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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“O VINHO DA GUERRA – CONHECENDO OS VINHOS DO LÍBANO – PARTE II”

A nação moderna do Líbano pode ter apenas 100 anos, mas o comércio de vinhos na região existe há mais de 5.000 anos, graças a uma costa longitudinal que percorre toda a extensão do país. Alguns historiadores contemporâneos fazem do Líbano o local de nascimento do vinho com traços que datam de 7000 anos a.C.

A INFLUÊNCIA FRANCESA E AS PRINCIPAIS UVAS


Vários dos principais produtores de vinho, de Faouzi Issa em Domaine des Tourelles e Joe Touma em Château St Thomas, estudaram enologia na França, enquanto há um grande número de enologistas franceses trabalhando ou dando consultoria para vinícolas libanesas: Fabrice Guiberteau em Château Kefraya, James Palgé em Château Ksara, Jean-Michel Ferrandez em Domaine Wardy, Hubert de Boüard em Ixsir e Stéphane Derononcourt em Château Marsyas.


Além disso, a família Brunier de Châteauneuf du Pape e a família Hébrard de St.Emilion fazem parte de Massaya.


A influência francesa também se mostra através do uso de variedades de uvas nos vinhos libaneses. Existem vinhas de duas uvas nativas, Merwah e Obaideh, usadas para criar o Château Musar Branco e o Arak, mas a esmagadora maioria dos 2.500 hectares do Líbano é plantada com variedades francesas. As estatísticas exatas não existem - não existe um censo desde 1932 - mas as variedades dominantes são Cinsault, Carignan e Cabernet Sauvignon, com quantidades menores de Merlot, Syrah, Mourvèdre, Grenache, Tempranillo, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Semillon, Viognier, Muscat, Riesling e Clairette.


Na Karam Winery, há projeto piloto em que se plantou Graciano e Touriga Nacional na região sul de Jezzine.


A tendência de se inclinar para variedades autóctones começou há cerca de duas décadas, quando o Château St. Thomas, do vale de Bekaa, confirmou a uva de Obaideh branca como 100 % libanesa por meio de um teste de DNA em Montpellier, na França. Outras supostas uvas nativas aguardam testes adicionais para confirmar suas origens, trabalho que deve ser financiado em particular pelas vinícolas individuais. Como tanto no Líbano, os enólogos são deixados para descobrir tudo entre si sem nenhum árbitro oficial do Estado.


A maioria dos produtores de vinho está atualmente se afastando da Cinsault, que é a uva tinta tradicional, mudando para variedades nobres como Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah. Nem todo mundo concorda com Hochar sobre a Cinsault. Serge Hochar achava que era a uva mais interessante do Líbano, contribuindo com a "sedução" para as misturas, enquanto Dargham Touma diz que "ela neutraliza os taninos em Cabernet e Syrah".


Os vinhos brancos do Líbano não são tão interessantes quanto seus tintos, embora valha a pena ficar de olho nos Rieslings e Chardonnays das Montanhas Batroun, feitos pelo enólogo Davis Assaad Hark (educado na Califórnia), bem como como no Blanche de Château Kafraya, e no Blanc de Ixsir, uma mistura de Sauvignon Blanc, Semillon e Viognier.


Para muitos críticos, o futuro do Líbano como produtor de vinho fino será baseado em seus tintos, principalmente em suas misturas. Existem um ou dois bons vinhos varietais em torno (incluindo um Pinot Noir de Château St Thomas e Domaine des Tourelles Syrah du Liban Grande Cuvée), mas quase todos os tintos favoritos são blends usando duas ou mais uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Syrah, Cinsault, Carignan, Grenache e Mourvèdre. Combinar algo da sofisticação de Bordeaux com o calor e o tempero do Mediterrâneo é o que o Líbano faz de melhor.


TERRITÓRIO, CLIMA E SOLOS


O Líbano não é um país grande – equivalente a um quarto do estado brasileiro do Espírito Santo, com cerca de 10.452 km2, mas é notavelmente variado em termos de altitude e topografia. Dirigir pelo país leva tempo, em parte por causa de estradas e postos de controle pobres, mas também por causa de duas cadeias de montanhas norte-sul, o Monte Líbano, no oeste, e as montanhas Anti-Líbano a leste, na fronteira com a Síria. Entre as duas cadeias de montanhas, fica o famoso vale de Bekaa.


O clima libanês é o Mediterrâneo, com verões longos, secos e muitas vezes muito quentes, 3.200 horas de sol e invernos mais frios e úmidos, com neve em alguns lugares mais altos. Mas tudo é relativo. No verão as mudanças diurnas de temperatura podem ser dramáticas. Com tão pouca chuva e água de irrigação esparsa, os rendimentos geralmente são baixos.


