O artigo sobre curiosidades sobre Jerez, Champagne e Beaujolais aumentou a curiosidade de leitores que querem conhecer mais sobre outros vinhos. Então, desta vez, vamos comentar sobre curiosidades do VINHO DO PORTO.
O vinho do Porto é, muito possivelmente, a bebida mais famosa de Portugal. Embora produzam uma infinidade de outros vinhos nas distintas regiões vinícolas do país, incluindo 3 outros vinhos fortificados, que são o vinho Madeira, Moscatel e Carcavelos, o Porto é o néctar doce que os apreciadores mais associam a Portugal.
♦ O QUE É O VINHO DO PORTO? - O vinho do Porto é geralmente considerado um vinho de sobremesa, embora se olharmos dessa forma seja altamente redutor. Claro que pode desfrutar do Porto com o seu bolo de chocolate preferido, mas também pode saboreá-lo como aperitivo ou usá-lo na preparação de cocktails como o Porto Tônico, por exemplo.
Simplificando, o vinho do Porto é um vinho fortificado português produzido no norte do país, nomeadamente no Vale do Douro, que está ligado à cidade do Porto.
Vinhos fortificados são aqueles cujo processo de fermentação foi interrompido pela adição de álcool extra. Durante o processo de vinificação, o açúcar naturalmente presente nas uvas fermenta e se torna álcool. Ao adicionar uma bebida alcoólica como conhaque ou aguardente vínica ao vinho em um momento-chave dos procedimentos, a fermentação é interrompida, pois a levedura presente acaba morrendo. Isso resulta em uma bebida mais alcoólica, geralmente variando entre 19% e 22% em volume, por causa da bebida destilada extra adicionada, enquanto, simultaneamente, o vinho também é mais doce, pois grande parte dos açúcares da fruta permanece como tal, antes de terem a chance de se transformar em álcool graças à fermentação.
O vinho fortificado surgiu como um método de preservação antiga. Embora hoje em dia não precisemos adicionar álcool extra para garantir que o vinho permaneça estável em termos de qualidade e segurança, vinhos fortificados como o Porto são hoje muito apreciados por seu sabor e caráter particulares.
O vinho do Porto é um vinho forte, bastante alcoólico e doce de Portugal. Embora o mundo muitas vezes pense que o vinho do Porto é um vinho tinto, esse não é necessariamente o caso, pois há diversas variedades de Porto de acordo com as uvas utilizadas, o processo de vinificação, o envelhecimento do vinho e até mesmo as particularidades por trás de um determinado ano durante o qual o vinho foi produzido e/ou engarrafado.
A região do Douro, onde o vinho do Porto é produzido desde meados de 1700, é uma das regiões vinícolas mais antigas do mundo e é um Patrimônio Mundial da UNESCO.
♦ QUAL É A HISTÓRIA DO VINHO DO PORTO? Portugal produz vinho há pelo menos 2000 anos. Na região do Douro, onde o Porto é produzido hoje, os romanos, cujo império se estendeu a Portugal desde os dias antes de Cristo até cerca do ano 500, já faziam bom uso das terras férteis desta parte de Portugal naquela época.
O vinho do Porto com esta designação específica só surgiu no século XVII. Estamos falando de um período da história durante o qual Portugal e Inglaterra tiveram uma conexão muito próxima. Tão próxima que, até hoje, ambos os países têm o tratado mais antigo e ainda em vigor de quaisquer dois países em todo o mundo! As relações comerciais naquela época se traduziam na exportação de vinho de Portugal para a Inglaterra, em troca de receber bacalhau.
O tratado anglo-português que foi assinado em 1654 também concedeu aos empresários britânicos e escoceses condições especiais para viver e trabalhar em ambos os países e isso está diretamente ligado ao fato de que, ainda hoje, muitas das marcas de vinho do Porto mais populares que conhecemos têm nomes que soam ingleses. Pense em Taylor's Port, Sandeman ou Cockburn's Port House, só para citar alguns.
Paralelamente à presença britânica em Portugal, as conexões franco-britânicas estavam perdendo força. Até este ponto da história, a Grã-Bretanha dependia principalmente da França para importar seus suprimentos de vinho. Mas, à medida que os direitos alfandegários foram aumentados, a oportunidade para o vinho português começar a ser exportado para a Grã-Bretanha viu uma nova luz. Isso representou uma oportunidade comercial considerável para Portugal, que foi posteriormente trabalhada pelas políticas do Marquês de Pombal, a personalidade que seria o equivalente a um primeiro-ministro hoje, e que governou Portugal e foi responsável por seu desenvolvimento a partir de meados de 1700 em diante.
♦ FORTIFICAÇÃO: DE UM HÁBITO MERCANTIL À TÉCNICA MODERNA - Nos anos 1700, o vinho do Vale do Douro começou a ser exportado para a Inglaterra por mar. Como os transportes por via marítima através de navios eram longos e difíceis, o vinho não chegava no seu melhor estado. E então os comerciantes começaram a fortificar o vinho com um gole de aguardente para reduzir as chances de deterioração, pois isso protegeria o vinho da oxidação durante sua longa viagem marítima.
O processo de fortificação no início não era tão regulamentado quanto é hoje. Na verdade, não havia diretrizes sobre como adicionar a aguardente de uva ao vinho, principalmente em relação ao momento do processo de vinificação durante o qual isso deveria ser feito, ou mesmo as quantidades que funcionariam melhor.
