Quem conheceu os discos de vinil se lembrará que os grandes “hits”, sucessos de público e crítica estavam no “Lado A”. Na Toscana é o Lado B que nos encanta com o Brunello di Montalcino e o Bolgheri. Estão aí os “2 B´s” da Toscana!
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A Toscana é uma região vinícola de renome mundial, reconhecida pelo Chianti e pelo Brunello di Montalcino. No entanto, a riqueza da Toscana vai além desses nomes, já que conta com uma diversidade geográfica e cultural impressionante.
A Toscana abriga uma vasta gama de denominações de origem controlada (DOCs) e vinhos que exploram tanto as tradições quanto a inovação, com mais de quarenta DOCs, cada uma com características que refletem a diversidade de seus solos, microclimas e práticas vinícolas. Entre as mais notáveis estão Vino Nobile di Montepulciano, Bolgheri, Morellino di Scansano, Vernaccia di San Gimignano e Rosso di Montalcino.
A diversidade das castas cultivadas é outro ponto forte. A Sangiovese é a uva mais importante, dando origem a vinhos distintos conforme cada sub-região.
Na história recente da região, um capítulo especial foi a criação dos vinhos de Indicazione Geografica Tipica (IGT). Introduzido em 1992, o IGT reconheceu vinhos de alta qualidade que não se enquadravam nas regras rígidas das DOC´s. A classificação dos vinhos IGT oferece maior liberdade para os produtores em termos de escolha de uvas para cortes e métodos de vinificação, permitindo misturas com castas francesas ou internacionais como Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah com as uvas italianas.
Foi desta forma que nasceram os “supertoscanos” nos anos 1970, vinhos que combinam tradição e inovação, muitas vezes utilizando uvas não permitidas nas DOC´s tradicionais. Bolgheri é uma das sub-regiões onde os IGT´s ganharam fama, nomeadamente com rótulos como Sassicaia, Ornellaia, Tignanello. Esses rótulos redefiniram o conceito de qualidade na Toscana, em muitas vezes superando em prestígio os vinhos DOCG´s.
Sub-regiões como Maremma, Val d’Orcia, Colline Pisane e Chianti Runa, cada uma com características únicas, enriquecem ainda mais a diversidade vinícola da Toscana, destacando ainda mais a complexidade e a riqueza do mundo enológico da Itália.
● O BRUNELLO DI MONTALCINO - Brunello di Montalcino é um vinho feito somente com a uva Sangiovese com a classificação DOCG mais alta da Itália. Sangiovese é o vinho que a maioria dos críticos de vinho cita como o melhor de toda a Itália. Claro que, se ele realmente é o melhor ou não, depende do seu gosto pessoal, mas o Brunello é um daqueles vinhos que vale a pena provar.
O Brunello di Montalcino é feito com um tipo local de Sangiovese da Toscana, conhecido como Brunello ou Sangiovese Grosso. Alguns também o chamam a uva de Prugnolo Gentile.
Esta uva é conhecida por ter casca mais grossa, o que resulta em vinhos com sabores frutados excepcionalmente intensos, com alto teor de tanino e alta acidez. A fruta é uma contribuição para a popularidade do Brunello di Montalcino. Além disto, os taninos e a acidez ajudam a preservar a longevidade da guarda deste vinho, razão pela qual, muitas vezes ele atingir seu ápice uma década ou mais depois da safra. O Brunello é certamente um daqueles vinhos em que vale a pena esperar para bebê-lo!
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Entretanto, se você não “aguentar” esperar, um Brunello Jovem se mostrará como um vinho cheio de sabores de frutas e flores, incluindo cerejas, cranberry seco, morango silvestre, amora, violetas, potpourri e alcaçuz. Será comum perceber notas terrosas de solo recém-cultivado, de café expresso juntamente com taninos e uma acidez de dar água na boca.
Por si só, um Brunello é um vinho ousado, e por causa da alta acidez, ele termina com uma nota ácida e adstringente que fará você querer um segundo gole. Essa adstringência causada pelos seus taninos é o motivo pelo qual a maioria das avaliações sugere uma janela de consumo de vários anos após sua data da safra e de seu lançamento no mercado.
Com mais de 10 anos de guarda, Brunello di Montalcino deixa de lado os sabores de frutas frescas para revelar notas mais doces de frutas secas como figos gregos secos, cerejas cristalizadas, avelãs e couro, além de defumados. Os taninos tornam-se macios e o sabor achocolatado é harmonizado por uma bela acidez. Quando maduro, o Brunello é delicioso e fantástico.
O Brunello envelhecido clássico, com capacidade de envelhecer dignamente por décadas, não acontece todo ano. Acontece apenas quando se tem na região uma estação de amadurecimento perfeita (nem muito quente, nem muito fria). Nos últimos 20 anos, houve cerca de 8 safras excelentes, nas quais vale a pena investir num bom rótulo:
● GRANDES SAFRAS DE BRUNELLO DI MONTALCINO:
2015 - Uma safra muito bem equilibrada, oferecendo frutas vermelhas explosivas de cereja, taninos equilibrados e acidez. Esta safra envelhecerá por bem mais de 10 anos e certifique-se de envelhecê-la por pelo menos 8.
