A história do champagne esteve sempre ligada as comemorações da nobreza, sendo a bebida da aristocracia na corte francesa do século XVIII, estando presente em todos os jantares de gala, e criando uma imagem de sofisticação e luxo que a acompanha até hoje, além de simbolizar alegria e abundância – já que a rolha “estoura” e o líquido flui e esse “estouro”, além da bebida, é um símbolo de comemoração.
O vinho que era feito na região de Champagne no tempo de Dom Pérignon nada tinha a ver com o espumante. Para começar, era tinto, não branco. Além disso havia um problema muito sério, derivado das condições climáticas, em que o vinho feito no início do inverno tornava a fermentar, a criar uma efervescência, quando a temperatura começava a subir na primavera. A produção em massa de um tipo de garrafa que não explodisse e a utilização da rolha de cortiça completaram o cenário que levaria ao espumante ao sucesso mais tarde.
Durante a Revolução Francesa boa parte dos seus consumidores acabou na guilhotina ou fugiu para outros países, levando o desejo de continuar bebendo o espumante. O fascínio da corte russa pelo champagne era antigo e mesmo durante o período das “Guerras Napoleônicas”, quando foi exercido um forte bloqueio dos portos europeus para que nada saísse ou entrasse na França, boa parte da produção foi contrabandeada.
Após a derrota de Napoleão, o Champagne entrou oficialmente nas cortes estrangeiras, conquistando um lugar destacado nas taças da nobreza europeia.
No entanto, o vinho desta época tinha três diferenças em relação ao espumante que bebemos hoje:
1- Havia um problema no vinho, com os resíduos da segunda fermentação que permaneciam na garrafa, fazendo com que a bebida tivesse uma aparência turva. Foi Madame Clicquot-Ponsardin ao se tornar viúva (Veuve Clicquot) que assumiu o controle de uma das mais importantes Maisons da região de Champagne, preferindo a duras penas não vender seu patrimônio para outros produtores, uma vez que na época, a produção de vinhos era atividade eminentemente masculina.
Com ajuda de seu mestre de cave, Anton von Müller, por volta de 1816 a 1818 (não há data precisa para o fato, uma vez que ela foi fazendo várias experiências), desenvolveu a técnica de remuage que consiste em encaixar as garrafas pelo gargalo nas pupitres (cavaletes especiais) aplicando rotações periódicas nas garrafas e inclinações progressivas do pupitre, até que fiquem com o gargalo para baixo e os resíduos, ou “borras” (os restos de leveduras mortas após a segunda fermentação), se acumulem no gargalo da garrafa.
Esse processo pode levar meses e, ao final, o gargalo é congelado, a tampa da garrafa é aberta e os sedimentos são expelido por pressão (dégorgement), que retira todas as impurezas, fazendo com que o vinho fique límpido e transparente, como o conhecemos hoje. Após esse processo, a Veuve Clicquot adicionava nas garrafas o licor de expedição, uma espécie de xarope, para dosar a doçura do Champagne.
Com o tempo, houve uma evolução do processo de dégorgement (em português, “degola”), operação destinada a retirar o depósito com o mínimo de perda de líquido. As garrafas são mergulhadas de cabeça para baixo numa solução refrigerante a cerca de 20 graus negativos, congelando exatamente a parte do gargalo onde se acumularam as leveduras mortas. É o que se chama de “dégorgement à la glace”, inventado em 1884, nas caves da Maison Henri Abelé, hoje amplamente utilizado em toda a indústria. As garrafas são abertas logo em seguida e o depósito, na forma de um cilindro congelado, é expulso pela pressão do gás carbônico.
Pode-se dizer que Veuve Clicquot fez muito pelo Champagne, uma vez que em 1810, ela já tinha feito o primeiro champagne Millesime (elaborado com uvas de uma única safra) registrado na região. Em 1818, ela criou o primeiro champagne rosado, ao misturar vinhos tintos da propriedade na bebida. Além disto, ela foi um modelo para outras famosas viúvas da região, tais como Louise Pommery, Lily Bollinger e Mathilde-Émile Laurent-Perrier.
Algumas décadas depois, seria a vez de Louise Pommery, aos 39 anos, assumir a casa de champanhe da família. O chefe da adega conta que foi Madame Pommery quem inventou o brut, versão menos açucarada de espumante que o mundo inteiro consome até hoje. O sucesso foi tanto que, por volta de 1860, ter uma viúva à frente das casas de vinho virou sinônimo de qualidade e boas vendas. Algumas famílias produtoras não tinham nenhuma, mas mesmo assim colocaram uma “viúva” fictícia nos rótulos.
