Neste artigo o tema será os 3B´s do Piemonte.
![](https://static.wixstatic.com/media/277946_64b598019bf149fca015abb087063f7f~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_735,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/277946_64b598019bf149fca015abb087063f7f~mv2.jpg)
Barbera, Barbaresco e Barolo são talvez os vinhos mais representativos do Piemonte e como o nome de seus rótulos começa com “B”, são costumeiramente chamados de os “3B´s”. Mas eles não são os únicos a gozar deste detalhe, já que existem mais “2B´s” famosos na Toscana – o Brunello di Montalcino e o Bolgheri.
O papel do Piemonte no desenvolvimento da moderna enologia italiana é, e tem sido, fundamental, já que foi nesta região que a extraordinária revolução que levou a Itália de volta ao topo da produção de alta qualidade começou sendo que Angelo Gaja teve um papel importante nesta revolução e evolução.
A vinícola de Gaja é considerada uma das mais prestigiadas da Itália e é conhecida por produzir vinhos de qualidade superior. O fundador da vinícola, Angelo Gaja, é um colecionador de prêmios. Sua importância está relacionada com a produção de vinhos de vinhedos únicos, a adoção de tecnologia na vinificação, a valorização do trabalho artesanal e a manutenção do caráter regional dos vinhos.
Com sua genialidade e perfeccionismo, Gaja criou vinhos repletos de elegância, que colocaram o Barbaresco entre os grandes vinhos do planeta, um gênio responsável por revolucionar completamente o panorama do vinho italiano nos últimos 40 anos. Eleito várias vezes “Homem do Ano” por revistas como a Decanter e a Wine Spectator, Angelo Gaja é o maior colecionador de “tre bicchieri” (reconhecimento de qualidade italiana para vinhos), do Gambero Rosso, além de ser o único a merecer as “sei stelle” (seis estrelas) do guia, pelos mais de 60 “tre bicchieri” acumulados, que o classifica em primeiro lugar isolado na Itália.
A história da vinícola italiana Gaja tem início há mais de 150 anos, época em que Giovanni Gaja abriu um pequeno restaurante em Barbaresco e, para complementar a comida, começou a produzir e servir também vinhos. Desse modo, em 1859, Giovanni fundou a vinícola, produzindo alguns dos primeiros vinhos do Piemonte a serem engarrafados e vendidos para fora.
O objetivo principal de Giovanni Gaja sempre foi o de produzir vinhos italianos originais e autênticos – produtos artesanais que refletissem a tradição e a cultura de quem os produziu. Com o trabalho minucioso da família, o prestígio dos vinhos Barbaresco atingiu seu ponto máximo, gozando hoje do mesmo prestígio dos vinhos da comuna vizinha de Barolo. Desde então, a vinícola familiar tem sido gerenciada e moldada pelas demais gerações da família Gaja e, sob a batuta de Angelo Gaja, os vinhos do Piemonte e da Itália atingiram o mesmo patamar dos maiores vinhos do mundo.
Para atender a imensa procura por estes verdadeiros tesouros e realizar um sonho pessoal de Angelo Gaja, a família adquiriu nos anos 1990 duas excepcionais propriedades na Toscana: Pieve de Santa Restituta (Brunello), em Montalcino, e Ca’Marcanda, em Bolgheri (olha os “2B´s” ai de novo!).
O Piemonte, do ponto de vista enológico, se comparado com as outras regiões da Itália, representa uma espécie de exceção, porque aqui os vinhos são na sua maioria varietais, e os vinhos de corte são pouco. A viticultura do Piemonte é frequentemente baseada no conceito de terroir e cru, em que um determinado vinho é produzido exclusivamente com uvas de um único vinhedo (um “single vineyard”), cujo nome também é utilizado para a definição do próprio vinho em seu rótulo.
