Escrevi o artigo “O VINHO SEM ÁLCOOL E A GASTRONOMIA FRANCESA” - Quando recentemente na edição 022023 do VINOTÍCIAS escrevi o artigo “ENQUANTO O CONSUMO CRESCE NO BRASIL, OS FRANCESES ESTÃO BEBENDO MENOS VINHO” - alguns leitores se surpreenderam pelo fato de que o consumo da bebida diminuiu em várias regiões do mundo, e citei particularmente a França, na medida em que o interesse aumentou no Brasil!
Um detalhe que chamou a atenção foi o que os franceses chamam de “Janeiro sem Álcool”, ou "Janeiro Seco" que atinge pessoas que dirigem carros, pessoas mais jovens, mulheres grávidas ou simplesmente pessoas dispostas a passarem um mês completo sem beber álcool.
Janeiro é o período do ano que é marcado por planos e metas para a maioria das pessoas. Muitos tem preocupação com a saúde e planejam uma vida mais saudável, iniciar uma atividade física e ter uma dieta mais equilibrada. Com isso surgiu um movimento no Reino Unido chamado “Dry January” em 2013 e que já foi adotado por muitos outros países. O “Janeiro Seco” é o incentivo de não consumir bebidas alcóolicas durante todo esse mês.
O consumo de bebida alcóolica aumentou muito em todo o mundo desde o início da pandemia. Segundo a OMS, no Brasil houve um crescimento mais rápido que a média mundial, especialmente entre os mais jovens.
Ainda que o consumo de bebidas alcoólicas tenha aumentado ao longo dos últimos dois anos, o projeto “Dry January” tem efeitos no longo prazo. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Britânico demonstrou que após a Campanha, 7 entre 10 pessoas diminuíram a ingestão de bebida alcóolica, e um quarto das pessoas que bebiam em níveis “prejudiciais” mudaram para a categoria de “baixo risco” após a Campanha.
De fato, os benefícios do “Janeiro sem Álcool” são interessantes: - 71% dos participantes relatam terem dormido melhor; 88% dos participantes economizaram o dinheiro que gastavam com a bebida e 80% dos participantes dizem que melhor controlaram seu consumo de álcool.
Além disto, os riscos profissionais são significativos uma vez que o risco de acidente de trabalho grave é multiplicado por 2 em homens que consomem pelo menos 4 copos de álcool por dia e em mulheres que consomem pelo menos 2 copos por dia. Dirigir sob a influência de álcool multiplica por 17,8 o risco de ser responsável por um acidente fatal.
Após os países anglo-saxônicos e escandinavos, a França, por sua vez, multiplica experiências gastronômicas não alcoólicas. Seja pelo Champagne Rosé Zero Álcool servido em uma loja de lingerie de luxo em Paris, ou pelos coquetéis "Virgin" feitos para o lançamento de restaurantes e hotéis da moda ... a tendência de bebidas livres de álcool ("No") ou com pouco álcool ("Low") está ganhando terreno mesmo em restaurantes estelares identificados por suas estrelas Michelin.
Esta é uma tendência que está crescendo na França depois dos países anglo-saxônicos saírem na frente adotando uma postura antiálcool.
Há uma grande variedade de coquetéis leves criados com especiarias, ervas, raízes e chás sendo servidos em Paris. E o mais interessante é que se no início desta “moda” o consumo era pequeno, com o tempo as pessoas gostaram mais desses coquetéis, os apreciaram e passaram a recomendar aos amigos. Como resultado, o consumo tem sido crescente.
Alguns dos grandes chefs franceses estão adorando criar harmonizações de pratos com vinhos livres de álcool, o que muda completamente o perfil aromático dos pratos e aumenta os meios da refeição se expressar.
Na alta gastronomia francesa, a cabeça mais estrelada no momento, Anne-Sophie Pic e sua sommelière, Argentina Paz Levinson, são pioneiras no movimento “Sem Álcool”. Ela diz que quando estava grávida, era assustador ir ao restaurante e ficar na água a noite toda. Ela queria criar algo excepcional para que todos os clientes que não bebessem álcool pudessem aproveitar sua vida social. Hoje, dela reconhece que todo mundo está começando a provar e aprovar o movimento. Em seu restaurante de três estrelas em Valence, o café quente brasileiro é servido em uma grande taça de vinho para acompanhar um belo prato de carne de veado.
Uma pergunta que não quer calar, portanto, é se o consumo de vinho está ameaçado? Diante da frustração de clientes que encontram apenas bebidas não alcoólicas na Carta de Bebidas do restaurante, os sommeliers têm elaborado harmonizações sem álcool para os pratos do cardápio, inspirados nas técnicas usadas pelos enólogos (maceração, extração de aromas). Para alguns chefs de cozinha, este é um movimento sem volta, e que terá um futuro brilhante pela frente.
Por outro lado, outros chefs tem uma visão diferente. O chef de três estrelas Guy Savoy acha que essa tendência é legítima em países que não produzem vinhos e devem se adaptar, mas não na França. Para ele, no país dos grandes vinhos, é preferível não julgar, ele simplesmente não adota a moda!
O crítico gastronômico alemão Jörg ZippPrick, acredita que o discurso da saúde tende a considerar o álcool como algo do “diabo", o que desencorajará o consumo de vinho. Contra este discurso, David Toutain – chef duas estrelas Michelin em Paris, se diz completamente apaixonado pelo vinho, champanhe e afirma que prefere oferecer uma opção diferente.
Se o vinho “sem álcool” é uma moda passageira, ou uma tendência que veio para ficar, é algo que o tempo mostrará o resultado. Já houve a época de auge dos vinhos rosés, que depois ficaram em ostracismo, para terem um renascimento nos últimos 10 anos. Já houve a moda do vinho alemão, do vinho Mateus Rosé, que ficaram no passado!
Uma coisa, entretanto, é certa, não perca a chance de provar uma taça de vinho, mesmo que seja sem álcool. O importante e o que sempre digo, beba vinho de maneira moderada, e desta forma não estará praticando um “Janeiro Seco”, mas um estilo saudável de vida social!!!
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).
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