O vinho vem sendo produzido no Douro há cerca de 2.000 anos. Desde o século XVIII, o seu principal produto, o vinho do Porto, é mundialmente conhecido pela sua qualidade. Esta longa tradição da viticultura produziu uma paisagem cultural de rara beleza que reflete sua evolução tecnológica, social e econômica.
Ao longo dos séculos, fileiras e mais fileiras de terraços foram construídas ao longo das suas encostas – algumas com declividade de 60 graus, de acordo com diferentes técnicas. A mais antiga, empregada na era pré-filoxera (pré-1860), era a dos socalcos, terraços estreitos e irregulares apoiados por paredes de pedra xistosa, que requerem manutenção contínua em que apenas uma ou duas fileiras de videiras podiam ser plantadas. As longas linhas de patamares contínuos de forma regular datam do final do século XIX e do início do século XX, altura em que as vinhas do Douro foram reconstruídas, na sequência do ataque da filoxera. Os novos socalcos alteraram a paisagem, não só pelas monumentais paredes erguidas, mas também pelo fato de serem mais largas e ligeiramente inclinadas para garantir uma melhor exposição solar das vinhas.
Ao longo das margens baixas do Douro ou nas margens dos cursos de água nas encostas existem pomares de laranjeiras, por vezes murados. A paisagem é recoberta de vegetação rasteira e mato e, aqui e acolá, uma copa de árvores alterna a visão com a vinha. A água costumava ser coletada em bacias hidrográficas ao longo de canais de pedra. As quintas do Douro são marcos importantes, facilmente identificados pelos conjuntos de edifícios agrícolas e adegas que circundam a casa principal nomeadamente no Alto Corgo e no Douro Superior.
A longa tradição produziu uma paisagem dramática, um cenário espetacular, que ganhou o status de Patrimônio da Humanidade em dezembro de 2001. Esta paisagem do Douro Vinhateiro é um exemplo notável da relação única do homem com o meio ambiente natural. A sua natureza é determinada pela gestão sábia dos recursos limitados de terra e água em encostas extremamente íngremes. É o resultado da observação permanente e intensa, da experimentação local e do conhecimento profundo de como adaptar a cultura da vinha a condições tão desfavoráveis.
A paisagem é uma expressão da coragem e determinação das pessoas, de sua perspicácia e gênio criativo na compreensão do ciclo da água e dos materiais, e de seu intenso, e quase apaixonado, apego à vinha. O enquadramento, na paisagem de várias formas de conduzir as vinhas, é um exemplo notável da capacidade humana de dominar os aspectos físicos e geográficos dos terrenos, criando uma imensa e extensa construção de socalcos.
Esta paisagem é um todo e está em constante evolução, agora com novas formas de terraço refletindo a disponibilidade de novas tecnologias. É um mosaico diversificado de plantações, bosques, cursos de água, assentamentos e edifícios agrícolas, dispostos como quintas (grandes propriedades) ou casais (pequenas propriedades).
O Douro Vinhateiro encontra-se dividido em três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. O Baixo Corgo, sob a influência direta da Serra do Marão, é a sub-região mais fresca e chuvosa, a mais fértil e com maior densidade de vinhas. O Cima Corgo é conhecido como o coração do Douro, onde nascem muitos dos vinhos do segmento superior do Vinho do Porto. O Douro Superior, sub-região de maior extensão, é a mais quente, seca e extremada, mas também a menos acidentada, marcada pela secura e pelos verões infernais.
Aliás, diz-se que no Douro há apenas duas estações climáticas anuais: um longo e quente verão que dura 9 meses e um inverno rigoroso de temperaturas extremas. O inferno e o inverno....
Partindo do Porto, onde o rio desagua no mar e onde os vinhos do Douro estagiam nos armazéns das empresas centenárias do comércio do vinho do Porto, existem várias formas de conhecer esta paisagem. Pode-se optar por um roteiro rodoviário, de trem, em um barco de cruzeiro ou até mesmo de helicóptero. Seguindo um percurso entre os miradouros que oferecem as melhores vistas, é necessário atravessar o rio de norte a sul e vice-versa. Mas ao longo do caminho você poderá admirar paisagens de cortar a respiração sobre o rio e visitar vinhas, vilas e aldeias até chegar a Miranda do Douro, ponto de entrada do rio em Portugal.
Descubra Vila Nova de Gaia com uma visita às “caves” onde o vinho do Porto envelhece. Aqui se avistam os velhos barcos rabelo do rio, as embarcações que transportavam as barricas do vinho das quintas onde é produzido até à foz, antes da construção das várias barragens que o tornavam navegável.
No Peso da Régua, o Museu do Douro vai dar uma perspectiva diferente sobre a região e a viticultura. Não muito longe, na margem sul, está Lamego, uma das mais belas cidades do Norte de Portugal, situada no sopé de uma imensa escadaria de azulejos azuis e brancos que conduz ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios. No Pinhão, junto ao rio, a estação ferroviária é obrigatória para admirar os seus antigos azulejos dedicados ao cultivo da vinha.
Antes de chegar ao Pocinho, pode fazer um desvio na margem sul para visitar o castelo de Numão e apreciar a vista sobre o horizonte. Um pouco mais a nascente encontra-se o Parque Arqueológico do Vale do Côa, uma galeria de arte rupestre ao ar livre, classificada como Patrimônio da Humanidade, e o anexo Museu em Vila Nova de Foz Côa.
Chegando a Barca de Alva, entra-se no Parque Natural do Douro Internacional, visto que o rio daqui até Miranda do Douro faz a fronteira entre Portugal e Espanha. Neste ponto, o curso do rio estreita-se, passando por entre altas escarpas até chegar à pequena localidade fronteiriça ao entrar em Portugal.
O Vale do Douro Vinhateiro, até Barca de Alva, é a mais antiga região vinícola demarcada do mundo. Primeiro, o rio esculpiu vales profundos na terra e depois o Homem transformou as montanhas de xisto em solo e paredes e plantou as vinhas, verdes no verão, cor de fogo no outono. Com o conhecimento transmitido de geração em geração, inclinou os terraços para expor as vinhas aos raios do sol que dão às uvas o calor que a vinha precisa.
E nada melhor que mostrar que este trabalho magnífico da mão do homem, transformou a uva num dos produtos únicos da vinicultura portuguesa e contar a história de algumas pessoas que foram fundamentais para este vinho alcançar a fama mundial.
Na semana que vem contaremos a história de dona Antónia Adelaide Ferreira, chamada carinhosamente de “Ferreirinha”, construtora de um verdadeiro império quando se fala de vinho. Saúde !!!
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