Um dos exemplos são o Barolo e Barbaresco, que refletem fielmente esse conceito de produção. Nomes como Bussia, Lazzarito, Cerequio, Rocche e Brunate são alguns exemplos de crus de Barolo, assim como Rabajà, Asili e Montestefano para Barbaresco. As áreas de Barolo e Barbaresco também oferecem exemplos para o conceito de terroir usado no Piemonte. Nestas duas áreas, localidades foram identificados com características peculiares e que conferem aos vinhos a sua personalidade. Locais como La Morra, Barolo, Serralunga d’Alba, Monforte d’Alba e Castiglione Falletto são as áreas “escolhidas” de Barolo, enquanto Barbaresco, Treiso e Neive são para o vinho Barbaresco.
O BARBERA - Barbera também é o nome de um vinho emblemático do Piemonte, mas seu nome vem da uva da qual é feito. A Barbera é a segunda uva tinta mais importante da região, mas a mais cultivada. É uma uva vibrante, que às vezes produz vinhos rústicos, mas com toques de sabores frutados, e que envelhecem em novos barris de carvalho.
De acordo com pesquisadores, a uva Barbera pode ter uma origem muito antiga. Arquivos do século 13 encontrados na comuna de Casale Monferrato, no Piemonte, contêm a inscrição “de bonis vitibus barbexinis” (ou “mercadorias de vinhas barbexinis”), uma provável menção à casta. Durante os séculos seguintes, a Barbera foi utilizada como matéria-prima para vinhos baratos e sem muita expressividade. A principal razão para isso era sua alta fertilidade: as videiras dão origem a muitos frutos de uma vez, o que acaba deixando as vinhas sem muito sabor. Já no século 19, devido à praga filoxera que dizimava as vinhas europeias, foi levada para o Novo Mundo, mais especificamente para Estados Unidos, Argentina e Austrália. Apesar disso, em nenhum desses países obteve tanto destaque quanto em seu terroir de origem.
A uva Barbera teve grande participação na reconstrução da viticultura na Itália para superar os estragos das pragas. No século 20, se destacou graças à sua alta fertilidade, se tornando uma das três varietais mais plantadas no país. Nos últimos 30 anos, tem ocorrido um resgate por parte dos enólogos, a fim de mudar a mentalidade de que a Barbera apenas origina vinhos de baixa qualidade. Para isso, têm sido utilizados os estágios em barrica e um manejo mais cuidadoso com as vinhas, para que desenvolvam melhor seu sabor e características.
Entre os vinhos Barbera produzidos na região do Piemonte, há duas denominações de origem notáveis: Barbera d’Asti e Barbera d’Alba, que são muito semelhantes.
O Barbera d’Asti é produzido nas proximidades da província de Asti, essa denominação deve ser feita pelo menos 90% com a uva Barbera. Além disso, precisa ser envelhecido por pelo menos quatro meses em barris de carvalho e apresentar teor alcoólico superior a 11,5%. Sua coloração é mais atijolada que a dos Barberas comuns, e apresenta taninos aflorados e sabor encorpado.
O Barbera d’Alba é produzido na província de Cuneo, onde está situada a cidade de Alba, as regras de vinificação são muito similares: ao menos 85% das uvas utilizadas devem ser Barbera, e o teor alcoólico mínimo precisa ser 12%. O Barbera d’Alba tende a ser mais encorpado, com uma presença maior de taninos.
Em Alba são colhidas as raras trufas brancas, que influenciam bastante o terroir. As trufas fazem parte da gastronomia local e os pratos feitos com essa iguaria costumam ser servidos acompanhados dos vinhos típicos do Piemonte. O prato típico da região é o Tajarin com trufas brancas, manteiga e cogumelo porcini desidratado.
O BARBARESCO - A história do Barbaresco começa em 1894, quando Domizio Cavazza, agrônomo e proprietário do Castello di Barbaresco, funda a Cantina Sociale di Barbaresco. Junto de outros produtores locais, Cavazza tinha a proposta de elaborar um vinho elegante e mais fácil de harmonizar com a comida do que o Barolo.
O advento da Primeira Guerra Mundial e a morte de Domizio Cavazza, em 1915, trouxe dificuldades para o Barbaresco, que só voltou a ganhar força durante a década de cinquenta, com uma nova geração de viticultores, que incluía Bruno Giacosa e Angelo Gaja.
