Criar seu próprio vinho ou fazer parte de um Condomínio de Vinhedos já é possível em Minas Gerais.
Que Minas Gerais é terra do café com pão de queijo e do doce de leite com queijo, ninguém tem dúvida, e recentemente, que produz excelentes vinhos tem sido uma novidade e realidade. As terras altas de Minas – Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas e Cordilheira do Espinhaço, no Alto Jequitinhonha – estão desenvolvendo atividades vitivinícolas e já podem ser consideradas como áreas produtoras de vinhos finos no país, criando nestas regiões, importantes polos do enoturismo mineiro.
A atividade vinícola no Brasil, e em especial nas Minas Gerais é antiga, pois o vinho era servido em banquetes na época do Brasil Colônia, com iniciativas de plantio de vinhas e produção locais. Como consequência, em 1785, Dona Maria I baixou um alvará proibindo de vez a atividade manufatureira nas colônias, a fim de que Portugal reavesse seu domínio econômico, e embora pudesse continuar cultivando as uvas, o Brasil não podia mais transformá-las em vinho.
Além disso, outro agravante já vinha prejudicando as vinícolas que haviam se instalado no Brasil colonial, desde três décadas antes: em 1756, na intenção de compensar eventuais prejuízos na exportação de vinho para a Inglaterra, a Coroa também decidiu que uma cota do vinho consumido no Brasil deveria ser o Porto lusitano.
Com a vinda da Coroa Real Portuguesa para o Brasil em 1808, fugindo de Napoleão e suas conquistas pela Europa, a situação se alterou, com a chegada de profissionais e mão de obra especializada, além de um aumento significativo de demanda pela bebida. Sem dúvida, a chegada de Dom João VI impulsionou a produção vinífera brasileira.
Com a queda de Napoleão, e consequente retorno da família real para Portugal, e a Independência do Brasil em 1822, com o príncipe tornando-se Dom Pedro I, Imperador do Brasil, iniciam-se fluxos migratórios a partir de 1824, para ocupar o sul do Brasil (região cuja dominação estava constantemente ameaçada pelas guerras com Uruguai, Paraguai e Argentina), surgindo as primeiras colônias alemãs, no Rio Grande do Sul e em 1871 novos fluxos trazem famílias, principalmente de origem italiana, para a Serra Gaúcha, portando consigo a cultura do vinho, enraizada no território italiano desde a época do Império Romano, e fundando assim boa parte das vinícolas nacionais que perduram até os dias de hoje.
Neste meio tempo, as terras de Minas Gerais eram visitadas por Augustin François César de Saint-Hilaire, um naturalista e botânico francês que veio conhecer e demarcar a região da nascente do Rio São Francisco, entre 1816 e 1822, e que numa das viagens pela Serra da Mantiqueira observou que as videiras produziam um fruto que lembrava as suas origens francesas. O Inverno da Serra da Mantiqueira ofereceu ao viajante um sinal de que havia algo semelhante entre clima local e o frio de Orléans, cidade localizada a 125 quilômetros a Sudoeste de Paris.
Inspirado pelo naturalista francês que veio ao Brasil aprofundar seu conhecimento sobre a flora brasileira, o engenheiro agrônomo Murillo de Albuquerque Regina, enquanto fazia o aperfeiçoamento de suas pesquisas e concluía o seu doutorado na França, percebeu que o inverno na região da Serra da Mantiqueira guarda semelhanças com o clima das grandes regiões produtoras de vinho na Europa, Murillo passou a aprofundar os seus estudos até chegar a um conceito de que poderia inverter o ciclo natural da videira, de forma que sua maturação ocorresse no Outono/Inverno e não no Verão como ocorre no sul do Brasil (época em que as chuvas são constantes em Minas).
A poda invertida, também chamada de “dupla poda” ou “vinho de inverno”, criada por Murillo Regina, resultou no plantio de vinhedos na região Sudeste e Centro Oeste do Brasil, exatamente onde a técnica vem dando resultado. Na prática, a pode invertida “engana” a planta, fazendo com que ela se desenvolva no ambiente propício para a uva produzir o vinho fino. Geralmente, uma poda é feita em meados de agosto e outra no início do ano. Com a segunda poda, em janeiro, com irrigação e com o uso de um hormônio (o dormex, uma solução que atua na quebra de dormência do cultivo da maçã, uva e outras frutíferas, contribuindo com uma brotação mais uniforme e vigorosa, melhorando e facilitando o manejo do pomar), o ciclo recomeça e a planta floresce em abril e maio.
As uvas nesta técnica são colhidas no fim de julho, início de agosto, no auge do frio. Nesta época da colheita, os dias são bastante ensolarados (até 27ºC), e as noites mais frias (cerca de 10ºC) e esta amplitude térmica (diferença entre a temperatura do dia e da noite) cria matéria-prima de excelência para a produção de vinho. A técnica deu certo, mas não é tão fácil como a explicação indica. Nem todas as variedades se adaptam bem – a syrah, nas tintas, e a sauvignon blanc, nas brancas, têm se mostrado as mais promissoras.
