Nesta semana falei sobre o Primeiro Concurso de Vinhos e o assunto despertou o interesse de muita gente! E por conta das perguntas, resolvi escrever um pouco mais sobre o tema.
O “primeiro concurso internacional de vinhos” de que se tem notícia foi organizado pelo rei Filipe Augusto, da França, por volta de 1220. Na ocasião, ele queria saber qual era o melhor vinho do mundo e mandou seus mensageiros buscarem bebidas por todas as partes do globo.
Pensaríamos rapidamente em vinhos célebres da atualidade, mas naquela época, o estilo e os vinhos eram outros.
A prova foi eternizada num longo poema de Henry d´Andeli e pela descrição nesta obra, os emissários retornaram com mais de 70 amostras desde regiões clássicas francesas como Chablis, Beaune, Sancerre, Saint-Émilion, Alsácia e Provence, até lugares mais distantes como a Espanha e Itália ou até mesmo menos conhecidos como a ilha de Chipre.
O ganhador da prova foi o vinho de Commandaria, originário da ilha de Chipre, no mar Mediterrâneo, que talvez seja o vinho mais antigo, ainda produzido!
O vinho já era conhecido e reputado na Grécia Antiga na era de 800 A.C., e sua origem data por volta de quatro mil anos, tendo grande prestígio no tempo das Cruzadas e reverenciado nas cortes europeias. O nome tem origem na área onde os Cavaleiros Templários construíram o castelo Kolossi, “Grande Commandaria”, no século XII, quando foram os guardiões de uma área delimitada da ilha, onde eram cultivadas as uvas deste vinho. O vinho era tão relevante na região que podemos encontrar esta lenda num poema de 800 A.C. do poeta grego Hesíodo.
Quando provado por Ricardo Coração de Leão (Ricardo I – Rei da Inglaterra), entusiasmado com seu sabor, falou que ele era “O Rei dos Vinhos e o Vinho dos Reis”, ditado que costuma ser repetido atualmente quando degustamos um Barolo ou um Tokaji.
Elaborado com as uvas locais Mavro (uva tinta) e Xynisteri (uva branca), num processo que além serem colhidas bem maduras, passam ainda por um processo de soleamento durante duas semanas, aumentando ainda mais a concentração de açúcares. O mosto é extraído lentamente através de prensas verticais, e então submetido a uma demorada fermentação. Como a maioria dos vinhos fortificados, a fermentação é interrompida para adição de álcool vínico e é posteriormente envelhecido em barricas durante pelo menos 2 anos. É obtido no final um teor alcoólico em torno de 15º e um vinho bastante intenso, com açúcar residual bastante elevado (cerca de quatro vezes em relação ao vinho do Porto). Sua doçura e viscosidade lembram um Pedro Ximenez (o típico Jerez doce), mas olfativamente está mais inclinado ao Porto, pelos aromas de chocolate e torrefação.
No processo atual de produção, o vinho permanece em barricas pelo menos por dois anos antes da comercialização, embora nos tempos áureos, sua permanência fosse condicionada ao perfeito equilíbrio de seus componentes.
Segundo o Guinness World Records, Commandaria é o vinho mais antigo do mundo em produção, é vinificado há mais de 4000 anos.
O Commandaria é considerado um vinho doce de sobremesa, com textura densa e cor de âmbar. Encontramos notas de caramelo, baunilha, mel, ervas e frutas secas. Ao contrário do vinho do Porto, à medida que envelhece vai escurecendo. Para muito, é um vinho ideal para degustar com um chocolate. Há quem sugira degustá-lo sozinho, sem nenhum acompanhamento após uma boa refeição, como um belo vinho de meditação!
Sirva-o entre 6º a 9º C, num copo pequeno para vinhos fortificados como o vinho do Porto. Uma experiência recomendável, ainda mais se tiver a chance de estar na Ilha de Chipre!!! Saúde !!!