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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“O VINHO LARANJA ESTÁ NA MODA?”

O vinho laranja está inspirando as pessoas a aprender mais sobre o que estão bebendo.

O vinho laranja, também chamado de vinho de contato com a pele (casca) ou vinho macerado, ou vinho âmbar ou “ramato”, (que significa castanho-avermelhado, em italiano), é um retorno a forma como se fazia a bebida há 8.000 anos atrás. A procura por ele cresceu junto com o movimento do vinho natural, mas mesmo nesse espaço, o vinho laranja tem mostrado constituir um nicho próprio. Analistas de dados projetam que o mercado global de vinho laranja atingirá US$ 67 milhões na próxima década.


De acordo com os profissionais deste mercado, como críticos, sommeliers e produtores, a ascensão do vinho laranja está criando um tipo de bebedor de vinho: aquele que está realmente ansioso para aprender muito mais sobre o vinho, de aprofundar-se na história da bebida de Baco e provar novos aromas e sabores oriundos de uvas pouco conhecidas e de regiões fora do radar. O nome “vinho laranja” foi cunhado pelo importador de vinho David Harvey, da Raeburn Fine Wine, no Reino Unido.


Na história do vinho moderno, um capítulo especial cabe a vinícola Gravner, localizada no norte da Itália, na fronteira com a Eslovênia, e com metade dos vinhedos em cada país. Esta vinícola familiar colocou as antigas ânforas de barro em destaque e mostrou que a maneira ancestral de elaborar vinhos, sem a utilização de qualquer química, no vinhedo e na vinícola, e com as uvas fermentando junto com as cascas tem que ser respeitada. Nesta saga, o personagem principal é Josko Gravner, o patriarca, que ousou contrariar as regras vigentes da indústria do vinho na década de 1990, e começou a produzir vinhos no estilo laranja no norte da Itália.


Depois de viajar, a convite, pelos Estados Unidos e voltar desiludido com o que viu na indústria do vinho, Gravner pesquisou e viajou pela Geórgia para entender a origem do vinho.  Lá conheceu as ânforas onde na antiguidade se fazia vinho. Comprou uma para experimentar. Usou na vindima seguinte e gostou tanto, que remodelou a adega para receber novas ânforas com capacidade de dois mil litros, importadas da Geórgia, que enterrou no chão do subsolo da adega. Depois disto Josko arrancou as vinhas de mais de 60 anos de Chardonnay que tinha e plantou Ribolla Gialla, uva ancestral e nativa do Friuli. Passou a adotar uma longa maceração dos vinhos brancos (hoje ficam quase sete meses na ânfora). Até que, em 2001, sentiu que o vinho estava pronto e fez o primeiro vinho em ânfora, lançado apenas sete anos depois.


Daí para frente, com o sucesso de seus vinhos, o Laranja entrou no interesse dos profissionais do mercado, chamando atenção para os vinhos do Leste Europeu e repercutindo em vinhos feitos em ânforas em praticamente todas as regiões produtoras, mesmo no Novo Mundo. No Brasil, a Ribolla Gialla está presente em alguns laranjas feitos com a técnica de vinhos de ânforas.


Já incluímos vinhos laranja em nossas confrarias e degustações, porque muitos participantes dos encontros têm curiosidade sobre eles. Nesta semana realizaremos mais uma degustação buscando entender a diversidade deste estilo de vinhos, com origem em várias regiões e usando várias uvas diferentes. Isto se deve em parte à natureza do vinho laranja. É uma categoria singular, com uma diversidade incrível. Tudo se resume ao que acontece na vinha e na adega.


Você faz vinho tinto colhendo uvas como Cabernet ou Merlot, deixando-as em contato com a casca enquanto fermentam e, em seguida, completam a vinificação envelhecendo-o em barricas de carvalho. Para o vinho branco, os produtores de vinho usam uvas de casca clara, como Chardonnay ou Riesling, e o processo é o mesmo, exceto que não há contato com a pele durante a fermentação.


Já o vinho laranja pode ser feito com qualquer uva vinífera branca que fique em contato com a casca por um período. Os atraentes tons de âmbar, cobre ou dourado escuro não vêm de laranjas reais - uma questão que os sommeliers ainda têm que explicar - mas sim devido à quantidade de tempo que o mosto permanece com a casca das uvas. Os vinhos resultantes são um caleidoscópio de cores e características, que vão desde bebidas encorpadas envelhecidas em antigas ânforas de argila durante anos (geralmente enterradas no solo de adegas ou cantinas), até goles leves e refrescantes resultantes de mostos que permaneceram com a casca das uvas em tanques de aço inoxidável por horas ou mesmo dias.