Embora a produção de vinhos em Minas Gerais, que está despontando em qualidade, seja relativamente recente em comparação com regiões tradicionais, a diversidade de uvas cultivadas é notável. Conhecida por seu clima tropical, Minas Gerais apresenta uma geografia diversificada que influencia diretamente o terroir vinícola da região. O “Mar de Morros” que cruza o estado não apenas proporciona uma paisagem espetacular, mas têm um papel fundamental na criação de microclimas ideais para o cultivo de uvas viníferas.
As vinhas em Minas Gerais são frequentemente plantadas em altitudes que variam de 800 a 1.300 metros acima do nível do mar. Essa elevação confere às uvas amplitudes térmicas significativas entre o dia e a noite, resultando em vinhos com boa acidez e equilíbrio. Além disso, a amplitude térmica contribui para a maturação lenta das uvas, intensificando aromas e sabores.
O solo, caracterizado por sua composição variada, incluindo xisto e quartzito, acrescenta complexidade, a mineralidade desses solos se traduz nos vinhos, proporcionando-lhes caráter e profundidade únicos.
A vitivinicultura em Minas Gerais está marcada por uma notável busca pela inovação, e os produtores locais, muitas vezes pequenos em escala, têm investido em técnicas modernas de vinificação e gestão de vinhedos para aprimorar a qualidade de seus vinhos.
O SONHO DE FAZER SEU PRÓPRIO VINHO É POSSÍVEL - Um dos mais de 50 projetos em desenvolvimento usando a técnica de poda invertida e plena produção de vinhos em Minas Gerais é o Alma Gerais, com duas áreas de vinhedos, uma no distrito de Macaia em Bom Sucesso (a 30 minutos de Lavras, no Sul de Minas), com quatro hectares de vinhedos plantados dentro do condomínio Vivert Reserva da Mata (com previsão de chegar a 10,5 hectares), e outra em São Gonçalo do Sapucaí, com mais 6 hectares de vinhas em uma área de maior altitude.
A Alma Gerais é uma das primeiras vinícolas do Brasil dentro de um condomínio residencial. A proposta inovadora é aliar bem-estar e qualidade de vida dos moradores com o cultivo das uvas e a produção de vinhos por seus associados, que terão a oportunidade de acompanhar e fazer parte de todo o processo.
No Condomínio Vivert, localizado nas margens da represa do Funil, navegável e que possibilita vários esportes aquáticos, os empresários e irmãos Alessandro Rios e Antônio Júnior estão construindo uma Enovila, na qual a proposta é de cada proprietário ter o direito a utilizar uma casa por uma semana a cada quatro meses e, assim, acompanhar as diversas etapas de desenvolvimento do vinhedo (vivenciando as podas, a floração e colheita das uvas) e a própria elaboração do vinho que terá seu próprio rótulo.
Os irmãos conquistaram uma citação no mais importante anuário de tendências do mercado premium, com o Vivert. O projeto imobiliário é inspirado no movimento “slow cities”. Quem escolhe o Vivert está em busca de autoconhecimento e contato com a natureza.
O conceito captou o maior desejo das pessoas atualmente: encontrar a reconexão com as coisas simples da vida. Em uma área de 2 milhões de m², mais de 400 mil metros de Mata Atlântica, transformada em reserva nacional, o Vivert oferece 270 lotes e 30 bangalôs - um estilo de comunidade, com exclusividade. Clube, marina, pista de corrida, circuito de triathlon, horta e pomar orgânicos, centro de meditação e trilhas fazem parte deste sonho.
O projeto da Enovila é arrojado e consistente, com investimento total de R$ 140 milhões, incluindo vinhedos e vinícola, um restaurante e um winebar flutuante, que serão inaugurados em julho. A consultoria técnica do projeto conta com Murillo Regina e ainda Mario Geisse, Rene Vasquez (que trabalha com Geisse em vários projetos) e o enólogo residente Thiago Sfreddo Hunoff, que fazem as várias vinificações e criam os blends. Já é possível provar brancos de Sauvignon Blanc com passagem em tanques de inox ou em tanque de concreto em formato de ovo. Com a Syrah, há vinhos com passagem por barricas de carvalho, ou oriundos de parcelas diferentes do vinhedo. Neste projeto, a ideia é que, além do vinho Alma Gerais, o associado da Enovila possa fazer o seu próprio vinho, bem como resolver a quantidade de garrafas que quer produzir para consumo próprio ou presentear amigos e a família.
Outro detalhe importante no projeto da Enovila é que a gestão da parte complicada e burocrática que afasta as pessoas do sonho de serem produtores de vinho ficará nas mãos dos idealizadores do projeto, que já atuam no mercado alimentício, em empresas como Jeito Caseiro (indústria de pães congelados), Verde Campo (laticínios) e Vida Veg (substitutos lácteos veganos), todas em Lavras/MG, deixando para os associados a parcela mais encantadora e apaixonante de criar seu próprio rótulo.
A dedicação à excelência dos produtores mineiros tem sido reconhecida em competições nacionais e internacionais, onde vinhos têm conquistado medalhas e elogios e em breve, para os entusiastas do vinho, o turismo enológico pela Enovila, provando seus vinhos, harmonizados com a gastronomia em seu restaurante, será uma jornada memorável.
O artigo é um convite a provar os aromas e sabores dos Vinhos Mineiros e em breve visitar a Alma Gerais! Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
Commentaires