O Peru abriga os vinhedos mais antigos da América do Sul, e alguns produzem até duas safras por ano. Os passeios por vinícolas de tradição ou tours no meio do deserto têm um toque em comum: o pisco, a bebida nacional e agora vamos para a segunda parte deste artigo.
O Peru cultiva vinho há séculos e é uma fonte de orgulho nacional. Quando os espanhóis chegaram ao país, trouxeram uvas com eles, tornando o Peru o primeiro país da América do Sul a ter uma vinha e produzir vinho. A partir da metade final do século passado, algumas tradicionais bodegas de produção de pisco investiram também em plantios de uvas Vitis vinifera, principalmente de variedades francesas, para produção de vinhos finos, gerando a vitivinicultura que existe atualmente no Peru, que surpreendente e já é reconhecida internacionalmente.
● VARIEDADES AUTÓCTONES CRIAM AROMAS E SABORES ÚNICOS -Seis novas variedades de uvas viníferas peruanas foram identificadas por pesquisadores na província desértica de Caravelí, na região de Arequipa, no sul do Peru. Teste de DNA confirmaram a identidade das cepas Jaen, Cantarilla, Ceniza (também conhecido localmente como Mulata), Negra de Caravelí, Loca e Moscatel Negra Rubío.
A variedade branca Jaén e a tinta Cantarilla, ambos cruzamentos naturais da Negra Criolla e uma variante local do Moscatel d'Alexandría, mostraram maior potencial para a produção de vinho, devido aos bons níveis de acidez tartárica que atingem no campo com colheita precoce.
Para as cepas Ceniza, Negra de Caravelí, Loca e Moscatel Negra Rubío – quatro mutações recém-identificadas da variedade Negra Criolla – serão necessárias mais pesquisas e experimentos para obter dados mais completos sobre as características organolépticas e de maturação.
Até agora, a Quebranta era considerada a única variedade de uva para vinho do Peru. Essa variedade é um cruzamento natural de Negra Criolla e Moscatel usado na produção de Pisco. A região onde as novas cepas foram identificadas, Caravelí, é uma pequena e isolada área vinícola com apenas 70 hectares de vinha. Está localizada a cerca de 1.700m acima do nível do mar, a oito horas de carro da cidade mais próxima de Arequipa e a cerca de cinco horas de carro do Vale Majes, seu vizinho vinícola mais próximo.
Os testes foram realizados pelo Instituto de Biotecnología de la Universidad Nacional Agraria La Molina (IBT-UNALM), no Peru, e pelo Instituto de Investigaciones Agropecuarias (INIA), no Chile. O pesquisador responsável pelo estudo, Keith Díaz, engenheiro agrônomo da região de Caravelí, busca o registro dessas variedades no Catálogo Internacional de Variedades da Vitis (VIVC).
● DADOS SOBRE O VITICULTURA PERUANA
Área plantada: 29.000 hectares
Produtores de uvas: 10.000
Proporção de produção: Uvas de Mesa 65% - Para o Pisco 27% e para Vinho 8%
Regiões Viníferas: Ica (7,600 ha); Lima (2,950 ha); Arequipa (1,300 ha); Moquegua (870 ha); Tacna (810 ha); Sierra del Perú (menos de 100 ha)
Varietais mais plantadas: Quebranta, Italia, Albilla, Negra Criolla, Mollar, Moscatel, Torontel, Uvina, Isabella
● AS REGIÕES DE PRODUÇÃO DE VINHO NO PERU
Existem 5 regiões vinícolas diferentes no país, mas Ica é a capital da viticultura peruana, onde se encontram os vinhedos que produzem os melhores vinhos.
1)- REGIÃO DE LIMA - Embora existam videiras plantadas em toda a região de Lima, mais de 80% da produção de uvas de Lima está concentrada em Cañete e, em particular, em torno de Lunahuaná, que é a sub-região mais ao sul da costa, logo acima da ICA. A grande maioria das uvas de vinho em Lima acaba sendo usada para a produção de Pisco, embora também haja uma pequena quantidade de produção de vinho. No entanto, é mais tipicamente o vinho de Borgoña, das variedades híbridas de Isabella e Niagara, respectivamente, embora haja um interesse crescente em fazer vinhos finos.
2)- REGIÃO DE ICA - Os vinhedos de Intipalka na região da ICA contém 50% das vinhas de qualidade do Peru e possui três sub-regiões principais: Chincha, Pisco e o Vale de ICA. A maioria das vinhas está plantada em altitudes entre 400m e 650m acima do nível do mar. Seus solos profundos e arenosos são ricos em diatomita, carbonato de cálcio e minerais sem muita matéria orgânica. Aqui as dunas reinam supremas, o que não é exatamente o que vem à mente quando você pensa em um clima ideal para a produção de vinho. O microclima árido e subtropical garante um gradiente térmico considerável, enquanto a brisa do oceano esfria o clima quente.
Produtores notáveis na ICA incluem Intipalka (Queirolo), Mimo, Ocucaje, Pampas de Ica e Tacama - uma vinícola com a vinha mais antiga da América do Sul, datando de 1540.
Todos eles fazem Pisco, bem como vinhos finos de varietais europeus e patrimoniales. Os vinhos de destaque incluem Quebranta e Mollar Rosés e brancos de Muscat of Alexandria, Torontol e Albilla.
♦ Sub-regiões e Produtores - Em Chincha, Tabernero e Viña Vieja são vinícolas tradicionais que produzem vinhos de classe internacional. Enquanto isso, no vale de Pisco, as variedades patrimoniales vêm à tona, como evidenciado pelos vinhos naturais da Bodega Murga.
