À medida que a pandemia criou o afastamento dos grupos de amigos e o mercado on-line e delivery passou a atender a demanda por vinhos e outras bebidas, o amante de vinho percebeu que o seu consumo certamente cresceu. Se antes era quando o final de semana se aproximava, e as pessoas consumiam garrafas de vinho em bares, restaurantes e residências ao redor do mundo, prontas para descontrair e relaxar, agora isto tem sido muito mais frequente. E uma pergunta que vale a pena ser feita é se o vinho é bom para o seu coração: verdadeiro ou falso?
Esta relação com o vinho tem uma longa história, cerca de 8.000 anos! A vinícola mais antiga conhecida, datando de 4100 a.C., foi descoberta em 2010 por arqueólogos em uma caverna na Armênia. O vinho era usado em cerimônias pelos egípcios, comercializado pelos fenícios, homenageado pelo deus grego Dionísio e pelo deus romano Baco. Em 2014, a humanidade consumia mais de 24 bilhões de litros de vinho todos os anos em todo o mundo.
Então, por que o vinho é tão popular? Além de seus sabores e capacidade de ajudar as pessoas a relaxar, o vinho ganhou uma espécie de reputação como um álcool “saudável” - com pesquisadores no passado observando associações entre o consumo de vinho tinto na França e menor incidência de doenças cardíacas.
No entanto, o consumo de vinho também é conhecido por aumentar os riscos de problemas graves de saúde, incluindo cirrose hepática, morte cardíaca súbita, cardiomiopatias alcoólicas e distúrbios do ritmo cardíaco. O consumo excessivo e o mau uso crônico de álcool são fatores de risco que contribuem para o aumento da doença global.
Como o bebedor médio sabe em que e quem acreditar? E quanto vinho beber é seguro?
Pesquisadores médicos têm estudado o assunto e algumas publicações fazem uma análise aprofundada da anatomia do vinho. Isso incluiu a análise dos riscos e benefícios do consumo, comparações com outras bebidas alcoólicas e uma discussão sobre os benefícios para a saúde muito divulgados do vinho.
♦ VINHO E DOENÇAS CARDÍACAS - A intriga científica moderna em torno do vinho cresceu imensamente desde a década de 1970, quando grandes estudos internacionais relataram pela primeira vez uma ligação entre o consumo leve a moderado de álcool e taxas mais baixas de ocorrência de doença isquêmica do coração (DIC) e mortes associadas. DICs são um grupo de doenças caracterizadas pela redução do fluxo sanguíneo para o coração e são responsáveis por mortes significativas em todo o mundo.
Resultados semelhantes foram relatados individualmente para vinho, especificamente vinho tinto. Este fenômeno foi eventualmente cunhado como “o paradoxo francês” após Renaud e de Lorgeril, dois cientistas que se tornaram conhecidos por este trabalho, observaram um risco relativamente baixo de mortalidade associada a DIC em bebedores de vinho tinto, apesar do consumo de uma dieta rica em gordura saturada.
Isso significa que o vinho tinto é bom para o coração? Esta é uma questão complexa e ainda não há consenso sobre a resposta. Mais de um fator precisa ser considerado para explicar essa situação. Os padrões de consumo de álcool, as características do estilo de vida e a ingestão alimentar são importantes para os indivíduos obterem um perfil cardiovascular saudável.
A dieta mediterrânea foi apresentada como uma explicação. Essa dieta enfatiza o consumo de alimentos vegetais, além do consumo moderado de vinho tinto, e foi rotulada como benéfica por comitês consultivos científicos.
Na dieta mediterrânea, o baixo consumo de gordura saturada, ênfase em um estilo de vida saudável e, de forma mais independente, ácido alfa-linoléico (um ácido graxo essencial) e vinho tinto, pode permitir que esta dieta confira os benefícios cardioprotetores pesquisados.
