode ser chamado de canela da bota da península. Sua capital e maior cidade é Nápoles (Napoli). No mundo do vinho, a Campânia é mais conhecida pelos vinhos tintos feitos de Aglianico, como Taurasi, e pelos vinhos brancos feitos de Falanghina, Fiano e Greco.
Possui 4 DOCGs, 15 DOCs e 10 IGPs. Em 2022, a Campânia tinha 25.600 hectares de vinhedos registrados, produzindo quase 1,5 milhão de hl (16,4 milhões de caixas) de vinho - principalmente vinho de mesa, com apenas 19% dele no nível DOP.
Uma das variedades de uva de destaque na Campânia é a Aglianico (34% do vinhedo da região), que produz vinhos tintos robustos e encorpados. Vinhos à base de Aglianico, como Taurasi, são conhecidos por sua complexidade, altos taninos e potencial de envelhecimento. Taurasi, frequentemente chamado de "Barolo do Sul", é considerado um dos melhores vinhos tintos da Itália.
A região também é famosa por seus vinhos brancos, notavelmente Fiano e Greco. Fiano di Avellino e Greco di Tufo são vinhos DOCG conhecidos por seus perfis aromáticos, excelente acidez e caráter mineral. Esses vinhos brancos exibem profundidade, elegância e um senso distinto de terroir.
O solo vulcânico da Campânia, juntamente com o clima mediterrâneo e as brisas refrescantes do mar, contribuem para as características únicas de seus vinhos. O Monte Vesúvio, um vulcão ativo, deixou sua marca no terroir, fornecendo cinzas vulcânicas férteis e minerais para os vinhedos.
Além dos renomados vinhos DOCG, a Campânia também produz vários outros vinhos regionais e locais, como Falanghina, Lacryma Christi e Piedirosso. Esses vinhos mostram a diversidade da região e oferecem uma ampla gama de sabores e estilos.
● CAMPÂNIA, ONDE A ITÁLIA É MAIS GREGA – A influência grega na história italiana é inegável e, algumas vezes, visíveis até hoje em diversas localidades italianas, especialmente no sul do país. Um dos exemplos mais bonitos da herança grega em território italiano é a esplêndida cidade de Paestum, na Campânia.
Um dos maiores e mais bem conservados complexos de templos gregos do mundo, Paestum é um sítio arqueológico imperdível na Campânia. A cidade foi fundada no século VII a.C. por colonos de Síbaris e era originalmente chamada de Poseidonia. Foi anexada pelo Império Romano no século 3 a.C. e renomeada para Paestum.
Paestum é uma cidade marítima e possui 15 km de praias banhadas pelo mar Cilento, é um destino popular no verão, mas o coração da cidade é seu parque arqueológico. Aqui, a arquitetura, a arte e a cultura da Grécia antiga ainda vivem de uma maneira única, bela e atraente. Tudo começou por volta dos anos 1700, quando os primeiros viajantes visitaram Paestum sem saber o que pensar dos templos dóricos, mas as magnitudes de suas belezas e suas obras e templos serviram como base para despertar o fascínio que o sítio da Magna Grécia exerce desde então.
A área arqueológica de Paestum foi reconhecida, em 1998, pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade e está rodeada por muralhas e torres bem preservadas; além de um rico museu que abriga objetos de manufatura predominantemente grega, todos encontrados em várias necrópoles da zona. A região já era habitada em tempos pré-históricos e Estrabão – o mais famoso geógrafo romano – conta que Jasão, o herói do velo de ouro, tinha o poder de curar utilizando magia; com seus seguidores, os Argonautas, ele parou na foz do rio Sele e dedicou um santuário a Hera (protetora dos Argonautas), nesse momento, tudo, de fato, teria começado na região! A fertilidade da planície e a abundância das águas do Sele, foi um dos principais pontos de encontro entre o Oriente e o Ocidente – isso já no segundo milênio a.C.
Os gregos, apaixonados pela posição geográfica da área fundaram Paestum, por volta de 600 a.C., uma cidade que eles chamaram de Poseidonia, em uma clara homenagem ao deus dos mares. O desenvolvimento da construção da cidade deu-se em meados do século VI a.C, e a construção dos templos começou décadas após a fundação da cidade.
