Em recente viagem a Portugal, para participar do casamento de uma afilhada, me dei conta de quão perigosa a cidade de Lisboa e sua região podem ser para os amantes de vinhos.
A região vinícola de Lisboa, como o próprio nome indica, fica próxima à capital de Portugal, na costa oeste do país. Banhada pelo Oceano Atlântico, está localizada entre a transição dos ventos úmidos do oeste e os estios secos.
Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e secos, uma vez que fica na “esquina da Europa”. Seu solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas, terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes. Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região.
O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho.
A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada para recuperar a produção vinícola. Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.
A região dispõe de grande pluralidade de condições de cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação, regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica, espumantes e de uso na mesa.
Coletivamente, a região produzia um volume maior de vinho do que qualquer outra em Portugal, mas há muito tempo, por conta disto, tinha uma reputação de baixa qualidade, dominada por cooperativas e a produção de vinhos de mesa, destinados para os inúmeros bares e restaurantes da zona da Ribeira do Tejo.
Tudo começou a mudar com o foco em qualidade e a região que era conhecida até 2008 como “Estremadura”, (mas o termo causava confusão com a região vinícola de mesmo nome situada na Espanha), passou a nomeada em 2009 em homenagem à capital - Lisboa.
A região vinícola de Lisboa, tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil hectares aptos à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada.
A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte central e Encostas D’Aire ao norte.
Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambas naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).
● Denominações de origem de Lisboa - Assim como outras grandes regiões vinícolas, Lisboa é dividida em denominações de origem, cada uma com suas próprias particularidades, e que produz tipos diferentes de vinhos. As três Denominações mais próximas da capital - Bucelas, Colares e Carcavelos - estão desaparecendo lentamente devido às pressões inexoráveis da população urbana em expansão.
♦ DOC de Carcavelos - Localizada ao sul de Lisboa, próxima do rio Tejo, é uma denominação de origem muito tradicional em Portugal, se dedicando à vinicultura desde meados do século 18.
Os principais vinhos produzidos na região são os fortificados e envelhecidos, com cor de topázio e sabores e aromas amendoados. Carcavelos sofreu o máximo nas especulações imobilizações suburbanas, apenas 25 hectares de vinha permanecem. Os vinhos tintos são produzidos a partir de um mínimo combinado de 75% Castelão e Preto Martinho, e os vinhos brancos são uma mistura de Arinto, Galego Dourado e Ratinho. Os vinhos são fermentados secos, depois são fortificados e adoçados com vinho abafado, um mosto parcialmente fermentado, preservado com álcool. Após a fortificação, os vinhos Carcavelos são envelhecidos em barril por pelo menos dois anos, seguidos de pelo menos seis meses em garrafa.
♦ DOC Colares - Os principais vinhos produzidos na denominação de origem de Colares são os tintos delicados, com corpo leve e taninos intensos, feitos com a uva Ramisco, que é típica da região. Os vinhos de Colares podem ser tintos ou brancos; seus solos arenosos forneceram um baluarte contra a incursão da filoxera e as videiras da região foram tradicionalmente plantadas em trincheiras para protegê-las dos ventos salgados do mar. Ramisco e Malvasia em pé franco representam pelo menos 80% dos vinhos tintos e brancos de Colares, respectivamente. Um segundo, tipo de solo mais difícil, o chão rijo, está localizado mais adentro da denominação, e a uva Castelão é mais frequentemente plantada lá.
♦ DOC Bucelas - É conhecida por sua excelente produção de vinhos brancos e espumantes. Entre as técnicas utilizadas, é possível citar o processo de fermentação fria, a colheita tardia das uvas e o método Champenoise. A principal característica que aparece nos vinhos de Bucelas é a acidez, originada tanto das uvas Arinto e Esgana Cão, quanto do clima sub-Mediterrâneo. Bucelas produz vinhos brancos secos de um mínimo de 75% de Arinto.