A Denominação de Origem Controlada (D.O.C.) do Barbaresco foi estabelecida em 1966, sendo elevada a Denominação de Origem Controlada e Garantida (D.O.C.G.) em 1980.
O Barbaresco é um vinho tânico que precisa envelhecer, mas costuma ser menos encorpado do que o Barolo. Se o Barolo é conhecido como “Rei dos vinhos do Piemonte”, o Barbaresco é a “Rainha”. Assim chamado por causa da microrregião de Barbaresco, constituída por quatro municípios e localizada próxima de Barolo, o Barbaresco é comumente descrito como gracioso e possuidor de uma força que afaga.
Já o Barolo é mais robusto, austero e mais “masculino”. O volume de produção do Barbaresco é inferior ao do Barolo que, por se estender numa área maior, oferece estilos e qualidade mais variados que o Barbaresco.
Ele só pode ser produzido em três comunas, Barbaresco, Treiso e Neive, e possui apenas duas denominações: Barbaresco e Barbaresco Riserva. Além delas, os rótulos podem conter o nome do vinhedo que deu origem ao vinho em questão.
Os vinhedos do Barbaresco ocupam 680 hectares, menos da metade da área dos vinhedos do Barolo, e são um pouco mais baixos e quentes. A colheita da Nebbiolo costuma ser feita mais cedo e os vinhos produzidos lá precisam de dois anos de envelhecimento em barril e garrafa, e quatro para o Riserva.
O BAROLO - A uva Nebbiolo já era cultivada na região vitivinícola do Piemonte desde o século XIII, mas as técnicas de produção da época davam origem a um vinho leve e doce, mas com resultados muito inconsistentes de safra para safra. Isso mudou durante a metade do século XIX, quando Camillo Benso, Conde de Cavour, convidou o enólogo francês Louis Oudart a visitar a região do Barolo e melhorar as técnicas de produção locais.
![](https://static.wixstatic.com/media/277946_fc0873ab65054fc8ae6ba4c23878dd6b~mv2.jpg/v1/fill/w_557,h_744,al_c,q_85,enc_auto/277946_fc0873ab65054fc8ae6ba4c23878dd6b~mv2.jpg)
Louis Oudart realizou a fermentação da uva Nebbiolo de modo a produzir um vinho completamente seco e estruturado. Assim surgiu o Barolo. Não demorou muito tempo para que o Barolo se tornasse o vinho favorito da nobreza de Turin e da Casa de Savoia, ganhando o apelido de “Vinho dos Reis e Rei dos Vinhos”.
A Denominação de Origem Controlada e Garantida (D.O.C.G.) do Barolo foi estabelecida em 1980.Os vinhedos de Barolo ocupam cerca de 1.700 hectares e estão plantados 50 metros mais altos do que os do Barbaresco. São 11 comunas que podem produzir vinhos desse DOCG, que precisa passa obrigatoriamente por três anos de envelhecimento entre barril e garrafa, e cinco para o Riserva.
A região do Barolo possui dois tipos de solo diferentes: o solo calcário, que produz vinhos ligeiramente menos tensos e com mais fragrância, e os solos helvéticos, com mais arenito e menos férteis, que produzem vinhos mais carnudos e concentrados, exigindo envelhecimento mais longo.
Até os anos 1980, o Barolo era um vinho difícil e temperamental, que precisava de muitos anos de amadurecimento para que seus taninos fossem domados. Mas a revolução modernista liderada por um grupo de produtores chamados de “Barolo Boys” mudou o jogo: esses jovens enólogos abandonaram as grandes pipas e, no modelo de Bordeaux, passaram a usar pequenas barricas de carvalho para o amadurecimento do vinho, junto com macerações mais curtas.
Hoje em dia, essa divisão entre tradicionalistas e modernistas não é mais tão clara como no passado, já que muitas vinícolas usam barris de vários tamanhos, novas e usadas. O que é certo é que os Barolos atuais são vinhos mais redondos e macios que já chegam ao mercado prontos para serem bebidos.
