Os gregos, em particular, tornaram-se apaixonados por vinho e, por isso, a demanda sempre foi alta. Eles sabiam que os três elementos essenciais do bom solo, clima e tipo de videira poderiam se combinar para criar diferentes variedades de uva e sabor. Embora conheçamos muitas práticas culturais e a mitologia que envolve o vinho no mundo grego, foram os romanos que nos deixaram as melhores descrições do processo de produção.
Conduzir a vinha para crescer na altura ideal do solo (que depende das temperaturas e do vento locais), ao longo de uma treliça, se necessário, a distância ideal entre si e a poda regular para fortalecer a videira eram práticas conhecidas pelos gregos. As videiras podiam ser deixadas livres, apoiadas em apoios de madeira ou até cultivadas junto com outras plantas, especialmente a oliveira.
Este último método prevaleceu nas vinhas romanas com a melhor reputação de qualidade. Como a maioria dos ramos da agricultura, a viticultura era um investimento sério e as margens de lucro poderiam ser reduzidas se o vinho não fosse produzido em uma escala suficientemente grande. Como afirmou o historiador romano Varro, "existem aqueles que afirmam que o custo de manter uma vinha engole o lucro".
♦ FAZENDO VINHO - Os antigos conheciam muito bem o valor dos vinhos finos e distinguiam sua produção entre novos vinhos jovens para as massas ou exércitos no campo e vinhos mais maduros para o conhecedor. Certos lugares rapidamente ganharam prestígio como bons produtores de vinho, principalmente as ilhas gregas de Chios, Kos, Lesbos, Rhodes e Thásos.
Na Itália, vinhedos específicos como Caecuban e Falernian gozavam de grande reputação e foram endossados por autores como Plínio, o Velho, que escreveu extensivamente sobre o assunto. As colinas de Alban, perto de Roma, na região da Campânia e no nordeste da Itália, foram particularmente conhecidas por seus vinhos de qualidade.
A indústria tornou-se altamente lucrativa e foram impostas regulamentações, como indicado nas inscrições sobreviventes, relativas à venda de vinho, sua exportação e qualidade garantida. Além dos grandes produtores, a maioria das propriedades teria suas próprias vinhas para consumo privado. Em Pompéia, por exemplo, dois terços das moradias tinham vinhedos.
As uvas eram colhidas e depois prensadas sob os pés em grandes vasos de cerâmica, cestos, cubas de pedra ou em um simples piso de ladrilhos que levava a um canal de coleta. O processo tornou-se mais sofisticado com a invenção de prensas de viga e peso, o que aumentou a eficiência da operação e, posteriormente, evoluiu para prensas de parafuso ainda melhores a partir do século I A.D.
Muitas vinhas das ilhas gregas adicionaram água do mar ao mosto prensado para tornar o vinho mais suave e aumentar a acidez. Os vinhos eram brancos e tintos, os últimos ganhando sua cor ao deixar o mosto (bagaço e mosto) por mais tempo antes de pressionar o suco completamente. Uma cor mais tinta também foi alcançada envelhecendo o vinho por alguns anos e até expondo o vinho ao calor, armazenando-o acima das lareiras, ou deixados em ambiente quente.
O vinho era fermentado em grandes ânforas de armazenamento de terracota, tipicamente colocados parcialmente no chão em edifícios de teto aberto, que tinham paredes com aberturas para permitir um movimento fresco do ar. Quando pronto, o vinho era drenado e armazenado em ânforas de argila para transporte, geralmente seladas com uma rolha de argila ou resina. As ânforas destinadas à exportação geralmente eram carimbadas para indicar sua origem.
O vinho era vendido nos mercados e, no mundo romano, em lojas dedicadas especialmente para seu comércio. Os romanos valorizavam os vinhos brancos doces (que teriam sido muito mais turvos do que os vinhos de hoje devido ao processo de produção mais primitivo). Os cartagineses tinham um sabor semelhante, produzindo um famoso vinho branco doce feito de uvas secas ao sol.
O vinho era considerado melhor como uma bebida pura sem aditivos, mas, às vezes, produtores e vendedores sem escrúpulos adicionavam substâncias (qualquer coisa, de especiarias a mel), a fim de disfarçar o gosto de um vinho ruim ou um vinho que havia passado no seu melhor.
♦ BEBENDO VINHO - O vinho era uma bebida comum, relativamente barata e cotidiana nas culturas grega e romana clássica. Era bebido sozinho ou com as refeições. Os gregos diluíam seu vinho com água (1 parte de vinho para 3 partes de água), já que era muito espesso. Dissolviam em água quente e consumiam com água do mar, apesar de os macedônios escandalosamente beberem seu vinho puro.
Essa diluição ajudou a evitar o alcoolismo excessivo, que era (pelo menos pela elite) considerado uma característica das culturas estrangeiras "bárbaras" e amplamente parodiado nas peças gregas de comédia. A embriaguez também aparece em muitos mitos gregos como uma explicação para comportamentos terríveis e incivilizados, como a luta causada pelos centauros embriagados no casamento de Perithous.
Autores antigos alertaram sobre os perigos da embriaguez para a mente e o corpo. Aristóteles até escreveu um tratado sobre a embriaguez (atualmente perdido) e Plínio - o Velho, notou que o vinho pode revelar a verdade (“in vino veritas”), mas que essas verdades geralmente são melhor não ditas. Tais recomendações aprendidas, no entanto, sem dúvida foram ouvidas pelo povo comum e não impediram que nomes famosos como Alcibíades, Alexandre- o Grande e Marco Antônio ganhassem reputação de ferozes bebedores de vinho.
O vinho era bebido em ocasiões sociais, como o simpósio grego, ou festa da bebida, onde cidadãos de elite discutiam política e filosofia e se divertiam com músicos e cortesãs (hetairai). Recipientes especiais para beber desenvolvidos como o kylix de haste rasa, que poderiam ser facilmente levantados do chão por um bebedor reclinado em um sofá. Grandes vasos de cerâmica conhecidos como kraters foram feitos para que o vinho pudesse ser facilmente misturado com água. O equivalente romano ao simpósio era o convivium, onde mulheres respeitáveis eram adicionadas à lista de convidados e a comida tinha uma ênfase maior.
Além de ser uma bebida saborosa e socializante, o vinho tinha outras funções, como servir as libações aos deuses nas cerimônias religiosas. O vinho, geralmente mais saudável do que fontes não confiáveis de água, também era prescrito como remédio por médicos antigos. Porém, esse remédio deveria ser tomado com moderação, pois os antigos identificaram cedo os perigos do consumo excessivo, incluindo insônia, perda de memória, estômago distendido, alterações de caráter e morte prematura.
O vinho era uma dádiva dos deuses, mas não deveria ser exagerado, ou alguém acabaria encontrando-os mais cedo do que se esperava!!! Sáude!!!