Nesta semana continuamos escrevendo sobre o belo roteiro preparado pela Zênithe Travelclub de Belo Horizonte, comandado por Mariella Miranda e Germán Alarcón-Martin, que levou 24 participantes a conhecer a região da Campanha Gaúcha.
VINÍCOLA GUATAMBU - a vinícola está instalada em Dom Pedrito, na latitude 31, numa linda propriedade em estilo espanhol, que de certa forma é a arquitetura predominante no Pampa. Conta com 3.000m² de instalações de alta tecnologia para elaboração de vinhos finos e espumantes, sendo que todos os rótulos são produzidos a partir de uvas de vinhedos próprios. Todos os espaços foram compostos com referências da cultura do pampa gaúcho, incluindo salão de eventos, auditório, loja com os rótulos da Guatambu e produtos artesanais da região.
A Estância Guatambu é uma empresa familiar com atuação no agronegócio desde 1958. Atualmente está sob o comando da terceira geração, e visando diversificar seus produtos, iniciou em 2003 o projeto de produção de uvas viníferas, aproveitando do clima subtropical, com verões ensolarados, secos e quentes, com mais de 2.500 horas de sol, e invernos frios e úmidos.
Em Dom Pedrito, em plena fronteira com o Uruguai, a produção das uvas é marcada por um terroir com mais de 2.300 horas de luminosidade durante o período vegetativo da videira, verões secos, aliado ao apropriado solo que deriva de rochas granulíticas, o vento minuano e uma amplitude térmica de 14ºC, garantindo a maturação fenólica das uvas e a opulência de seus vinhos.
Os vinhedos compreendem 20,5 ha das variedades Chardonnay, Sauvignon Blanc, Gewürztraminer, Tempranillo, Merlot, Tannat, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir. As mudas são de clones franceses e italianos que se adaptaram muito bem ao solo e clima da Campanha Gaúcha. Os vinhedos são cultivados em espaldeira com densidade de 3.000 plantas por ha, e a condução é feita no sistema cordão esporonado duplo ou guyot.
A produção em pequena escala é liderada por Gabriela Hermann Pötter, Agrônoma e Msc em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, membro da terceira geração da família proprietária da Guatambu, juntamente com a enóloga Amélia Leite e a assessoria do enólogo uruguaio Alejandro Cardozo.
O nome da Estância vem da árvore brasileira com grande porte, bastante firme e resistente, valores desta empresa familiar com atuação no agronegócio desde 1958, diversificando sua atividade com a implementação da atividade enológica.
Provamos sete rótulos durante a visita à vinícola, e me chamou a atenção o Luar do Pampa Sauvignon Blanc 2021, vinificado com uvas colhidas manualmente nos vinhedos da Guatambu, e logo após ficaram 24 horas em câmara fria. Após foi realizada a seleção de cachos, as uvas foram desengaçadas e prensadas sem contato com oxigênio. O mosto foi clarificado e após fermentado a baixa temperatura (12°C), não sofrendo fermentação malolática, a fim de ressaltar sua acidez. O vinho tem cor amarelo bem claro, com reflexos esverdeados, mostrando a jovialidade da safra, aromas intensos de maracujá azedo, goiaba e notas de pimentão verde. No paladar a acidez é marcante e potencializa as notas delicadas de fruta tropical e toques de menta, pimentão e broto de tomate. O vinho tem um final persistente e que convida ao segundo gole.
A Vinícola Guatambu acaba de conquistar várias premiações no Guia Descorchados 2022, concurso que consagra os melhores vinhos do país. Seus vinhos mais premiados: Guatambu Nature Blanc de Blancs - 92 pontos, Melhor da Campanha Gaúcha Espumante Isadora - 91 pontos, Melhores Rosés e Melhores da Campanha Gaúcha Lendas do Pampa Tannat - 90 pontos,
VINHETICA – A Vinhetica está instalada em Santana Do Livramento (RS), em plena Campanha Gaúcha, fronteira com o Uruguai. A Vinhetica (junção das palavras vinho e ética) é uma nova vinícola brasileira com sotaque francês, já presente nos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Gramado, e em breve em Belo Horizonte.
A Vinhetica é um projeto que nasceu do sonho de produzir um vinho ético e sustentável no Brasil. As uvas têm origem em vinhedos de pequenos produtores da Campanha Gaúcha, da Serra Gaúcha e do Planalto Catarinense e a primeira safra nasceu em 2014; desde então os rótulos são produzidos em vinícolas parceiras.
