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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“MASTER CLASS SUSANA BALBO”

Participar de uma “live” organizada pela Cantu Importadora, e escutar a história de vida de Susana Balbo é algo que ajuda muitos de nós que estamos vivendo dificuldades durante a pandemia a dar um passo à frente na esperança que tudo vai passar se mantivermos o mesmo espírito empreendedor de Susana nos nossos atos.

Nascida em família tradicional, ela mudou o foco de estudar física nuclear para enologia, numa época em que esta era uma profissão exercida apenas por homens. Desta forma, Susana Balbo se formou como a primeira enóloga da Argentina, em 1981, trabalhando durante boa temporada como chefe de laboratório de enologia da Vinícola Arizu.


Depois, foi selecionada por sua grafologia para trabalhar na Bodega Michel Torino, onde foi responsável por colocar a casta Torrontés no mapa do vinho argentino, criando um estilo seco e fresco. Voltando para Mendoza, trabalhou em grandes vinícolas como a Catena Zapata, sem contar as inúmeras atividades como consultora tanto em empresas da própria Argentina quanto em países como Espanha, Chile, Itália, Brasil, Austrália e Estados Unidos.


Inicialmente, suas criações eram consideradas femininas demais, não eram vinhos para vender. Mas uma surpresa aconteceu e mudou a trajetória de Susana Balbo: um de seus vinhos foi escolhido por uma companhia aérea para ser servido na primeira classe. E isto alavancou sua carreira internacional. Desta forma, em 1999, seus vinhos chegaram aos Estados Unidos e à Inglaterra. Logo depois ao Brasil. E foi nesse ano que também passou a fabricar os próprios vinhos, com uvas dos próprios vinhedos, dando início à Dominio del Plata, mais recentemente, rebatizada com o seu próprio nome. É uma vinícola familiar, na qual os dois filhos de Susana, José - formado em enologia, e Ana - em administração de empresa, também participam.


Diferentemente do Brasil, a Argentina sempre manteve uma forte identidade europeia e, com ela, o consumo de vinho pela sua população era de grandes proporções. Nos anos 60 o consumo per capita chegava a impressionantes 90 litros por habitante. No entanto, grandes quantidades nem sempre indicam boa qualidade, e o vinho produzido até então podia ser considerado bastante rústico, de baixa qualidade. Como consequência, o consumo de vinho pelos argentinos caiu drasticamente nos anos 80, de 90 para 55 litros per capita.


Até o início da década de 80, a presença de vinhos argentinos de qualidade no exterior era quase insignificante. Em 1983, a Argentina era o quinto maior produtor do mundo, com quase 25 milhões de hectolitros, atrás apenas de Itália, França, Espanha e a ex-União Soviética. Esse cenário só mudou quando os produtores começaram a privilegiar a qualidade e não a quantidade.


O que parecia ser uma crise duradoura no setor de vinho do país, no entanto, deu origem à uma a fase completamente nova da vitivinicultura argentina. Junto com os anos 90 chegou o neoliberalismo e, com ele, um novo modelo de economia, que integrou a Argentina ao mercado capitalista global. A tecnologia de ponta chegou aos vinhedos argentinos, transformando as vinícolas em moderníssimas unidades de produção de vinhos, em menor quantidade, mas com muita qualidade.


Susana Balbo teve papel fundamental na condução dos objetivos da Wines of Argentina, para divulgar a qualidade do vinho argentino pelo mundo, atraindo periodistas para conhecer as bodegas “in loco”, além da participação em algumas feiras internacionais de vinhos. Atualmente a Argentina é o 8º maior produtor do mundo, e exporta 35% do vinho produzido. O volume produzido de vinho na Argentina equivale a 13,4$ da produção mundial.


Durante a live, tivemos a oportunidade de assistir uma verdadeira aula sobre Terroir com Edgardo del Popolo, carinhosamente chamado de Edy.


Começou falando sobre a região de Agrelo, onde os solos de argila são francos, e onde nasceu o grande vinhedo do Malbec argentino. Depois falou sobre a região do Uvo, com solos aluvionais (a área do Vale do Uco equivale a toda a Borgonha), que tem sido profundamente estudado, com suas zonas subdivididas por climas e quantidade de calcário no solo.


A casta Malbec pede calcário, enquanto o Cabernet Sauvignon gosta de pedra lavada. A quantidade de calcário sob forma de carbonato de sódio é alta. Para se ter ideia, em Chablis, Côte d´Or e Piemonte, o teor é de 14%, enquanto Gualtallary chega a ter 40%.


Neste ponto degustamos o Cabernet Sauvignon Signature 2017, produzido a partir de vinhedos no Uco, plantados a 1285m de altitude, num corte de 93% de Cabernet Sauvignon e 7% de Malbec. Passa 13 meses em barricas de carvalho francês, sendo 30% novas e 70% de segundo uso. O vinho mostrou bom corpo, com bom ataque em boca, e boa acidez. Os taninos estão presentes, criam uma boa tensão, mas não incomodam. Um vinho com perfil gastronômico. Achei sabores e aromas de groselha negra, frutas secas como avelãs, flores secas e cedro. Um acabamento fino e maduro.


