Em tempos de deixar ao lado os preconceitos vínicos contra os rosés, está mais que na hora de quebrar paradigmas e descobrir que esse estilo pode surpreender você.
Durante o mês de maio visitamos a região da Provence, num Roteiro de Vinhos e Gastronomia cuidadosamente preparado por Mariella e German da Zenithe Travelclub (https://www.instagram.com/zenithe.travelclub/ ), e depois de uma peregrinação de uma semana pela Provence, podemos dizer que não há estilo mais versátil na hora de harmonizar com receitas culinárias. O rosé, entendido por muitos como o “meio do caminho” entre tintos e brancos, tem estrutura de sobra para suportar pratos de maior ou menor peso.
O rosé é um dos vinhos mais versáteis com comida. Vai bem com carnes leves, salmão, frutos do mar em geral (como anéis de lula, camarões, entre outros), hambúrguer, paella, e pratos da culinária asiática e japonesa, porque possui acidez e taninos na medida certa.
Muita gente diz que parte do preconceito contra os rosés é porque geralmente não obtém considerações dos grandes críticos. Outros dizem que os rosés possuem baixo teor alcoólico, mas muitos rosés secos de hoje em dia buscam uma graduação alcoólica que assegure a fermentação de todo o açúcar, evitando que o vinho se torne excessivamente doce, de forma que a maior parte dos provençais alcancem 14% de volume alcoólico ou mais, uma vez que a região recebe mais de 3.000 horas de sol por ano, propiciando uma perfeita maturação das uvas.
Pior fica ainda, quando algumas pessoas dizem que é um vinho para mulheres, que não tem o mesmo paladar que os homens. Será que os machistas ainda não descobriram o prazer que um rosé pode proporcionar? E, quanto ao rosé, é certo que possui mais corpo que um branco e pode concentrar sabores tão interessantes quanto os de um tinto bem-elaborado.
Outras pessoas, menos informadas dizem que o rosé é uma mistura de vinhos, ou que são utilizadas as uvas de pior qualidade para a sua produção. O rosé nunca foi, nem em sua origem, muito menos na atualidade, uma mistura de vinhos, a fim de obter sua coloração. Isso é puro mito! É até possível se produzir um rosé desta forma, mas sua essência de qualidade não tem nada a ver com este processo de misturar vinhos. O processo de elaboração dos bons rosés se dá pelo contato das cascas com o mosto (suco da uva), por pouco tempo, o suficiente para transmitir a cor desejada. E é desta forma que os produtores sérios produzem seus vinhos.
Os rosés são mais delicados que os tintos, sendo que possuem menos substâncias antioxidantes para protegê-los de contaminações e reações químicas indesejáveis. Portanto, um bom rosé requer uvas da máxima qualidade e maior higiene no processo de produção, assim como uma maior atenção por parte dos enólogos.
No Brasil, na década de 1970, o rosé chegou a ser o vinho mais vendido no mercado e depois entrou em declínio, por conta dos preconceitos e acabou sendo superado pelo vinho branco e espumante, já que o tinto sempre foi a opção preferida do brasileiro.
Durante a viagem encontramos uma Provence quente, em dias que antecediam a chegada do verão europeu. É um fato inegável, o amor do francês pelo vinho rosé. Enquanto bebem cada vez menos vinho, o consumo de rosé aumentou 53 % em quinze anos e essa cor agora representa um terço dos vinhos tranquilos (ou seja, sem bolhas) no país. Sem surpresa, os franceses são os maiores consumidores do mundo quando se fala em vinho rosé: 35 % das vendas mundiais acabam sendo bebidas em taças francesas. Além de grandes bebedores de rosés, os franceses sabem produzi-los de forma excepcional.
A França produz rosé em todos os lugares, do Loire à Alsácia através do Moselle, do Vale do Rhône a Bordeaux via Languedoc e o Sudoeste. Mas a Provence é a estrela indiscutível. Com seus rosés tão pálidos que eles se tornam translúcidos, cujas exportações explodiram por mais de 500 % em dez anos, é o sucesso mais radiante do vinho do mundo.
As celebridades e estrelas do cinema de repente se apaixonaram pela vinha provençal, que agora está entre seus domínios: Brad Pitt, George Clooney, Ridley Scott, George Lucas, para Tony Parker, Patrick Bruel, o casal Sarkozy. É necessário imaginar, é claro, a explosão do valor das terras na região, que todos esses moradores e todos esses investimentos resultaram em transações milionárias, e os efeitos nas transmissões familiares por herança.