Por trás deste projeto está o francês Gaspar Emmanuel Desurmont que chegou no Brasil no 2010, procurando por um projeto novo de vida, começando a viajar pelo país para identificar terroirs, e iniciar o seu sonho em elaborar, em primeiro lugar os vinhos, e depois outros produtos gastronômicos que valorizem culturas rurais integradas, com compromisso de sustentabilidade e prática de comércio justo. Acabou se fixando na Campanha Gaúcha.
Eles trabalha com pequenos viticultores de agricultura familiar com os quais faz um acompanhamento direto dos vinhedos, dispersados pela Campanha Gaúcha, em 2014 lançou seus primeiros rótulos vinificados na Vinícola Guatambú. Em 2016, numa área de 70 ha, iniciou o projeto rural integrado no Terroir do Vigia, produzindo carnes suínas, e Queijos de Ovelha. Hoje trabalha criando vinhos com castas variadas, algumas nada habituais na região como Alvarinho, Arinto, Baga e Saperavi e as clássicas como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Tannat, Cabernet Franc, Petit Verdot e Syrah.
Gaspar é casado com a Sommelier carioca, Graciela Bittencourt, totalmente comprometida com este projeto sustentável, que produz pães e queijos artesanais, existindo a intenção futura de construir uma cantina e estrutura para recepção em termos de enoturismo.
Durante a visita e degustação de seus vinhos provamos: 1- Terroir d´Effervescence Brut, o 2- Vinhética Sauvignon Blanc 2021 feito em barricas de madeiras brasileiras como jequitibá, 3- Terroir Rosé 2021 e 4- Fortão da Vigia 2021 e 5- Terroir d´Elegance 2018.
O Vinhetica Terroir d´Effervescence Brut Blanc é feito pelo método Champenoise, mostrou aromas de frutas brancas, como abacaxi, maçã verde e uma nota de panettone, de levedura. Muito equilibrado, com excelente cremosidade. Persistente e extremamente elegante e refrescante. Altamente recomendável.
Já o Terroir de Rosé 2021, bem fresco, tem cor rosa intenso, com aromas de violeta, flores do campo, frutos secos, amoras e framboesas, e notas de limão siciliano. No paladar é elegante, combinando frescor e untuosidade, com retrogosto persistente.
VIÑAS DEL 636 - Situada em torno do marco 636 da linha de demarcação territorial divisória entre Brasil e Uruguai, nas proximidades do Cerro do Chapéu. Eis a origem do nome desta Bodega, pequena e familiar que tem alguns de seus rótulos grafados à mão.
É literalmente um Bodega Boutique que produz vinhos artesanalmente de qualidade de pequena escala. Thiago Gutierrez é o seu enólogo com formação no Chile, e quem comanda a vinícola juntamente com seu Pai, Jorge. São apenas 7 há, dos quais 4,5ha de vinhas muito bem cuidadas com as castas Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat.
Os solos da vinícola onde as vinhas foram plantadas, se encontram nas altitudes mais elevadas do Uruguai, chegando a 300 metros acima do nível do mar, a altitude junto a latitude onde está localizada a adega, possibilitam a ampla gama de temperaturas, com dias quentes e noites frescas, ideal para uvas de qualidade, os solos de areia vermelhas são propícios para produção de uvas de alta qualidade por ser muito férteis e profundos, com excelente drenagem, impedindo a acumulação de água tendo ao mesmo tempo, stress para o caso de déficit hídrico, devido às raízes profundas que crescem neste tipo de solos.
O clima da visita e degustação foi super acolhedor, com Thiago e esposa nos recebendo e explicando os detalhes desde as variedades de uvas plantadas, até a produção dos vinhos branco, tintos e rosé de maneira simples para o entendimento de qualquer enófilo e ao mesmo tempo com grau de profundidade para esclarecer todas as dúvidas.
Durante a degustação os vinhos foram harmonizados com torradas e pastas produzidas pela mãe do Thiago, difíceis de dizer qual a melhor. De forma geral os vinhos têm preços acessíveis, sendo fáceis de beber e gostar.
Foram provados 8 rótulos diferentes, e acabei me encantando pelo Synergia 2018, um vinho co-fermentado a partir de 68% Tannat, 16% Cabernet Sauvignon e 16% Merlot, com aromas de muita fruta madura, sendo um vinho não filtrado e não clarificado. É possível haver formação de cristais de tartarato de potássio nas rolhas. Foi a garrafa que eu trouxe desta visita e degustação.
Semana que vem continuaremos falando sobre os vinhos que provamos na Campanha Gaúcha. Saúde !! Aproveite para comentar se gostou ou não!!!
(Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).
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