3)- REGIÃO DE AREQUIPA - Arequipa é uma das cidades mais importantes do Peru e a região circundante tem sido um centro agrícola há séculos.
As principais regiões vinícolas de Arequipa hoje são o Valle de Majes e o de Caravelí. Ambos estão cheios de videiras antigas e pequenos produtores de vinhos artesanais que fazem principalmente vinhos Pisco e boutique das variedades antigas da uva Criolla.
Enquanto Majes é um vale de rio, Caravelí está em maior altitude, a 1.800m sobre o nível do mar, e tem algumas videiras muito antigas com mais de 200 anos. O Vale de Majes produz principalmente Malbec, conhecido lá como Burdeos, Moscatel Negro del Peru e Muscat de Alexandria para os brancos. Paz-Soldán é o principal produtor da região.
O Vale de Caravelí é um local importante na história da viticultura peruana com vinhedos patrimoniais plantados em altitudes de cerca de 1.800 metros, onde a fruta ainda é fermentada em vasos e ânforas de barro com séculos de uso contínuo, no Peru conhecidas como as tradicionais “Tinajas”.
4)- REGIÃO DE MAQUEGUA - Embora Maquegua seja um dos menores departamentos do Peru em termos de tamanho, você encontrará dezenas de Tinajas (ânforas) de argila antigas espalhadas por sua longa história como região vinícola. Tradicionalmente, as uvas são cultivadas em toda a região, desde as terras mais altas até a zona costeira.
Maquegua era um importante centro viticultural no século XVII, quando era conhecido como o 'Bordeaux das Américas'. Hoje, Muscat de Alexandria, Moscatel Negro, Quebranta, Syrah e Malbec são as matérias-primas para os vinhos intrigantes que estão sendo feitos pela vinícola Viejo Molino.
Hoje, a produção de vinhos gira em torno de pequenos produtores artesanais que costumam fazer não apenas o vinho de suas vinhas antigas vinhas de uva Criolla (especialmente Negra Criolla), mas também Pisco, suco de uva e Mistela. Os licores de frutas também são uma especialidade local e o clima ensolarado, quente e seco do deserto é ideal para a produção de frutas deliciosamente maduras.
5)- REGIÃO DE TACNA – a região de Tacna tem uma forte história com a produção de Pisco. No entanto, há também uma cena crescente de “produtores de vinhos de garagem” e “vinhos boutique” contando com uma próspera rota do vinho. Negra Criolla é a variedade mais importante em Tacna, seguida pela Itália e Quebranta. A região também é uma grande produtora de azeitonas no Peru.
Tacna é a região mais sul do Peru, com vinhedos localizados em cerca de 1.200m. Há uma vasta gama de variedades diferentes aqui, como se reflete no portfólio de Marqués Cariñoso, uma vinícola que usa uvas europeias e patrimoniais.
● REGIÃO DA SERRA DO PERU -
A geografia do Peru é dividida entre a costa, as montanhas e a selva. Embora o ambiente úmido da selva não seja adequado para a viticultura, as montanhas Sierra del Peru têm sido historicamente usadas para a produção de vinhos, embora a maioria tenha sido abandonada séculos atrás.
Apesar de que a viticultura na Serra del Peru tenha seu lugar na história, foi apenas recentemente que a história foi reiniciada. Em Apurimac, o aposentado ex-banqueiro Fernando Gonzales-Lattini e sua esposa Meg criaram a vinícola da APU em 2011 e plantaram um ambicioso vinhedo de 7 hectares, abrangendo dois locais inclinados com solos de calcário. Seu Sauvignon Blanc vale particularmente a pena procurar e provar, e eles também produzem um Sangiovese promissor. Por ser tão pequena, muitas vezes a região não chega a ser considerada junto com as demais.
●ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE AS VINÍCOLAS PERUANAS
♦ TACAMA - Considerada, por muitos, a melhor do país, a Tacama produz vinhos de Cabernet Sauvignon e Sauvignon Blanc, além de espumantes. Localizada próximo à região do Vale de Ica, a vinícola exporta para vários países europeus. As visitas estão abertas de segunda a domingo, inclusive aos feriados, com intervalo de meia hora entre uma e outra. Aos sábados, mediante reserva, os visitantes podem assistir a apresentações de folclore peruano. Site: www.tacama.com
♦ OCUCAJE - As vinhas da região do Vale de Ocucaje foram plantadas no que, acredita-se, foi um mar pré-histórico. Hoje, a paisagem é desértica e por lá, foram encontrados fósseis marinhos datados de 30 milhões de anos. Os vinhos e piscos da propriedade são exportados do distrito de Ocucaje para 12 países, inclusive o Brasil. Os visitantes podem visitar as plantações e ver barris de cobre dos anos 1920, acompanhados de um guia. Site: www.ocucaje.com
♦ SANTIAGO QUEIROLO - A família Queirolo veio de Gênova, na Itália, e ficou no distrito de Pueblo Libre, em Lima, no ano de 1877. Lá, fundou uma taberna para servir os primeiros vinhos e piscos. Hoje, na Antigua Taberna Queirolo, funciona um restaurante. Com o crescimento em Lima, as plantações foram deslocadas para Ica.Site: www.santiagoqueirolo.com
TEREMOS A CONTINUIDADE NA PRÓXIMA SEMANA - Então, sentiu vontade de provar um vinho PERUANO?
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação as pesquisas).