Mas essa atração leva a outro fenômeno muito lógico e muito mais pernicioso para o futuro da região: a liberação dos preços das garrafas com rótulos da AOC Côtes-de-Provence. Pode-se provar deliciosos rosés por menos de 15 euros com muita frequência, mas agora, encontra-se uma parte deles a assustadores 20 e 40 euros por garrafa, às vezes mais. Existe um mercado para esse tipo de produto de luxo e muito melhor?
Mas quanto tempo vai durar esse mercado de rosés muito caros? Quem vai querer colocar no seu orçamento uma garrafa de um vinho criado para o verão? Sejamos honestos, produzir rosé não é caro. Outras regiões testemunham isso. Basta ter uvas de qualidade geralmente destinadas a produção de vinho tinto, e ter equipamentos para produção de vinho branco. Não há necessidade de armazenamento em estoque por longo tempo, imediatamente fermentado e vinificado, imediatamente engarrafado, vendido imediatamente, o caixa da empresa agradece.
Comparando com um Bordeaux de preço como 30 euros e mais, que já são bons vinhos para acompanhar gastronomia, que já são vinhos de guarda (até 8 a 10 anos em média), a maioria dos rosés será bebida muito antes dos três anos após a vinificação. Eles não desenvolverão aromas terciários. Uma vez os aromas da juventude “desmaiarem”, não haverá mais nada na garrafa.
A Revue du Vin de France realizou no mês de maio, antecedendo o verão europeu, uma degustação às cegas, entre provadores escolhidos a dedo (críticos e sommeliers reconhecidos e respeitados), comparando Rosés de Provence e Rosés de Bordeaux. O resultado acabou surpreendendo: falharam em reconhecer o gosto dos vinhos relacionados à sua região de origem. Clima diferente, variedades diferentes de uvas, preços diferentes ... tiveram resultado semelhante nas taças. Existem duas razões para isto: Primeiro de tudo, por falta de experiência, ou seja, o consumo de rosés cresceu muito rapidamente para os profissionais terem tempo de se acostumarem a distinguirem as tipicidades de cada região. Segundo: porque os rosés são frequentemente um produto de tecnologia e enologia, sem necessariamente refletir o seu terroir. No entanto, se você pode produzir praticamente o mesmo vinho em todos os lugares ou quase, por que pagar mais de 15 euros pela garrafa?
Claro, existem exceções! Entre os belos Rosé provados na viagem pela Provence, posso citar o Eternelle Favourite 2022 do Chateau Saint-Martin, feito a partir das uvas Tibouren, Grenache e Cinsault, muito aromático, com notas de violeta e rosa e sabor de framboesa. O Le Cirque de Grives 2021 do Chateau La Gordonne, criado a partir das uvas Grenache e Cinsault, de cor muito clara, um rosé pálido, com nariz rico e fresco, com notas de pêssegos brancos enriquecidas por aromas florais delicados. No paladar tem um amplo ataque, com notas frescas e agradáveis de frutas de polpa branca. Final muito longo e cremoso cheio de frescor. Cuvée Symphonie Maison Sainte Marguerite 2022, resultante de um corte de Grenache, Cinsault e Rolle (nome da uva Vermentino na Provence), com muito equilíbrio e frescor. Um rosé gastronômico, de cor perolada, com um nariz de frutas cítricas, pêssego branco e ameixa. Na boca revela finesse num final ligeiramente picante. Avaliado com 97/100 pontos pela Decanter e eleito um dos melhores vinhos do mundo pela “Best in Show”.
Voltei deste Roteiro pela Provence encantado com o sucesso dos Côtes-de-Provence. O mundo amante do vinho está mudando de atitude, apreciando o rosé e me arrisco a dizer que ele está na moda. Vejo muita gente combinando pratos culinários com rosés. Nos supermercados, lojas virtuais e especializadas, tenho percebido um aumento na oferta de rótulos. Os vinhos rosés estão cada vez mais conquistando os brasileiros.
Em 2021, a Miolo vendeu 800 mil garrafas do Miolo Seleção Rosé, tornando-se o mais vendido do País. Entre os importados, o sucesso de vendas é o Rosé Piscine, vinho pensado para ser bebido com pedras de gelo dentro da taça e produzido por uma cooperativa do sudoeste da França. Nos dois últimos anos, a marca está entre os três vinhos franceses mais importados no mercado brasileiro.
A inspiração de boa parte dos produtores de vinho rosés, em especial do novo mundo, é na Provence. Os vinhos dessa região souberam vender a Riviera francesa para o mundo, apoiados nas imagens dos balneários de Saint-Tropez, Nice e Cannes.
Ou seja, é perfeitamente possível apreciar tintos e rosés. Cada um tem o seu momento. Simples assim. Basta começar!
E então? Já provou um vinho rosé?
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).
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