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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“MARIA ANTONIETA E LUIS XVI E SEUS VINHOS – PARTE 1”

A eclosão da Revolução Francesa surpreendeu por sua magnitude Luís XVI e sua rainha Maria Antonieta. "Pão, pão! "Gritavam as mulheres nos portões do Palácio de Versalhes durante o dia 5 de outubro de 1789. Elas reclamavam da falta de alimentos e do alto preço do pão. Escassez de víveres, violência nos mercados e inflação galopante eram parte da realidade da população que chegava a gastar quase a metade de seus rendimentos para comprar... pão.

No meio desta população também havia vários homens implorando por vinho. O motivo de tanta agitação popular foi o banquete oferecido, nos salões da Ópera, às tropas do regimento de Flandres convocadas para proteger o rei e sua família e permitir sua fuga em segurança.


A angústia de ficar sem pão havia atingido seu ápice entre as pessoas àquela altura. Este fato foi corretamente transcrito nos livros didáticos da República, enquanto a necessidade do vinho voluntariamente permaneceu ausente. Esta queixa tornou-se ainda um refrão popular da tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789. A origem deste descontentamento residiu principalmente na construção em 1787 de uma nova barreira fiscal para controlar a entrada e comércio de vinho em Paris, seguida de restrições ao fornecimento de vinhos e um aumento dos impostos.


Uma forte insatisfação e um sentimento de desigualdade foi sentido pelas pessoas comuns que não tinham acesso a água potável ou outros substitutos para suportar a dura vida do trabalho árduo e a pressão dos impostos cobrados. O vinho, no final do século XVIII era uma mercadoria necessária, quase vital para a população parisiense. A água era escassa. A distribuição de água potável para todos não aconteceria até 1800 com a construção do Canal de Ourcq. O grande Lavoisier estimou em 1785 o consumo individual de 150 litros por ano para uma população global de 750.000 habitantes de Paris, e 350 litros para a ingestão anual de vinho por um homem adulto na cidade, ou seja, praticamente 1 litro por dia por habitante.

Essa realidade estava longe das preocupações diárias de Luís XVI. Moderado consumidor de bebidas alcoólicas em comparação com seus ancestrais de prestígio, o rei não conseguia entender essa necessidade da população. As pessoas das classes menos privilegiadas recordavam dos jantares e ceias de Luís XIV e Maria Antonieta, que bebiam vinho tinto da Borgonha (Nuits-SaintGeorges), os vinhos de Amboise no Loire, de Orleans, da Ile-de-France e especialmente Champagne, para garantir as graças de Madame de Pompadour para Luis XVI e entreter Maria Antonieta e seus amigos da aristocracia.


Luis XVI era um fã de água, de uma vida saudável, conduzida por um racionalismo científico desenvolvido e aconselhado pelo grande navegador La Pérouse. Ele não permitia embarcar vinho ou conhaque em seus navios, mas sim farinha de malte e frutas diversas visando a boa alimentação e o combate ao escorbuto.


No entanto, vários depoimentos confirmam o lugar de destaque dado ao champagne na mesa de jantar e festas no Palácio de Versalhes, Marly ou Trianon, onde Maria Antonieta jogava com amigos e assistia apresentações de pequenos grupos teatrais.


Como rainha, Maria Antonieta ignorava as odiadas regras de etiqueta, passando a dedicar-se à diversão. Ela reuniu em torno de si um grupo de jovens nobres que jogavam milhões em cartas. Nas noites, ela participava de bailes de máscaras, mesas de jogos e festas de ceia muitas vezes acompanhada, enquanto o rei dormia, o que acabou gerando maledicências na corte.

Jamais conseguiu falar o francês corretamente. Recebeu aulas de teoria e solfejo, harpa e cravo. Frequentou o teatro e participou de salões intelectuais. Conviveu com filósofos, compositores, romancistas, teatrólogos. Mas jamais se livrou da imagem de mulher fútil. Venerada inicialmente pelo povo francês, que admirava sua beleza, passou a ser odiada ao combater as reformas econômicas e políticas imprescindíveis para o país emergir da crise abissal. Os jornalistas panfletários e os mexeriqueiros afirmavam que ela reagiu aos clamores do povo faminto cunhando esta frase debochada: - “Se não têm pão, que comam brioches”. Pura lenda.


A frase já tinha sido dita antes e duas vezes. Uma em 1660, pela princesa espanhola Maria Teresa, que se casou com o rei francês Luís XIV; outra, em 1751, pela Madame Sofia, filha de Luís XV, ao saber que seu irmão, o delfim Luís Fernando de França, fora cercado em Paris por uma multidão que gritava “pão, pão”.


De acordo com o senso comum, Maria Antonieta detestava os pobres e agia de forma muito rígida. Entretanto, há quem diga o contrário: ela teria fundado lares para mães solteiras, visitava e dava alimentos a famílias pobres e, durante a fome de 1787, vendeu talheres reais para comprar grãos aos necessitados. Além disso, lendas afirmam que ela teria auxiliado um produtor de vinho atingido por sua carruagem, pagando pelos cuidados médicos e ajudando sua família até que ele pudesse voltar ao trabalho. Uma informação pouco conhecida, entretanto, é que Maria Antonieta também foi mãe adotiva. Ela tomou para si uma das filhas de uma criada falecida e os três filhos órfãos de um porteiro de Versalhes. Aliás, o amor pelas crianças foi o que a impediu de fugir da França sozinha, quando teve a oportunidade, durante a Revolução Francesa. “Não teria nenhum prazer no mundo se os abandonasse”, teria dito ela na ocasião.

Maria Antonieta gostava de champagne e sempre se lembrava das boas-vindas dadas para a futura rainha de França por Florens Louis Heidsieck, que veio a Versalhes para oferecer-lhe um litro de seu melhor vinho Champagne. Esse produtor austríaco de nascimento, às vezes cedia a Maria Antonieta o vinho típico da Alsácia de colheita tardia, que lembrava o Tokay húngaro, tão apreciado pelos ancestrais imperiais da rainha.


Na verdade, os vinhos favoritos da corte de Maria Antonieta eram os vinhos brancos da Borgonha, especialmente da Côte de Beaune, como Montrachet e Meursault. Em tinto, os vinhos preferidos eram os de Gevrey do produtor Morizot, Vougeot da propriedade de Bouhier, vinhos da propriedade de Louis Max em Nuits-Saint-Georges e os famosos príncipes de Conti com seus vinhos de Romanée. Comerciantes como Bouchard, Patriarche e Latour foram nomeados fornecedores oficiais da Corte (aliás, continuam sendo grandes nome até hoje!)


No Palácio de Versalhes em 1789, o serviço de vinhos à mesa foi reduzido a sua pior expressão por medida de economia. O "serviço francês", que consistia em apresentar vários pratos simultaneamente para entradas, assados, sobremesas, petiscos (servidos a meio da ceia), frutas e doces, obrigava o serviçal a atender cada convidado um de cada vez a partir do Rei. O serviço da bebida era feito com uma jarra ou garrafa sem rótulo, simplesmente sendo servido um vinho para quem o pedisse, sem levar muito em conta os alimentos consumidos, ou seja, sem a menor preocupação com harmonização. Nenhuma garrafa ficava na mesa; copos e garrafas repousavam sobre aparadores ou mesas elevadas.


Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet e minhas considerações)

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