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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“UMA CABERNET CHAMADA FRANC”

Não há dúvida que a uva vem se tornando uma “queridinha” entre os amantes dos vinhos que o enólogo Alejandro Vigil faz na Catena e na Casa Vigil.

A casta Cabernet Franc já foi uma das principais uvas da região francesa de Bordeaux. Também conhecida como "bouchet” em Saint-Émilion, a casta foi mencionada pela primeira vez na região no século I. Hoje essa variedade de uva aparece em cortes com a casta Cabernet Sauvignon e a Merlot, dando origem ao famoso corte bordalês, muito celebrado na região que lhe conferiu o nome.


♦ HISTÓRIA - Apesar de ser conhecida com uma cepa francesa, sendo cultivada na região do Vale do Loire desde o século XVII e em Bordeaux desde o século XVIII, estudos genéticos recentes apontam que a Cabernet Franc tem sua origem no País Basco, tendo uma relação com as variedades Morenoa e Hondarribi Beltza.


Mais precisamente, a Cabernet Franc seria originária dos Pyrénées espanhóis, uma cordilheira no sudoeste da Europa, entre a França e a Espanha. A história dela remete à atual região do País Basco e seu nome significaria algo como "uva tinta dos francos" no idioma falado na região, um mix de Basco com Latim. Acredita-se que a uva Cabernet Franc chegou à França pelas mãos de peregrinos que voltavam de Santiago de Compostela.


♦ A UVA CABERNET FRANC - A Cabernet Franc é uma uva vigorosa, que floresce e amadurece cedo, cerca de uma semana antes da Cabernet Sauvignon, e é pouco suscetível às doenças que atacam as videiras.

O cacho da uva Cabernet Franc possui tamanho pequeno e cor violeta acentuada. Os bagos da casta são extremamente delicados e com formato redondo. A uva é muito cultivada na França, mas é utilizada na elaboração de vinhos extraordinários no Norte da Itália, no Vale do Maipo localizado no Chile, em Mendoza na Argentina e no Vale dos Vinhedos no Brasil.


A uva Cabernet Franc amadurece cedo, podendo ser cultivada em regiões de clima quente ou frio. A casta com o tempo perdeu muito espaço para as uvas Merlot e Cabernet Sauvignon na elaboração de vinhos tintos, entretanto, o que muitos não sabem, é que foi a casta Cabernet Franc que deu origem a casta Cabernet Sauvignon, já que foi o cruzamento da Franc com a Sauvignon Blanc que originou a conhecida e aclamada uva.


Em Bordeaux, dois vinhos de grande expressão têm a participação fundamental dela, o famoso Château Cheval Blanc e o Château Ausone, ambos da sub-região de Libournais, na margem direita do rio Dordogne.


A Cabernet Franc também produz excelentes exemplares varietais, principalmente no Vale do Loire, onde é a uva tinta principal, especialmente na região de Chinon. Está presente também em outros países como o Canadá, os EUA, o Chile e a Argentina. No Brasil já foi muito importante nas décadas de 1970 e 1980, contudo boa parte de seus vinhedos cederam lugar a outras uvas, principalmente a Cabernet Sauvignon e a Merlot.


♦ CARACTERÍSTICAS DA CABERNET FRANC

• Essa variedade, se comparada à Cabernet Sauvignon, tem a casca mais fina, menor acidez, menos taninos e maior intensidade de aromas;

• É muito resistente e não excessivamente produtiva;

• Amadurece cerca de uma semana antes da Cabernet Sauvignon, o que lhe confere adaptação a regiões um pouco mais frias, como o Vale do Loire por exemplo;

• Produz vinhos mais interessantes e densos em solos compostos por areia, argila e calcário;

• Quando utilizada em cortes com variedades mais robustas tem o objetivo de acrescentar maciez e aromas.


♦ O VINHO DA CABERNET FRANC - Os Vinhos Cabernet Franc são elegantes, contando com bom frescor, textura macia e médio corpo. No nariz, revelam aromas de frutas vermelhas e negras, como framboesa e groselha, notas minerais, nuances vegetais, como de pimentão, além de toques de especiarias.


♦ HARMONIZAÇÃO COM CABERNET FRANC - O vinho Cabernet Franc é um ótimo companheiro para carnes vermelhas, carnes de caça, cordeiro e javali.


Com base nas características de seus vinhos varietais, essa uva vai bem com pratos de peso médio ou leve, como carne vermelha grelhada ou assada sem molhos densos, por exemplo: filé mignon assado com manteiga e ervas finas, lombo de cordeiro assado ao molho de hortelã, pimentões recheados com carne moída, sopa de lentilhas com presunto defumado, escalope de avestruz com risoto de funghi secchi.

♦ A RECENTE ASCENÇÃO A CATEGORIA DE “QUERIDINHA” – Alejandro Vigil é atualmente uma celebridade emblemática da viticultura mendocina. Diretor de Enologia de Catena Zapata e criador dos vinhos El Enemigo, o enólogo acumula prêmios e menções por onde passa. A Vinícola Casa El Enemigo Vigil é uma porta aberta para a mente (e a mesa) de Alejandro, e uma vinícola que você não pode deixar de visitar quando for a Mendoza.


