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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“CURIOSIDADES SOBRE OS VINHOS DA BORGONHA - PARTE I”

Dando continuidade ao artigo das curiosidades sobre os vinhos que trazem muitas perguntas e curiosidades, agora vamos escrever sobre OS VINHOS DA BROGONHA.

O vinho da Borgonha é um dos vinhos mais distintos, caros e mesmo assim procurados do mundo. O vinho é feito de uvas cultivadas na histórica região francesa que leva seu nome e é conhecida por seu distinto terroir que contribui para seu perfil de sabor único. De forma geral pode-se dizer que a Borgonha é baseada em terroir (chamado localmente de “climat”) e dos varietais cultivados. A produção local é relativamente pequena, correspondendo a cerca de 3,5% da produção total de vinhos na França.


Apesar de se falar que geralmente os vinhos tintos são produzidos com a Pinot Noir e os vinhos brancos com a uva Chardonnay, há outras variedades locais. As principais variedades de uvas usadas para fazer vinho da Borgonha incluem Pinot Noir, Chardonnay, Gamay, Aligoté, Melon de Bourgogne e Sauvignon Blanc, todas as quais contribuem para sua complexidade natural. A Borgonha é a única região vinícola francesa que produz exclusivamente vinhos monovarietais, o que significa que todos são feitos de um tipo de uva.


A produção local é antiga, a Borgonha produz vinho desde o Império Romano em 52 a.C., o que a torna uma das regiões produtoras de vinho mais antigas da França. A Borgonha é dividida em quatro categorias principais: Grand Cru, Premier Cru, Village e Vinhos Regionais. Os vinhos de classificação mais alta são normalmente muito mais caros devido à sua disponibilidade limitada e padrões de produção de alta qualidade.


Muitos produtores de vinho na Borgonha ainda usam técnicas tradicionais, como colheita manual, desengace e fermentação em barril. Esse processo ajuda a garantir que as características únicas de cada safra sejam mantidas. A Borgonha produz alguns dos vinhos mais famosos do mundo, incluindo Domaine de la Romanée-Conti (RDC), Montrachet, Musigny e Chambertin Clos de Bèze.


Na Borgonha, os produtores geralmente possuem pequenos pedaços de terra espalhados por vários vinhedos em vez de uma grande propriedade. Isso dificulta o gerenciamento de sua produção e vendas, mas o resultado é que ajuda a criar uma grande variedade de sabores na mesma área.


Uma das principais coisas que tornam os vinhos da Borgonha tão únicos é sua capacidade de expressar terroir. Terroir é um termo francês que significa de forma simples a ideia de "gosto do lugar", que se refere a como fatores geográficos como tipo de solo, clima e topografia influenciam o caráter do vinho daquela área específica. É por isso que muitos grandes Borgonhas têm sabores tão distintos que podem ser identificados como provenientes somente desta região e que mesmo produzidos em vinhedos vizinhos possam ter aromas e sabores tão diferentes.


O clima na Borgonha também contribui significativamente para a qualidade de seus vinhos. Os invernos podem ser frios e rigorosos, enquanto os verões são quentes, mas não excessivamente quentes - condições perfeitas para amadurecer as uvas lentamente, mas uniformemente, e produzir sabores delicados de frutas com um bom equilíbrio entre acidez e níveis de açúcar.


Finalmente, outro fator que contribui para os vinhos únicos da Borgonha é sua tradição de vinificação, que se concentra na intervenção mínima, permitindo que cada terroir individual brilhe no produto final. A maioria dos produtores envelhece seus tintos em barris de carvalho ou barricas de carvalho por pelo menos dois anos antes de engarrafá-los; os brancos podem receber um período mais curto de envelhecimento, dependendo de seu estilo.

 

AS CURIOSIDADES DA BORGONHA:

 

Chardonnay não é a única uva branca na Borgonha. Pode ser a mais famosa, mas os vinhedos da Borgonha também podem cultivar a menos conhecida Aligoté, que tende a perder acesso ao terroir mais cobiçado, mas produz um vinho branco agradável, leve e mais jovem. Embora a Chardonnay seja a uva dominante na região, com cerca de 51% da área de vinhedos, ela não é a única. A Aligoté, considerada como uma “irmã” da Chardonnay (resultou do cruzamento natural da Pinot Noir e da Gouais Blanc) corresponde a cerca de 6% dos vinhedos da Borgonha. O que pouca gente sabe é que três outras uvas brancas também são plantadas na região. Elas podem, dependendo da região, ter seus vinhos classificados dentro de uma das denominações de origem locais. Apesar de fazer parte de um grupo de uvas que correspondem a menos de 1% da área plantada, a Pinot Blanc, uma mutação da Pinot Noir, é uma variedade considerada como principal, ao menos na denominação Bourgogne AOC.