Apesar das regras de elaboração não terem mudado ao longo do tempo, é bom lembrar que o método de vinificação utilizado na produção do champagne é chamado Champenoise. Como todo vinho espumante, a bebida passa por duas fermentações. Nessa técnica, a segunda fermentação ocorre dentro das próprias garrafas. Se algum produtor da França, fora de Champagne ou de qualquer outro país utilizar esse método, ele não é chamado de Champenoise, mas sim de Tradicional ou Clássico.
2- Até 1846, o Champagne era uma bebida de paladar doce, não existindo o seco (brut) ou o meio seco (demi-sec). O alto teor de açúcar adicionado pelo licor de expedição (mais de 150 gramas por garrafa) visava agradar os diferentes mercados da bebida, como a Rússia, a França e os Estados Unidos, que a preferiam doce. Foi uma firma inglesa que primeiro encomendou um vinho espumante sem açúcar, que durante certo tempo foi somente consumido na Inglaterra. A versão inglesa era uma bebida mais cara, e consumi-la virou sinal de poder aquisitivo. No início do século XIX tomar champagne já era costume mundial.
3- As garrafas de Champagne costumam explodir com facilidade. Para garantir uma temperatura estável para que as garrafas não explodissem durante o período de repouso, os produtores resolveram colocá-las em adegas subterrâneas no solo calcário de Champagne. Estas caves foram formadas desde a época dos romanos, para retirada de pedras para construção dos palácios. Mesmo com esse truque, dependendo da safra, entre 20 e 90% do vinho engarrafado explodia. Foram os ingleses que desenvolveram as garrafas mais resistentes, durante a Revolução Industrial.
O CHAMPAGNE DO CZAR - Por uma solicitação do Czar Alexandre II - da Rússia, em 1867, à Maison Louis Roederer, o Champanhe Cristal foi criado. Há algumas lendas sobre por que a garrafa ter exigência de ser transparente;
- Há a hipótese por conta do ambiente revolucionário da época, e a transparência evitaria que algum artefato fosse escondido e atentasse contra sua vida. Esta precaução mostrou-se verdadeira quando em 1880 uma bomba viria a explodir justamente na sala de jantar de seu Palácio de Inverno.
- Há outra versão (francesa), que diz que o czar achava essa bebida bela demais para ficar escondida por trás de vidro opaco e grosseiro. Além disto, sendo transparente, a adição de algum veneno poderia ser percebido pela alteração da cor do vinho.
De qualquer forma, o czar exigiu que suas garrafas fossem personalizadas e sugeriu que fossem fabricadas no mais puro cristal. Queria não apenas se diferenciar de outros rótulos eventualmente servidos nos concorridos banquetes que reunia a elite da nobreza, mas também impressionar os convidados. O chambellan (espécie de copeiro mor) do czar, vinha a Reims provar os melhores vinhos de Champagne.
As primeiras garrafas foram feitas de Cristal Baccarat, daí o nome Cristal. Apesar da garrafa não ser mais feita atualmente de cristal Baccarat como antigamente, a garrafa branca e o nome continuam, para manter a tradição. Todas as garrafas bebidas eram sistematicamente quebradas, capricho pessoal do Czar, sem maiores explicações.
O Czar Nicolau II - neto de Alexandre II, determinou em 1909 que a Maison Louis Roederer se tornasse a fornecedora oficial da Corte Imperial Russa.
O Champagne Cristal, tal como hoje o conhecemos, é um vinho recente para consumo público em 1924 (25.000 garrafas nesta safra) para a Europa, e após a Segunda Guerra Mundial, para outros países. O Cristal é atualmente o Champagne do Palácio do Eliséu (sede do governo francês) e da Coroa Britânica.
São produzidos 03 rótulos de Champanhe Cristal - Cristal Brut Branca (com rótulo dourado como o Czar), Brut Premier Branca e Brut Premier Rosé. Atualmente o champagne Cristal, a exceção de lotes especiais, chega ao mercado em garrafas de vidro branco, mas sem perder o glamour a e sofisticação comum a uma marca que somente elabora seu vinho em safras excepcionais, quando são produzidas cerca de 600 mil garrafas (algo que parece uma brincadeira perto dos milhões de garrafas produzidas por outras Maisons), envelhecidas por 6 anos.
O Cristal é um corte de 55% de uvas Pinot Noir e 45% de Chardonnay, e alguns críticos dizem que ele concilia melhor o corpo e a finura, a elegância e a vinosidade, num este estilo marcado por um inteligente equilíbrio sinfônico, orquestral.
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet e minhas considerações).
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