Conhecido por sua grande energia criativa e profundo conhecimento técnico, o trabalho de Alejandro Vigil foi decisivo para que os vinhos Catena Zapata chegassem a pontos superiores a 95+ em publicações como Wine Spectator, Wine Enthusiast, Wine Advocate e Decanter, com grande reconhecimento internacional de sua qualidade.

E os reconhecimentos não param por aí: o enólogo foi considerado “Ones to Watch” pela revista Decanter, por estar entre as pessoas mais influentes do mundo do vinho. Em 2018, Vigil recebeu 100 pontos Parker em dois vinhos: Gran Enemigo single Vineyard Gualtallary 2013 (um projeto pessoal em parceria com Adrianna Catena), e Adriana Vineyard River Stone 2016. Em 2019, a Casa El Enemigo Vigil ganhou o ouro internacional na categoria Arte e Cultura do concurso Best of Wine Tourism.


Pela maneira como se expressa, Alejandro está mudando a forma de comunicar e beber vinho. Em entrevista chegou a dizer que quando você parte da ideia de que “desse vinho eu gosto, desse vinho não gosto”, essa comunicação fica mais fácil. Quando se permitiu dizer isso, tudo mudou. Antes, se dizia “Ah, o vinho sempre é bom”.


Alejandro gosta de vinho com água com gás quando tem sede e aos domingos, bebe vinho com soda. Para ele o vinho precisa ser tomado como se gosta. Se você permite essa situação, de que cada um beber como preferir, aos poucos o vinho vai te levando, vai te sofisticando.


Segundo Alejandro, o vinho é “culturizador” – ele trata da dignidade do homem. É um trabalho artesanal e gratificante. O vinho não é uma profissão, é um ofício. Que pode ser transmitido por outro enólogo, pelo teu pai, pelo teu avô ou por quem seja. E ou você tem o “bichinho”, ou não tem. O vinho pode ser sua forma de ganhar a vida, ou sua forma de viver. No meu caso, é minha forma de viver. Eu faço vinho e quero que tomem. E sirvo.


Alejandro é disléxico. Não consegue separar sílabas, por exemplo. Tudo para ele é memória. Ele sabe que um vinho é o Enemigo não porque leia o rótulo, mas porque lembra que é assim a palavra. Lê as palavras por memória. E para ele isso se aplica ao vinho. Guarda os sabores, o tato, a textura. A dislexia, que poderia ser um problema, foi uma solução no caso dele, trabalhada com muita constância.


Sobre sua definição de Terroir - é muito difícil de definir. Escreveu há alguns anos: “a experiência centenária de cultivar um vinhedo e elaborar essa uva, desse vinhedo de um determinado lugar”. É a memória das pessoas. Você tem formas distintas de ver a vida: “Eu sou” ou “eu venho sendo”. O vinho é “venho sendo”. Porque as modificações do vinho que acontecem em um ambiente acontecem junto com as modificações pelas quais o homem passa. Nunca separadas. Falar de uva e vinho é muito complexo. Do ponto de vista filosófico, é quase ideológico. Mas, ao final, é simples: duas taças de vinho. Uma, eu gosto. A outra, não.


Contam que Alejandro se transformou em enólogo da Catena quando Nicolás (Nicolás Catena, patriarca atual da vinícola) pediu que ele fizesse um vinho especial para ele, e se apaixonou pelo resultado. O Nicolás Catena Zapata 2001 foi o vinho! E daí para frente é um sucesso após o outro a cada safra.


Seus vinhos varietais da casta Cabernet Franc, oriundos de vinhos no Vale do Uco, criaram um grande interesse nos amantes de vinhos altamente pontuados. Alejandro escolheu a Cabernet Franc para ser sua principal uva, subvertendo da lógica e saindo da zona de conforto, o que acabou por dar origem a vinhos simplesmente espetaculares e de caráter único, que surpreenderam a crítica internacional e mereceram elogios unânimes em todo o mundo.


Outro diferencial instituído por ele é a colheita múltipla, onde as uvas são colhidas em diferentes momentos de maturação, vinificadas separadamente e posteriormente são elaborados os cortes dos diferentes vinhos em proporções determinadas pelo enólogo, garantindo maior complexidade e alta qualidade.


O passo seguinte foi pensar na vinificação, onde o foco é a fruta. Para isso inicialmente foram usados ovos de cimento e piletas de concreto para a fermentação e barricas usadas de carvalho francês e americano para o amadurecimento. Posteriormente ele decidiu usar “foudres” de 3000 litros, trazidos da Alsácia.


Hoje o Gran Enemigo Cabernet Franc é produzido na forma de 4 distintos Single Vineyard: Agrelo, El Cepillo, Chacayes e Gualtallary (o mais famoso), todos com uma proporção de 85% de Cabernet Franc de cada vinhedo específico e 15% de Malbec. Além desses, também é produzido o Gran Enemigo Blend, cuja composição varia de acordo com a safra e pode conter Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e Petit Verdot com amadurecimento de 18 meses em carvalho francês e americano.


Falando especificamente do vinhedo de Gualtallary, as uvas são selecionadas em vinhedos de altitude, plantados a 1.470 metros acima do nível do mar em Tupungato, uma das mais nobres sub-regiões de Mendoza.


Ao longo das próximas semanas apresentaremos nos Vinhos da Semana bons rótulos da casta Cabernet Franc para você se iniciar nesta nova paixão!!!


Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).


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