O Cabernet Sauvignon de solo argiloso costuma mostrar aromas de erva, com mais pirazina e taninos redondos. A pirazina é responsável pelo aroma que lembra especialmente o pimentão verde. Há castas que a têm em maior presença que outros, como por exemplo, a Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc. A Carmenere também a tem em menor grau também, e também a Merlot entra nessa lista. A pirazina é naturalmente, encontrada no cacho da uva e sua concentração diminui à medida que as uvas amadurecem. Por exemplo, se se colhe a Cabernet Franc antes da maturidade natural (quando não há mais produção de açúcar na baga), esse vinho quando é terminado tem um aroma mais forte de pimentão verde do que o habitual. Outros fatores que influenciam a quantidade de pirazinas no vinho são: a temperatura de maturação da planta (uma temperatura mais elevada cria mais concentração), algum trabalho feito durante a fermentação, a forma como foi produzido o vinho e o envelhecimento em garrafa.


O Cabernet Sauvignon de solo calcário mostra aromas e sabores de frutas negras (especialmente o cassis), com taninos mais firmes e algo de pimenta negra.


A seguir degustamos o vinho Ben Marco Expresivo 2018, resultado de uma safra quente, mas não tão quente como 2017! Safras quentes criam vinhos expressivos e intensos a princípio, mas menos longevos, ficam prontos mais rápido. Safras frias criam vinhos mais transparentes, e mais longevos.


Originado de vinhedos plantados a 1285m de altitude, fruto de um corte 85% Malbec e 15% de Cabernet Franc. Passa 14 meses em barricas francesas, sendo 70% novas e 30% de segundo uso. Este vinho mostrou boa tipicidade, com um estilo de frutas negras maduras e notas florais, de tabaco e de especiarias. No paladar estava redondo, untuoso, com acidez na medida, taninos macios e final persistente, com toques de chocolate. Grande potencial de guarda, estimada para até 20 anos!


Entramos então numa discussão comparando os terroir de Gualtallary ao norte do Vale do Uco e Altamira, ao sul do mesmo Vale. Gualtallary tem enorme diversidade de climas, de solos, de tudo! Altamira tem mais uniformidade de clima e solos, mais homogênea, e vinhedos plantadis mais baixos, entre 900 e 1200 metros de altitude.


Chegou a hora de provar o Nosotros 2014, um Malbec 100%, criado em Altamira a 1150 metros de altitude. Passa 16 meses em barricas francesas, sendo 80% novas e 20% de segundo uso. A safra 2014 foi fresca, criando taninos elegantes, mas persistentes. O vinho tem aromas de frutas negras de grande persistência, notas de violetas, toque de menta. O potencial de guarda do vinho sugerido para entre 10 a 15 anos.


Conhecida como a Grande Dama da Torrontes, tivemos a oportunidade fazer um brinde com o Signature Torrontes 2018. Para criar este vinho, a equipe da vinícola experimentou 20 barricas distintas com níveis de tostados diferentes (entre 175 a 190ºC – por tempo entre 2 a 4:30hs), num trabalho que levou 2 anos de experimentação para encontrar a barrica ideal. No final, elegeram 4 entre as 20 barricas. As uvas são provenientes de Altamira, e o Torrontes quando colhido antes da maturação ideal lembra o Sauvignon Blanc, com algo de ervas, cítricos, maracujá azedo. Quando colhido mais maduro mostra o floral característico de muitos vinhos. Deve-se ter um cuidado especial com o amargor da tosta da barrica, porque a uva tem seu próprio amargor e produzir um Torrontes fermentado em barricas não é fácil.


Enólogos costumam dizer que: -“O que tem nas barricas de carvalho, só Deus sabe!”, repetindo o produtor francês Didier Dagueneau, falecido em 2008.

O vinho em si mostrou uma acidez equilibrada que combina harmoniosamente com sabores intensos de frutas. Achei um vinho de corpo médio, redondo e de textura sedosa, bem elegante, com nota tostada bem integrada ao conjunto. Um vinho para acompanhar comida, com potencial de guarda de 7 a 8 anos.


A seguir tivemos uma discussão sobre o futuro de novas regiões, e vimos que em breve os Malbec serão únicos, regionalizados, como de um terroir diferenciado como na Borgonha.

Sobre a Bonarda, a uva tem sua história e tradição, mas é difícil de vender. A videira é muito produtiva, precisa-se ter cuidado com o rendimento da planta e maturação das uvas para evitar os taninos rústicos da casta.


Fim da Live, fiquei com 6 folhas de anotações para criar este artigo ...


Com seu compromisso com qualidade e inovação, Susana foi nomeada pela segunda entre as 10 “Mulheres Mais Influentes do Mundo do Vinho” pela revista americana Drinks Business e ganhou as maiores premiações para seus vinhos até receber a consagração com 99 pontos do James Suckling para o vinho Nosostros. Certeza de novos grandes vinhos virão !!! Saúde !!!

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