2012 - Uma safra excepcional, segundo o Consorzio Brunello di Montalcino.
2010 - Uma fantástica safra de frutas ousadas que oferece sabores tanto no espectro de frutas vermelhas quanto pretas com taninos enormes. Os vinhos desta safra devem começar a ter um sabor incrível por volta de 2018–2025.
2007 - Uma safra excepcional, segundo o Consorzio Brunello di Montalcino.
2006 - Outra safra de frutas ousadas que está pronta para beber desde 2015.
2004 - Uma ótima safra para procurar agora.
Os vinhos da safra de 2001 (já com 24 anos de guarda) estão caminhando para um desenvolvimento de fruta mais terciária quando criados por produtores excepcionais que se concentram em vinhos mais envelhecidos.
Outra safra que foi excepcional, para os vinhos de 1997, que neste momento terão sabores mais terciários (sabores de nozes, frutas secas e notas florais) quando criados por produtores excepcionais.
● BRUNELLO TRADICIONAL E BRUNELLO MODERNO - O vinho Brunello di Montalcino não pode ser lançado até o 5º ano pós-colheita (6º para engarrafamentos “Riserva”) – um dos mais longos envelhecimentos da Itália. Na maioria dos vinhos Brunello, você começará a notar duas escolas de pensamento usadas para a rotina de envelhecimento com vinhos Brunello di Montalcino:
♦ Método tradicional: Os produtores usam grandes barris de carvalho da Eslavônia, de vários usos (chamados botte do nordeste da Croácia) que conferem muito pouca lactona de carvalho ao vinho e são usados simplesmente como recipientes para ajudar o desenvolvimento de sabores terciários por meio da exposição ao oxigênio. Os vinhos desenvolvem mais sabores de frutas secas, couro e flores e têm um longo potencial de envelhecimento.
♦ Método moderno: Tomando emprestados alguns conceitos inovadores de Bordeaux, na França, alguns produtores passaram a usar barricas francesas mais novas e menores (as barricas) que conferem mais lactonas de carvalho ao vinho e estimulam o desenvolvimento de sabores de frutas pretas, chocolate, açúcar mascavo e baunilha. Como a exposição ao oxigênio aumenta devido à área de superfície do carvalho ao vinho, os vinhos Brunello di Montalcino do método moderno geralmente estão prontos para beber mais cedo do que os vinhos do método tradicional.
Grande parte do estilo e da qualidade dos vinhos de Montalcino depende da altitude onde as uvas crescem. Montalcino fica no topo de uma área montanhosa, e os vinhedos se espalham pelas colinas, e variam em elevação de cerca de 500 metros a 150 metros. Há algumas exceções devido ao local do vinhedo, mas geralmente:
Vales opulentos - Em direção à base das colinas de Montalcino ao longo do rio Orcia (Val d'Orcia), há depósitos mais espessos de argila que produzem vinhos com cor mais ousada, tanino e sabores mais intensos de frutas pretas. Devido à sua intensidade natural, esses vinhos tendem a se dar bem com estratégias modernas de carvalho.
Vinhos elegantes de encosta - Os vinhedos nas áreas de maior elevação têm solos muito mais rasos de xisto rochoso (chamado galestro) e argila e produzem vinhos mais leves com mais frutas vermelhas e aromas florais. Devido à sua elegância natural, os vinhos dessas áreas se dão bem com regimes de envelhecimento mais tradicionais.
● OS VINHO DE MONTALCINO:
♦ BRUNELLO DI MONTALCINO - 100% Sangiovese (Brunello) produzido e engarrafado em Montalcino. ABV mínimo de 12,5%.
Normale: Lançado a partir de 1º de janeiro, 5 anos após a colheita, com mínimo de 2 anos em carvalho e 4 meses na garrafa.
Riserva: Lançado a partir de 1º de janeiro, 6 anos após a colheita, com mínimo de 2 anos em carvalho e 6 meses na garrafa.
♦ ROSSO DI MONTALCINO - 100% Sangiovese (Brunello) produzido e engarrafado em Montalcino. Mínimo de 12% ABV. 1 ano de envelhecimento antes do lançamento, sem requisitos de envelhecimento em carvalho.
♦ SANT'ANTIMO: Qualquer uva branca ou tinta permitida na Toscana produzida como vinho monovarietal ou blend (rotulado Bianco ou Rosso) de Montalcino e engarrafada em Siena. Por exemplo, pode incluir Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay etc.
♦ MOSCADELLO DI MONTALCINO - Vinhos brancos tranquilos, espumantes e Late Harvest feitos com 100% Muscat Blanc. Vinhos tranquilos e espumantes têm um mínimo de 10,5% ABV e Late Harvest têm um mínimo de 11,5% ABV (15% de álcool potencial). Late Harvest não deve ser liberado até 2 anos após a safra da colheita.
Então, ficou com vontade de provar um Brunello di Montalcino? Na próxima semana escreveremos sobre os Bolgheri. Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
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