Existem ainda duas uvas que não fazem parte da “família Pinot Noir” que são reconhecidas em uma denominação na região da Borgonha. São elas a Sauvignon Blanc e a Sauvignon Gris. E a denominação que é responsável por esta peculiaridade é Saint-Bris AOC, que recebeu este nome já que a grande maioria de seus vinhedos está localizada nos arredores do vilarejo de Saint-Bris-le-Vineux.

 

Pinot Noir não é a única uva tinta da Borgonha. Apesar de ser predominante na produção dos tintos da Borgonha (qualquer coisa que diga "Red Burgundy" tem que ser Pinot Noir), também há Gamay, e até mesmo um vinho chamado Bourgogne Passe-Tout-Grains que pode ter Pinot Noir, Gamay, Pinot Blanc, Pinot Gris e Chardonnay na mistura.

 

A Borgonha produz mais do que vinhos tintos e brancos. Pinot Noir e Chardonnay dominam os vinhedos da Borgonha, mas a região também produz Crémant de Bourgogne (um espumante de ótima qualidade) e uma pequena quantidade de rosé. Apesar do apelo comercial da Borgonha, a região produz quase o dobro de vinho branco que tinto.

 

O vinho da Borgonha nem sempre é muito caro. Geralmente, apesar de estar presente nas quatro das cinco posições dos 50 vinhos mais caros do mundo, ainda assim há Borgonhas acessíveis e decentes (bem-feitos). Na verdade, os vinhedos Grand Cru - os Borgonhas mais caros, com base no terroir, representam apenas 2% da região vinícola da Borgonha.

 

Não há um terroir abrangente da Borgonha. A Borgonha é basicamente uma colcha de retalhos de vinhedos, com cerca de 100 denominações diferentes - não apenas para nos confundir. O terroir, no sentido do solo, sim, mas também do impacto humano, é um fator primordial no caráter de um vinho da Borgonha. E pode variar de vinhedo para vinhedo, até mesmo vinhedos com apenas cinco minutos de distância. Eles correspondem a parcelas específicas de terra caracterizadas por qualidades geológicas e climáticas específicas.


Parte do que torna o terroir da Borgonha tão especial: é um antigo repositório de vida marinha. Muitos milhões de anos atrás, a região da Borgonha era coberta por um mar raso, e naquele mar viviam milhões de criaturas com conchas duras e ricas em cálcio. Avançando para o desaparecimento do dito mar, houve uma parte de fossilização e isto criou um terroir de marga calcária da região.

 

Parte do que torna a Borgonha tão especial foram os monges. Os monges têm muita história na produção de deliciosas bebidas fermentadas como a cerveja e o vinho. Não é de surpreender que tanto a Ordem Cisterciense quanto a Ordem de Cluny foram responsáveis ​​por cultivar e difundir a exigente uva Pinot Noir a partir de cerca de 1000 anos atrás. Felizmente, eles documentaram meticulosamente seu progresso, e assim, não apenas os métodos foram transmitidos, mas o conceito de "terroir" (que eles basicamente criaram).


Por volta de setembro de 910 o duque de Aquitânia, Guilherme o Piedoso, doou terras para que nelas fosse estabelecido um mosteiro beneditino que não se sujeitasse ao poder laico, mas tão somente a Roma, nascendo assim a Abadia de Cluny. O fundador escolheu um abade nobre da região que administrava mosteiros reformados, Bernon, abade de Baume. De imediato o abade Bernon aplicou uma rigorosa observância à regra beneditina buscando fazer do lugar um refúgio do caos que assombrava Europa na época. Além de Cluny, Bernon também tomava conta de outros mosteiros, cedidos por nobres para que estes fossem regidos segundo as regras de Cluny. Com isso a Ordem passou a não se limitar apenas à Abadia de Cluny, mas começou a se expandir por mosteiros afora.


Cluny foi a abadia medieval francesa cujo auge ocorreu nos séculos IX e X tendo se notabilizado por ter sido o maior centro de disseminação cultural daquele período. Sua enorme biblioteca e o seu grande número de monges copistas preservaram e tornaram conhecidas obras da antiguidade clássica. Para alguns historiadores, “Cluny era a Internet da Idade Média”. Uma boa analogia com o projeto de difusão da cultura que os monges estabeleceram ao criarem novas abadias não só pela Borgonha, mas por fronteiras muito mais além. A Abadia de Cluny, a mais célebre e grandiosa da Idade Média, foi em parte destruída pelo furor dos adeptos da Revolução Francesa em 1789.


