āOS VINHOS MAIS POPULARES DA GEĆRGIAā
- Marcio Oliveira - Vinoticias
- 15 de set. de 2020
- 5 min de leitura
A GeĆ³rgia possui mais de 525 variedades diferentes e nativas em seu territĆ³rio (de um total que se pensa que jĆ” tenha sido de 1.400 ou mais!). Ć um vinhedo carregado de energia, com cerca de 55.000 hectares de videiras para 500 vinĆcolas, chamadas localmente de maranis.

Com uma histĆ³ria que se estende por 8.000 anos, investigaƧƵes recentes atestam que tanto a cultura da videira como a do vinho estiveram bem estabelecidas na GeĆ³rgia no perĆodo do NeolĆtico. A sul de Tbilisi (capital do paĆs), pesquisadores descobriram Ć”reas de āvitis vinĆferaā domesticada, datadas por rĆ”dio-carbono a cerca de 6.000 a.C., bem como fragmentos de cerĆ¢mica do sexto milĆ©nio, com resĆduo de vinho resinado.
Nesta regiĆ£o, melhor esquecer o Cabernet, o Chardonnay, o Malbec. Aqui vocĆŖ vai encontrar Saperavi, Rkatsiteli, Shavkapito, Kisi, Tavkveri, Khikhvi, Ojaleshi, sĆ³ para ficar nas castas mais conhecida!
Mas nĆ£o se espante, uma vinĆcola bem conhecida da GeĆ³rgia, produz um vinho tinto que mistura 417 uvas diferentes !!! Recorde mundial no Guiness Book sem dĆŗvida!
ā RKATESITELI (į į„įį¬įįįįį) - Provavelmente a uva branca mais popular na GeĆ³rgia, a Rkatsiteli Ć© usada na produĆ§Ć£o de vinhos tranquilos, espumantes, de sobremesa e conhaque. Embora seja cultivada em outros paĆses do Leste Europeu, esta uva resistente continua sendo uma das uvas mais emblemĆ”ticas quando se fala de castas brancas da GeĆ³rgia.
Como a histĆ³ria local tem cerca de 8.000 anos de produĆ§Ć£o de vinhos, muitos a consideraĆ§Ć£o a uva que fez o vinho de NoĆ©, quando o dilĆŗvio parou e ele teve oportunidade de se fixar em torno do Monte Ararat (hoje no territĆ³rio da ArmĆŖnia). Segundo o livro do GĆŖnesis, apĆ³s o dilĆŗvio, NoĆ© teria se tornado lavrador e plantado uma vinha. E bebeu do vinho, e embebedou-se.
Os cachos da Rkatsiteli sĆ£o geralmente grandes, e com pequenas bagas. As uvas atingem simultaneamente altos nĆveis de aƧĆŗcar e de acidez. Tem produtividade alta, amadurecimento tardio e Ć© resistente a temperaturas frias.
Os vinhos varietais produzidos a partir de Rkatsiteli tendem a ter um grande equilĆbrio entre acidez crocante e doƧura que sĆ£o complementados por aromas complexos e sutilmente picantes de flores, marmelo e pĆŖssegos brancos. Este vinho versĆ”til Ć© um excelente acompanhamento para queijos e vĆ”rios pratos de peixe, porco ou aves.
ā¦ SERVIR COM: comidas tĆpicas como Khachapuri ā Talvez o mais famoso dos pratos tĆpicos, kachapuri significa, literalmente, pĆ£o com queijo. Mas nĆ£o, nĆ£o Ć© um sanduĆche. Ć uma massa, assada (com consistĆŖncia de pĆ£o mais macio) e recheada com grandes quantidades de queijo. SĆ£o vĆ”rios tipos, cada regiĆ£o tem o seu e dĆ” para encontrar em qualquer lugar, de restaurantes Ć s portinhas que vendem os salgados tĆpicos pela cidade. O mais popular com os estrangeiros Ć© o acharuli, tĆpico da regiĆ£o da Adjara, na costa do Mar Negro. Tem um formato ovalado, de ācanoaā, cheio de queijo derretido dentro, com o bĆ“nus de um (ou dois, ou mais) ovo e um pedaƧo generoso de manteiga, colocados por cima do queijo assim que o prato sai do forno. A ideia Ć© misturar tudo, de preferĆŖncia usando um pedaƧo da ponta da massa, e comer ainda quente, com aquela montanha de queijo derretido escorrendo por todos os lados. Outro prato muito harmonizado com a Rkatesiteli Ć© o Shkmeruli - frango cozido em molho de alho Ć© tĆpico da regiĆ£o de Racha e tambĆ©m nĆ£o Ć© dos mais difĆceis de reproduzir em casa. O frango inteiro cortado em pedaƧos, Ć© cozido em um molho feito simplesmente de alho e leite, finalizado no forno. HĆ” quem acha que fica mais saboroso se feito com creme em lugar do leite, que deixa o molho mais denso. Se tiver um pouco de adjika (pasta de pimenta tĆpica) para ficar picante, melhor ainda.