Os Templos Gregos de Paestum - Paestum possui três templos gregos que foram construídos entre os séculos VI e V a.C., junto com os de Atenas e Agrigento, e – até hoje – esses edifícios são os mais bem preservados da época clássica. Os templos ficam no coração da cidade, que se estende por mais de 120 hectares, é cercada por uma muralha que, embora não esteja preservada completamente, ainda é um dos circuitos defensivos mais bem preservados daquele período.
O Templo de Hera - também chamado de Basílica, está no Santuário Meridional de Paestum, perto do Templo de Netuno. O Templo de Hera está muito bem preservado e é de uma beleza única, digno de uma deusa. Segundo diversos estudos, este parece ser o único templo grego da era arcaica e possui todas as colunas de sua estrutura intactas: são 50 colunas ao longo do templo, 9 colunas na fachada e 18 colunas no fundo, em ambos os lados. A construção desse Templo teria começado em 550 a.C. e, claro, é um templo dórico dedicado a Hera, a deusa da Fertilidade.
O Templo de Atena - Cruzando a cidade, perto ao Santuário do Norte, encontramos o Templo de Atena, que também é conhecido como o Templo de Ceres. O Templo de Atenas foi construído sobre os restos de um antigo santuário que foi destruído por um incêndio. Foi erguido por volta do ano 500 a.C. e é o que tem a estrutura mais simples entre todos eles. Também é dórico, como os outros dois, mas tem seis colunas de estilo jônico em seu interior.
O Templo tem um frontão bem mais alto em comparação com a estrutura do edifício, e o friso que encontramos acima dele é em estilo dórico. Esse templo foi, originalmente, atribuído por engano a Ceres, mas até hoje, muitos o chamam de Templo de Ceres. Durante as escavações foram encontradas inúmeras estatuetas de terracota da deusa Atena e, por isso, o Templo foi dedicado à ela, que era a deusa do guerra.
O Templo de Netuno - Por último, mas não menos importante, temos o Templo de Netuno, também chamado de Templo de Poseidon. Este é o maior Templo do Parque Arqueológico de Paestum, na realidade devia ter sido dedicado a Hera. Há quem diga que o Templo poderia também ser dedicado ou a Zeus ou a Apolo. O Templo de Netuno fica perto do Templo de Hera, no Santuário Sul da antiga Poseidonia e sua área interna é a mais bem preservada entre os três templos presentes no sítio, o que faz dele o mais bem preservado de toda a era Grega. O interior do Templo está dividido em três naves e ele foi erguido um século após aquele de Hera, por volta de 460 a.C.
Paestum foi abandonada e ficou ‘fora do mapa’ por séculos, mas seus templos resistiram bravamente! Sua redescoberta foi feita por escritores e poetas dos anos 1500 e 1600 que, com suas citações, despertaram interesse e curiosidade de estudiosos e arqueólogos, mas sua redescoberta “real”, foi na primeira metade do século XVIII. Neste momento Paestum se tornou um destino turístico de culto, refinado e interessante.
● A LENDA DO LACRYMA CHRISTI – O Lacrima Christi é um vinho napolitano produzido nas encostas do Monte Vesúvio, na Campânia, Itália. É conhecido desde a Idade Média e é feito principalmente de uvas Verdeca e Coda di Volpe. O Lacrima Christi vermelho é feito de uvas Piedirosso e Sciascinoso
Quando Lúcifer foi expulso do paraíso como resultado de uma rebelião dos anjos, roubou um pedaço do paraíso com o qual ele teria criado o golfo de Nápoles. Satanás então teria sido tragado pelas entranhas do inferno no local onde se originou o monte Vesúvio. Jesus, vendo o furto, teria chorado e vertido suas lágrimas naquele ponto. Essas lágrimas teriam se tornado as videiras que dão origem aos vinhos Lacryma Christi, uma denominação icônica daquela região italiana. Segundo outra lenda, Jesus, disfarçado, teria se apresentado a um eremita que vivia nas encostas do Vesúvio e, fingindo estar com sede, pediu-lhe algo para beber. Para agradecer a generosidade do eremita, transformou a sua água em néctar de vinho.