Elaborado em vinhedos únicos, o Barolo é um vinho intenso e cheio de personalidade. De maneira geral, possui cor vermelha intensa com reflexos laranja. Apresenta uma grande riqueza aromática com notas florais (como rosas e violetas) e frutas vermelhas (como amoras e cerejas) quando o vinho é jovem, entretanto, com o passar dos anos, adquiri com o envelhecimento aromas como couro, alcatrão e especiarias como canela, pimenta e baunilha. Os sabores são persistentes, é encorpado e bem estruturado. Seus taninos aparentes tendem a ser domados com o tempo. É um vinho robusto, mas muito aveludado e harmonioso.
O Barolo é, sem dúvida, um vinho que evolui muito com o tempo. Quando jovem, ele é austero e bastante tânico. Para equilibrar sua potência são necessários alguns anos de envelhecimento. O vinho deve passar pelo menos 3 anos envelhecendo antes de ser comercializado, sendo que no mínimo 2 anos em barris de carvalho. Para ser um “Riserva”, o vinho deve envelhecer por mais de 5 anos. O ideal é ser consumido após 10 anos de sua produção podendo ultrapassar 25 anos de guarda.
HARMONIZAÇÕES COM BARBERA – Para harmonizar vinhos Barbera, é necessário ter em mente que se trata de uma casta com taninos pouco presentes. Isso significa que os pratos não poderão ter uma grande intensidade, ou eles podem acabar neutralizando o sabor da bebida.
Apesar disso, a acidez do vinho é uma característica bem evidente, o que ajuda a neutralizar a untuosidade dos pratos. Isso pode ser bem utilizado para fazer boas combinações enogastronômicas. Carnes bovinas ou suínas com um bom teor de gordura, porém com o sabor não tão acentuado, são ótimas opções. Pense em contrafilé, copa-lombo ou barriga de porco, sem molho e com temperos mais suaves. Carnes de caça ou ensopados também funcionam bem.
A harmonização entre vinhos Barbera e frutos do mar não é a ideal, pois o vinho pode sobrepujar seu sabor apesar de não ter muitos taninos. Entretanto, peixes de água salgada com sabor mais acentuado podem funcionar bem. Tanto para as carnes quanto para os peixes, uma sugestão é temperar com ervas frescas. Os aromas podem combinar com o vinho por similaridade, criando uma experiência bastante agradável.
Já com relação a massas, escolha molhos com pouca intensidade. Na região do Piemonte, a opção mais clássica é o talharim com molho de tomate e linguiça (com gordura e acidez) ou cogumelos.
Por fim, os queijos para harmonizar com a uva Barbera têm alto teor de gordura, mas sem apresentar muita pungência, já que o vinho não será capaz de equilibrar esse sabor. Feta, burrata ou queijos pouco curados funcionam bem. A temperatura ideal de serviço do Barbaresco é entre 15°C e 16°C.
HARMONIZAÇÕES COM BARBARESCO - Por ser um vinho mais gastronômico, o Barbaresco acompanha bem uma grande variedade de pratos. Carnes vermelhas, carnes de caça, risotos e massas com molhos estruturados são ótimas opções. Experimente também harmonizar o Barbaresco com queijos duros, como o Grana Padano, produzido no Vale do Pó, na Itália. A temperatura ideal de serviço do Barbaresco é entre 16°C e 18°C.
HARMONIZAÇÕES COM BAROLO - Por ser um vinho intenso e potente, o Barolo pede pratos de sabor igualmente intenso em sua harmonização. Carnes vermelhas, carnes de caça e massas com molhos vermelhos são opções certeiras. O Ossobuco, um prato típico da Lombardia, elaborado com stinco de vitela, também é um ótimo companheiro para o Barolo. A temperatura ideal de serviço do Barolo é entre 16°C e 18°C.
Na semana que vem escreveremos sobre os “2B´s” da Toscana, detalhando o Brunello di Montalcino e o Bolgheri. Então, gostou de conhecer um pouco mais sobre esta região italiana? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
Comentarios