A chave para o cultivo de uvas em um local tão quente é a altitude (até 1400m) em Batroun, perto da costa e altitude novamente (até 1200m) e a influência moderadora do Monte Líbano no Bekaa. É muito longe da França, como ressalta Fabrice Guiberteau, de Château, Kefraya: “Eu trabalhei no Marrocos antes de vir aqui e isso definitivamente ajudou. Você tem que perder todas as suas idéias francesas de como produzir vinho, da noite para o dia. ”


AS REGIÕES DE PRODUÇÃO DE VINHO NO LÍBANO


O vale de Bekaa é a principal região de cultivo de vinhos do Líbano e pode ser o local de nascimento do vinho. É o centro para o desenvolvimento do vinho moderno libanês e produz aproximadamente 90% do vinho do país.


A tradicional região do Vale de Bekaa tem em Baalbek, mais especificamente no bem preservado Templo de Baco, uma prova irrefutável de sua aptidão para vinicultura e de sua importância na produção da bebida durante os tempos da dominação Romana, demonstrando que a cultura do vinho nessa terra já vem de muito tempo.


Essa é hoje a maior e mais importante região produtora de vinhos do Líbano, onde estão situados os vinhedos dos mundialmente conhecidos Chateau Musar, Kefraya e Ksara, além de muitos outros produtores.


As vinhas dentro do vale de Bekaa estão em um platô a 900 metros de altitude. Eles desfrutam de um microclima ideal de verões quentes, noites frias e baixa pluviometria. O platô do vale está protegido contra os ventos pelas montanhas circundantes que trazem água para as vinhas.


Aqui neste platô alto, cujo chão fica a 900m, cultiva-se a maioria das uvas do país, bem como há razoável cultivo de trigo e cannabis (maconha). Os solos são adequadamente diversos: calcário, argila/barro, pedras, cascalho e até, em alguns lugares, terra vermelha. Não é de admirar que esse vale fértil tenha sido apreciado pela agricultura desde os tempos romanos.


Os vinhos tintos de alta qualidade do vale de Bekaa têm fortes semelhanças com os vinhos Bordeaux. Château Ksara, Château Musar, Ixsir e Massaya são as principais propriedades do vinho de Bekaa.

Hoje, a maioria das uvas é cultivada na parte sul do vale, embora haja algumas vinhas próximas a Baalbek, uma fortaleza do Hezbollah que de alguma forma sobreviveu. O Vale de Beeka se tornou uma região relativamente perigosa, por vários fatores como a grande quantidade de refugiados que tem abrigado, a proximidade com a Síria e o fato de diversas cidades serem dominadas pelo Hezbollah, que tem mantido sua atenção redobrada por causa de toda situação. Tirando a região de Zahlé e imediações, onde a população é majoritariamente cristã, no momento não é recomendado se aventurar por essa região sem antes buscar mais informações no site do Consulado-Geral do Brasil em Beirute.


A segunda maior região produtora de vinhos do Líbano se localiza no norte do país, em Batroun, sendo também a que mais se expande e hoje possui oito vinícolas. Nessa região os vinhedos localizam-se em ambientes bastante diversos, entre 400 e 1400 metros de altitude, tanto em encostas voltadas para o mar, como para o interior, dando origem a vinhos tintos potentes e brancos bastante interessantes.


Em termos de viticultura, bem como turísticos, Batroun tem muito potencial a ser explorado é uma região do Líbano onde o conflito na Síria, até agora, teve poucos reflexos, sendo portanto possível e segura para turistas. Nesses tempos de relativa tranquilidade, Batroun é um ótimo lugar para turismo e enoturismo, com belos vinhedos voltados para o mar, linda paisagem montanhosa e monumentos históricos, como a Muralha Fenícia, construída há aproximadamente 4000 anos, o Castelo de Batroun, da época das Cruzadas, e ruínas Romanas, isso além da interessante e movimentada noite que possui a cidade.


Na parte central do país, próximo a capital Beirute, também existem vinhedos plantados na região conhecida como Monte Líbano. A vinicultura nessa região também é bem antiga e assim como em Batroun seus vinhedos estão situados em diferentes altitudes e principalmente em encostas voltadas para o mar, sendo possível elaborar vinhos de diferentes estilos.


Nessa região, em Ghazir, está situada a vinícola do Chateau Musar (que curiosamente, não possui vinhedos aqui, só no Vale de Bekaa), além de outras seis vinícolas. Essa região do Líbano também está relativamente tranquila, é bem turística e pode ser visitada em segurança.


Por último, no sul do Líbano, mais especificamente em Jezzine, há também uma vinícola a Karam Winery, que vem surpreendendo pela qualidade de seus vinhos, demonstrando o potencial e criando perspectiva para vinicultura em mais uma região do Líbano. Com relação ao turismo, Jezzine é uma bela cidade histórica cercada por florestas de pinheiros (Pinus pinea) e está bem tranquila apesar de toda instabilidade que existe mais ao sul do Líbano e em Sidon.


Combinar algo da sofisticação de Bordeaux com o calor e o tempero do Mediterrâneo é o que o Líbano faz de melhor! Que tal provar um vinho libanês? Saúde !!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).

1 Comment


brunoma
Oct 24, 2022

Excelentes artigos, Prof Marcio, muito bons na descrição e ricos em história e informações valiosas sobre as vinicolas do Libano. Vale sim provar estas maravilhas cultivadas com inspiração bordalesa

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