Lacryma Christi foi mencionado no livro de Alexandre Dumas, “O Conde de Monte Cristo”, no poema de W. J. Turner, “Conversando com Soldados”, em “Cândido” de Voltaire, e por Christopher Marlowe em sua peça “Tamburlaine, o Grande, Parte II”. Outros tantos escritores citam as lágrimas de Cristo, que, segundo a denominação de origem, pode ser um vinho tinto, branco, rosé, espumante ou licoroso.
A ERUPÇÃO QUE MUDOU A VITIVULTURA ROMANA -
Os romanos não conheciam a realidade do Monte Vesúvio, que com cerca de 3.000 metros de altura, dominava a paisagem local. A região em torno de Nápoles tinha uma intensa vida econômica e comercial. A erupção do Vesúvio, que destruiu Pompéia e Herculano em outubro de 79 D.C., faz parte daqueles eventos que todo mundo já ouviu contar a história. Após a erupção, a altura do Monte Vesúvio é de 1.200 metros; ou seja; 1.800 metros foram para o espaço sob forma de pedras, cinzas e lava.
Detalhes da vida romana no primeiro século depois de Cristo ficaram preservados de uma forma não encontrada em outros sítios arqueológicos. E entre eles, muitas evidências que colocam Pompéia como um dos centros do mundo do vinho na época romana. De um lado, foi uma enorme tragédia, porém, preservou as duas cidades romanas até hoje, exatamente como eram na época.
Os gregos antigos chamavam de Oenotria a região sul da Itália, já reconhecida pelos seus vinhos. Mas especificamente, toda a parte que vai de Roma até Nápoles era considerada, já na época do Império Romano, como origem de alguns dos principais vinhos romanos, entre eles o popular Falernium. Na região estavam plantados vinhedos de excepcional qualidade, resultando em grandes vinhos locais, admirados pelo Imperador e Senadores que tinham vilas de veraneio na região.
A área ao redor de Pompéia era particularmente fértil, devido ao solo vulcânico e isso, aliado ao clima do sul da Itália, criou as condições perfeitas para o cultivo de uvas. E as evidências arqueológicas provam isso. Quando as videiras foram cobertas pela erupção vulcânica e mais tarde decompostas, deixaram cavidades nos escombros. E estas cavidades revelam vinhedos extensos, tanto fora como dentro dos muros da cidade. Além da produção de vinho, Pompéia também era um importante centro de distribuição de vinhos. Algumas de suas maiores vilas possivelmente seriam de posse de grandes comerciantes de vinhos e/ou vinícolas.
A cidade também era uma notável consumidora, havia mais de 200 tavernas vendendo vinho dentro dos muros da cidade. Mas o maior mercado era mesmo Roma, tanto que, após a erupção, o mercado de vinhos sofreu um abalo, com a destruição da maior fonte vinícola de Roma. Além disso, o impacto da erupção não foi apenas imediato. A safra de 78 foi destruída, assim como a de 79 e todos os vinhedos da região. A consequência teria sido uma grande escassez, seguida por uma corrida para plantar videiras em outros locais próximos a Roma. Isso comprometeu outros cultivos, como do trigo, por exemplo.
Esta situação teria levado a um rápido aumento na produção de vinhos, ao longo de toda a Itália, nos anos seguintes a erupção. E este pode ter sido um dos motivos por trás do edito assinado pelo imperador Domiciano. Em 92 D.C. ele proibiu a plantação de novas videiras em toda a Itália e a destruição de metade dos vinhedos em outras partes do Império, para privilegiar o comércio dos vinhos romanos.
Explorar os vinhos da Campânia pode ser uma viagem deliciosa pela rica história, terroir e variedades de uvas distintas da região, proporcionando aos apaixonados pelo vinho experiências de degustação únicas e memoráveis.
Então, gostou de conhecer um pouco mais sobre vinhos da Campânia? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
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