ā SAPERAVI (į”įį¤įį įįį) - Ć uma uva tinta georgiana resiliente que se originou na regiĆ£o leste de Kakheti e, embora ainda seja predominante na GeĆ³rgia, pequenas quantidades tambĆ©m sĆ£o cultivadas em outras regiƵes do Leste Europeu, AustrĆ”lia e Estados Unidos.
Esta uva tintureira de pele e polpa escuras dĆ” origem a vinhos encorpados, de cor granada escura, caracterizados por aromas a frutos vermelhos maduros e agradĆ”vel acidez. A maioria dos vinhos produzidos a partir das uvas Saperavi sĆ£o varietais e apresentam uma grande tendĆŖncia ao envelhecimento.
Os vinhos Sapervai sĆ£o incrivelmente versĆ”teis e podem combinar uma variedade de pratos, incluindo pratos delicados de peixe, ensopados, carnes grelhadas ou caƧa.
ā¦ SERVIR COM: Como para muito crĆticos a uva tem muita semelhante com a Malbecs e a Tannat (particularmente acho mais com a Tannat), nada melhor do que acompanhar um bom churrasco de carne bovina em um vinho Saperavi. Ele se mostra bem versĆ”til e com certa rusticidade tĆpica da casta. Vai bem tambĆ©m com embutidos, e queijos maduros.
ā VINHO DE ĆNFORA - O vinho de Ć¢nfora georgiano Ć© produzido com um mĆ©todo de vinificaĆ§Ć£o antigo no qual uvas incluindo cascas, suco (tkbili), caules e sementes, sĆ£o derramadas em Ć¢nforas de terracota tradicionais conhecidas como qvevri (kvevri).
O processo de produĆ§Ć£o Ć© diferente do que estamos acostumados a conhecer e beber. Claro que as grandes vinĆcolas, operam em larga escala produzem seu vinho como na maioria dos outros paĆses, com a tecnologia envolvida de costume. Mas a diferenƧa estĆ” no mĆ©todo tradicional georgiano (aquele de 8 mil anos atrĆ”s), que fermenta as uvas em grandes Ć¢nforas de barro, chamadas qvevri, que sĆ£o seladas com argila e enterradas no solo por um tempo que varia de acordo com o tipo de vinho. Ć assim tambĆ©m que a populaĆ§Ć£o produz seus vinhos caseiros.
AliĆ”s, a convivĆŖncia do vinho com a madeira se dĆ” com a Conquista da GĆ”lia pelos Romanos cerca de 238 a.C. Ou seja, o vinho se relacionou com as barricas hĆ” mais ou menos 2.250 anos. Numa histĆ³ria de 8.000 anos de vinho sendo feito em Ć¢nforas, a madeira estĆ” presente em menos do que 1/3 dela,
Este mĆ©todo ancestral de produĆ§Ć£o Ć© muito difundido na GeĆ³rgia e hĆ” Ć¢nforas de 50 a 4.000 litros. Enquanto as menores sĆ£o comuns em residĆŖncias, fazendo vinho para consumo prĆ³prio, as maiores atendem as vinĆcolas locais ā chamadas em georgiano de maranis. Nas vinĆcolas Ć© comum as Ć¢nforas estarem enterradas ou mantidas em caves subterrĆ¢neas.
Normalmente, o vinho Ć© deixado para fermentar de cinco a seis meses. O mĆ©todo Ć© usado em todo o paĆs, embora os vinhos possam variar ligeiramente em estilos dependendo da regiĆ£o. Em Kakheti, o vinho Ć© produzido com chacha inteira - bagaƧo - enquanto em Imereti Ć© utilizado aproximadamente um terƧo (parte do material como cascas, engaƧos e sementes sĆ£o separados antes do fechamento das Ć¢nforas.
O aspecto geral tende sempre ao turvo, uma vez que a Ćŗnica forma de clarificaĆ§Ć£o Ć© a decantaĆ§Ć£o espontĆ¢nea dentro das Ć¢nforas e, ao macerar toda a estrutura dos cachos com presenƧa de polpas, engaƧos e sementes, o nĆvel de resĆduos e borras Ć© alto. Isso pode implicar em um traƧo gustativo frequentemente tomado por defeito: o amargor. Mas lembremos que estamos bebendo outro estilo de vinho (que muitos chamam de Vinho Laranja) e certos modelos de degustaĆ§Ć£o clĆ”ssicos deverĆ£o ser reinterpretados, pois, afinal, a eventual presenƧa de amargor Ć© uma consequĆŖncia do mĆ©todo e nem sempre uma falha da vinificaĆ§Ć£o.
O Vinho de Ć¢nfora Ć© um exercĆcio de paciĆŖncia e de muito volume de vinho provado, para conseguir entender suas nuances de aromas e sabores (geralmente oxidados), sem considerar que seja um defeito, mas resultado da produĆ§Ć£o de um vinho Ćŗnico, feito sem nenhuma intervenĆ§Ć£o humana! SaĆŗde !!! (Resultado de pesquisas na internet).