A diversidade desta categoria, e as suas associações com vinhos naturais igualmente ascendentes em consumo no mercado, permitiram que o entusiasmo se espalhasse rapidamente por lojas, bares e restaurantes com ideias semelhantes. Mas para criar a harmonização ideal, haverá todo tipo de perguntas: que tipos de sabores ou texturas que você procura, se você planeja harmonizar o vinho com o que comer, ou simplesmente provar o vinho, por que isso é importante e assim por diante.


Um pedido casual de vinho laranja abre vários diálogos sobre como o vinho é feito de uma forma que raramente acontece ao pedir um Malbec argentino ou o Chardonnay chileno, simplesmente porque a categoria laranja em si é muito vasta.


No entanto, quando se prova um vinho laranja pela primeira vez, nem sempre o resultado é positivo. As pessoas não têm ideia do que esperar e ficam um pouco confusas e muitas acabam rejeitando a bebida. A maioria dos vinhos laranja não são doces e têm aromas fortes e melosos, como jaca, jambo, avelã, castanha do Pará, maçã muito madura, verniz de madeira, óleo de linhaça, zimbro, massa de pão fermentada e casca de laranja seca. Na boca são secos e possuem tanino apesar de serem brancos (como um chá gelado sem açúcar), com acidez semelhante à cerveja. Pela sua acidez e taninos naturais, os vinhos laranja acompanham uma grande diversidade de alimentos.


Uma boa maneira para provar pela primeira vez a vasta gama de laranjas, é provar vinhos que podem ser magros e fáceis de beber e não a opção pelos que são tânicos e encorpados.


Os laranjas atendem a bebedores que buscam vinhos feitos com uvas e oriundos de regiões menos onipresentes. Estes bebedores estão ficando mais aventureiros, e não é difícil encontrar um Rkatsiteli georgiano numa Carta de Vinhos. Esta uva branca autóctone da Geórgia, tem reputação privilegiada nos círculos vitivinícolas mundo afora como criadora de belos laranjas vinificados em ânforas antigas.


Num restaurante, quando alguém pede um vinho laranja, desperta uma reação imediata de curiosidade nas mesas vizinhas, que buscam entender a cor da bebida, que aromas ele mostra e que sabor ancestral ele desperta. Além disso, a diversidade do vinho laranja significa que você poderá encontrar um que te agrade.


Nem todos os vinhos laranja são vinhos georgianos tânicos e envelhecidos em ânfora. Há também vinhos laranja florais muito gostosos, ou vinhos laranja com aromas e sabores tropicais, ou vinhos que foram macerados por tanto tempo que o amargor começa a se dissolver e se dissipar. Há tantas coisas para falar sobre os vinhos laranjas e as pessoas estão mais abertas para prová-las.


É claro que quando algo se torna amplamente popular, surgem questões de controle de qualidade. Por exemplo, quando o rosé surgiu, introduziu alguns consumidores a beber excelentes rosés, mas a sua omnipresença também significou que houve incentivo para que os rosés medíocres inundassem o mercado. Alguns produtores de vinho sem experiência ou interesse particular em produzir vinhos rosés ​​rapidamente os produziram simplesmente porque sabiam que venderiam e isto infelizmente é péssimo para o mercado.


Ao contrário do rosé, que vai da colheita à garrafa muito rapidamente, alguns vinhos laranja levam anos para serem produzidos e envelhecem antes de serem levados a lojas e restaurantes. Boa parte dos produtores europeus, em especial do Leste Europeu, fazem estes vinhos há gerações e não serão manipuladas pelas tendências do mercado.


Na pior das hipóteses, onde restaurantes e lojas de vinho poderiam ser inundados com vinhos feitos de maneira desajeitada em contato com a pele, ainda há esperança. O vinho laranja permite que seus amantes façam perguntas e envolvam seus paladares, e eles serão mais capazes de reconhecer o bom vinho onde quer que o venham provar.


Os vinhos laranja combinam bem com alimentos ousados. Na verdade, algumas das melhores combinações com vinhos laranja incluem alimentos que são difíceis de combinar com vinho. Por exemplo, o tanino do vinho laranja ajuda a eliminar os sabores ousados ​​e picantes encontrados nos pratos de curry na culinária indiana. A acidez do vinho laranja combina bem com sabores fermentados como kimchi em pratos coreanos e na comida japonesa. Ao contrário dos vinhos tintos ou brancos, os vinhos laranja suportam carne bovina ou peixe.


Como sabemos que a Geórgia e a região do grande Cáucaso são o berço original do vinho e da vinificação, os vinhos laranja oferecem uma janela única para o vinho antigo e talvez mais que uma moda, eles podem ser uma nova maneira de pensar em vinhos.


O artigo é mais um convite para provar os aromas e sabores dos Vinhos Laranjas e fazer um brinde a história do vinho! Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).

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