♦ COLESTEROL, INFLAMAÇÃO, PRESSÃO ARTERIAL - O vinho tinto contém mais de 500 substâncias químicas diferentes. Uma classe, chamada de “polifenóis”, foi amplamente investigada por conferir os efeitos antioxidantes e antiinflamatórios aparentes do vinho tinto.
Acredita-se que o álcool e os polifenóis tenham vários impactos positivos na saúde. Um é uma contribuição para um aumento no colesterol HDL ou “colesterol bom” e uma diminuição na oxidação do LDL ou “colesterol ruim”. Eles também contribuem para a diminuição da inflamação. Acredita-se que eles aumentem a sensibilidade à insulina. E eles são entendidos para melhorar a pressão arterial.
Não existe um padrão consistente quando o vinho é comparado a cerveja e destilados. Alguns relatam a superioridade do vinho em uma redução de DIC e mortalidade. Outros relatam isso para cerveja e destilados. Outros sugerem que não há diferença. Isso sugere que o álcool e os polifenóis contribuem para explicar o paradoxo francês, além dos fatores de estilo de vida.
Apesar dos efeitos benéficos do consumo de vinho e álcool, beber ainda é um potencial fator de risco para fibrilação atrial, a “alteração de ritmo” mais comum do coração.
♦ QUANTO VOCÊ PODE BEBER? - Em grande parte da pesquisa, os efeitos adversos foram cada vez mais observados com o consumo excessivo de vinho, enquanto a ingestão de baixa a moderada reduziu os riscos de DIC e mortalidade.
Em resposta, vários órgãos governamentais surgiram com diretrizes para o consumo de álcool. Estes seguem padrões semelhantes, mas variam notavelmente por país e fonte. E a definição de “uma bebida padrão” usada em cada diretriz é altamente variável e discrepante entre as fronteiras dos países. Isso causa grande confusão. Os leitores devem ser cautelosos com isso ao interpretar as diretrizes de consumo de álcool.
A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de álcool de baixo risco, não mais do que dois drinques padrão por dia (150ml por taça), com pelo menos dois dias sem beber durante a semana. Aqui, uma bebida padrão é definida como 10 g de etanol puro. Mas lembre-se que os vinhos agora têm cada vez mais álcool como resultado da fermentação das uvas maduras.
A American Heart Association recomenda álcool com moderação - menor ou igual a uma a duas taças (150 ml) por dia para homens e uma taça por dia para mulheres.
O Dietary Guidelines for Americans 2015-2020 desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos recomenda um consumo moderado de álcool. Isso equivale a até duas taças padrão (150 ml) por dia para homens e uma para mulheres. Aqui, uma bebida padrão é definida como 14 g de etanol puro.
♦ OPORTUNIDADES DE PESQUISA FUTURA - Os dados observacionais sobre o consumo de álcool e a saúde cardíaca sugerem que uma ingestão leve a moderada, em quantidades regulares, parece ser saudável. No entanto, quando modelos matemáticos foram aplicados para determinar a causalidade (uma abordagem conhecida como randomização Mendeliana), os resultados foram misturados.
Alguns estudos descobriram que o consumo de álcool leve a moderado é benéfico, enquanto outros relataram que o consumo de álcool a longo prazo é prejudicial para o coração.
Para os médicos, é bastante claro o que recomendar aos pacientes quando se trata de dieta, exercícios e tabagismo. Dadas as inconsistências nas descobertas relacionadas ao álcool, e especificamente ao vinho, as recomendações para o consumo são menos óbvias.
Também para os bebedores de vinho, as respostas definitivas sobre vinho e saúde permanecem indefinidas. Existe, no entanto, um imenso potencial de pesquisa nesta área para o futuro.
Em resumo, neste momento, ao que tudo indica o mais seguro é o que a Organização Mundial da Saúde recomenda como consumo de álcool de baixo risco, não mais do que dois drinques padrão por dia (150ml por taça), com pelo menos dois dias sem beber durante a semana. E não deixe de praticar exercícios. O sedentarismo pode te matar, apesar de ser bebedor de vinho !!! Saúde !!! (Resultado de pesquisas na internet).
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