♦ DOC Arruda - Por fim, outra denominação notável é a de Arruda, situada na região central de Lisboa. Fica à margem direita do Rio Tejo e é irrigada por seus afluentes, além de possuir um clima temperado mediterrânico. Entre os vinhos cultivados na região estão tintos intensos e envelhecidos e brancos leves e aromáticos, ambos de altíssima qualidade.
Muitos leitores do Vinotícias perguntarão onde o perigo começa? Pois bem, podemos começar pela facilidade de falar a mesma língua, apesar de que mesmas palavras não tenham o mesmo sentido. Aqui falamos taça de vinho, na Terrinha é copo. Aqui falamos moça, lá rapariga – se trocar a palavra pode levar um tapa no rosto! E vamos citando 4 vinícolas próximas a Lisboa. São elas:
♦ Quinta da Bacalhôa - Localizada na cidade de Setúbal, a vinícola está a 40 minutos de Lisboa, e é uma das mais famosas do país. A propriedade é muito bonita, com jardins e instalações muito bem cuidados e produz uma grande variedade de vinhos; do branco moscatel, ao tinto e ao rose.
♦ Quinta da Alorna - Localizada em Almeirim, a 1 hora de distância de Lisboa, produz vinhos concentrados e de sabor intenso. Aproveite e visite o Jardim das Portas do Sol, a Igreja da Graça e a Sé de Santarém.
♦ Cartuxa – Localizada em Évora, a 2 horas de distância de Lisboa, produzindo vinhos jovens, fáceis de beber e para consumo imediato. Se for conhecer a Cartuxa, aproveite para visitar a Capela dos Ossos, o Templo Romano e a Praça Giraldo.
♦ Herdade do Esporão - Fica a 2 horas e meia de Lisboa, em pleno coração do Alentejo, produzindo uma grande diversidade de vinhos brancos e tintos numa propriedade de 700 hectares de vinhas. Fica próxima da cidade de Évora.
E em seguida algumas dicas de lojas que vendem vinhos. Recomendo antes de viajarem, que façam uma lista comparativa dos valores dos rótulos que pretendem comprar e trazer na mala. Esta atitude pode ser uma grande econômica quando se vê que rótulos de 30 euros (R$ 170), serem vendidos aqui por R$1.000,00!!!
● El Corte Inglês – se apresentar seu passaporte brasileiro ganha um cartão de descontos de 10%(vale para vinhos, mas não vale para todos os setores do shopping) mais bonificações a cada compra, além da devolução do IVA (o Imposto de Valo Agregado é devolvido por você ser turista). Pode-se receber em dinheiro no aeroporto de saída, ou pelo cartão de crédito utilizado. O Espaço Gourmet é um verdadeiro paraíso de Baco.
● Garrafeira Nacional – outro espaço formidável, com grandes rótulos em promoção. Fica na Rua Santa Justa, 18 – Lisboa. Tem um site fácil de trabalhar e você pode fazer tudo pela internet.
● Garrafeira Estado d´Alma – menos conhecida, mas que vale a pena ser visitada pelo amante de vinhos. Fica na Rua Alexandre Herculano, 45A – Lisboa.
● Temple Wines – do querido amigo Guilherme Correa e seu sócio Igor Beron. Entre em contato com eles, receba o portfólio, escolha o quer! Faça seu pedido e receba no Hotel. Nada mais fácil e a preços excelentes. Alguns dos seus rótulos (numa seleção muito apurada), são verdadeiros vinhos de contemplação. E se está achando estranho, o valor dos vinhos na Europa é de enlouquecer qualquer amantes de vinho. Na Temple Wines há Barolos de 46,90 euros, Gevrey-Chambertin de 56,80 euros, Champagne de 36 euros!!! Entre em contato com: https://templewines.eu/
Depois disto tudo, é ou não uma visita perigosa conhecer Lisboa! Saúde !! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).
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