A Ordem Cisterciense, fundada no século XII, período de grandes reformas na Igreja, nasceu do desejo de alguns monges de viver a vida monástica com maior pureza e simplicidade, dentro da grande família de mosteiros que seguem a Regra de São Bento. Fundada em 1098 por Roberto de Molesme, a Ordem de Cister foi estruturada por Estêvão Harding, seu terceiro abade, e obteve aprovação papal em 1119. A Ordem Cisterciense estabeleceu em Citeaux, a sua principal abadia beneditina. No ano 1113 entrou em Citeaux, São Bernardo, que em pouco tempo se tornou abade de Claraval, uma das primeiras abadias de Citeaux. Ele deu um impulso considerável ao aprofundamento da espiritualidade cisterciense e ao crescimento da Ordem que, desde o início, teve uma rica expansão missionária através dos vários mosteiros construídos em todo o continente europeu.


O carisma cisterciense chegou até nós através da reforma do século XVII, iniciada por Armand de Rancé, abade da comunidade cisterciense de La Trappe, de onde vem a origem do nome “trapistas”. Em tempos de decadência e caos na Europa, Rancé restaurou a vida monástica, começando pela sua própria comunidade. Defendeu com ardor alguns aspectos da herança cisterciense, sobretudo a sua identidade de vida retirada, contemplativa e ascética e voltou também a sublinhar o valor do trabalho manual e de uma alimentação simples e pobre.


A Revolução Francesa (1789) causou a supressão de todas as Ordens religiosas existentes na França da época, escapando dela apenas um grupo muito pequeno de monges de La Trappe que se refugiaram na Suíça, em La Val Sainte, sob a orientação carismática de Dom Agostinho de Lestrange. Daí nasce a fama da cerveja “Trapista” suíça.

 

CLASSIFICAÇÕES DE VINHOS DA BORGONHA - As classificações de vinhos da Borgonha são baseadas nos vinhedos.

 

O diagrama à direita mostra a hierarquia de vinhos na Borgonha com o número de denominações e a porcentagem da produção total para cada categoria. Para ajudar a entender os rótulos de vinhos da Borgonha, incluí uma indicação de como o vinho será rotulado junto com um exemplo de cada.

 

● Grand Cru – Apenas 1% dos vinhos da Borgonha e 33 vinhedos têm a classificação Grand Cru, por exemplo, Romanée Conti. Como seria de se esperar, os vinhos Grand Cru são os mais caros, mas também os mais complexos, e tem potencial de guarda por muitos anos.

 

● Premier Cru – Aproximadamente 10% do vinho produzido na Borgonha, mais complexo e duradouro do que os vinhos Village.

 

Os vinhos Grand Cru e Premier Cru tendem a ser produzidos a partir de vinhas nas encostas que recebem melhor luz solar e têm solos com melhor drenagem

 

● Vinhos Villages (ou de aldeia ou comuna) – 37% do vinho produzido na Borgonha tem o nome de certas aldeias ou comunas; os vinhos devem ser produzidos a partir de uvas da aldeia relevante e não necessariamente de um vinhedo específico. Se, no entanto, as uvas forem todas de um vinhedo, o rótulo pode nomear o vinhedo como Clos des Hâtes. Esses vinhos são considerados menos complexos do que os vinhos Premier Cru, mas você pode encontrar alguns vinhos realmente fantásticos, especialmente de vinhedos específicos que têm grande valor em comparação. Por exemplo, Domaine Bachey-Legros Santenay “Clos des Hâtes” Vieilles Vignes 2020.

 

● Vinhos regionais – mais da metade dos vinhos da Borgonha se enquadram nas denominações regionais mais genéricas, como Bourgogne Blanc, Coteaux Bourguignons e Crémant de Bourgogne. As uvas para esses vinhos podem vir de diversas partes da região.

 

Os borgonheses não têm medo de misturar coisas em seu vinho. Para ser justo, eles geralmente misturam coisas - como crème de cassis - no vinho Aligoté, mais leve e barato. Foi assim que o coquetel Kir foi inventado, nomeado em homenagem ao padre, prefeito de Dijon e herói da resistência da Segunda Guerra Mundial Félix Kir.


Se você ainda não experimentou um Kir, deveria; eles são realmente deliciosos. (Se você preferir um vinho espumante, ao invés do Aligoté, opte pelo Kir Royale.


Então, gostou de conhecer um pouco mais sobre o Vinho da Borgonha? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).

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