Foi somente no início dos anos 1800 que a fortificação não só se tornou comum, mas também se tornou um procedimento padronizado, onde a aguardente de uva começou a ser adicionada diretamente na vinícola e antes que a fermentação fosse concluída. Se não fosse por essa uniformização da fortificação do vinho, que estabiliza e retém açúcares não fermentados, criando o estilo gostoso familiar que associamos a esse tipo de bebida, certamente o vinho do Porto como o conhecemos hoje não existiria.
♦ POR QUE O VINHO É CHAMADO DE VINHO DO PORTO SE É PRODUZIDO NO DOURO?
Alguém poderia rapidamente presumir que o vinho do Porto é uma bebida produzida na cidade do Porto. Mas, na realidade, o vinho do Porto é produzido nos vinhedos plantados ao longo das margens do rio Douro, e que encontra o mar pela cidade do Porto, tendo se estendido por todo o interior de Portugal. Na verdade, o rio Douro nasce na Espanha, onde é conhecido como rio Duero.
O Porto é a principal cidade da região do Douro e era de fato daqui que o vinho do Porto era exportado por barco antigamente. Como teria mais apelo comercial, o vinho começou a ser chamado de Porto. É engraçado, pois isso nos lembra de como, no passado, o vinho do Pico, do arquipélago dos Açores, também era comercializado como vinho do Faial.
♦ A IMPORTÂNCIA DA DEMARCAÇÃO DA REGIÃO DO DOURO - Pode haver vinhos do estilo Porto sendo produzidos em diferentes partes do mundo, por exemplo, o Vinho Fontainhas em Goa, uma antiga colônia portuguesa na Índia. Mas apenas o vinho realmente produzido na Região Demarcada do Douro, sob condições muito específicas, resultantes de fatores naturais e humanos, pode ser oficialmente rotulado como tal. A Região Demarcada do Douro (RDD) se estende entre Barqueiros e Barca d'Alva, ao longo do rio Douro e seus afluentes, e em uma área de cerca de 250.000 hectares de extensão.
O vinho do Porto é um produto DO (denominação de origem), que é altamente regulamentado, e tem sido assim desde 1756. Isso faz da região do Douro uma das mais antigas regiões vinícolas demarcadas do mundo!
Hoje, a produção do vinho do Porto é supervisionada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), um instituto público criado em 1933 sob o Ministério da Agricultura, com o objetivo não apenas de regular a produção e comercialização do vinho do Douro, mas também de reunir e apoiar a comunidade produtora de vinho desta região.
Os territórios onde o vinho do Porto é cultivado são classificados de acordo com uma série de critérios rigorosos, que abrangem diferentes aspectos, como localização, inclinação, incidência de luz solar sobre uma determinada porção de terra, idade da videira e muito mais. Todas essas características juntas formam o conceito bastante fluido de terroir, que é frequentemente usado para descrever a origem de vinhos e certos produtos alimentícios.
Os solos são compostos por xistos do câmbrico e pré-câmbrico ricos em potássio e pobres em matéria orgânica, e uma pequena camada de terra argilosa.
A vinha é tradicionalmente plantada em terraços ou socalcos e mais recentemente graças às novas tecnologias apareceu o chamado plantio ao alto o que facilita todo o trabalho de produção, mas vem alterar profundamente a paisagem característica do "Douro". A vinha é conduzida em bardos ou cordões aramados ou não.
♦ QUAIS SÃO AS UVAS USADAS NA PRODUÇÃO DO VINHO DO PORTO? - Existem 258 variedades de uva nativas em Portugal e, entre estas e aquelas que foram importadas e adaptadas ao longo da história. A região vinícola do Douro privilegia o uso de variedades de uva tradicionais, que não só produzem o tipo de características que o mercado espera do Porto, mas também contribuem para a preservação das tradições locais de produção de vinho. Como as margens do rio Douro são bastante montanhosas, nem todo tipo de uva pode crescer em todo o seu potencial por aqui.
Mais de 80 uvas são autorizadas para a elaboração do Porto, mas as mais famosas são Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz (conhecida também como Tempranillo), Tinta Barroca e Tinta Cão, que são muito mais usadas do que as outras, pois são conhecidas por produzir os melhores resultados.
A Touriga Nacional é uma das castas portuguesas por excelência, conhecida na produção de vinho do Porto, bem como em outros vinhos intensamente tintos. A produção de Touriga Nacional geralmente se traduz em vinhos bastante alcoólicos, com taninos robustos e tremenda profundidade de sabor. A Touriga Francesa, por sua vez, é a casta mais plantada nas vinhas da região do Douro. Ela compartilha as mesmas características gerais da Touriga Nacional, mas com traços mais sutis. A planta da Tinta Roriz produz muita fruta, o que é obviamente interessante do ponto de vista comercial. A Tinta Barroca é apreciada por sua alta doçura e aroma profundo, então misturar Tinta Roriz com Touriga Nacional e Touriga Francesa suaviza o vinho, resultando em um produto mais equilibrado. Por último, mas não menos importante, a Tinta Cão é um dos tipos de uva mais antigos produzidos na região do Douro, por isso é a variedade mais adaptada ao terroir local. A Tinta Cão geralmente cresce com bastante sucesso, mesmo nas terras menos férteis. Sua fruta é pequena, mas traz uma acidez fresca e atributos aveludados que podem contribuir muito para fazer um vinho do Porto extraordinário.
♦ O VINHO DO PORTO É SEMPRE TINTO? - Este é, na verdade, um dos maiores equívocos sobre o vinho do Porto. Assim como a maioria dos vinhos, o Porto pode ser tinto, branco ou até rosé.
O Porto rosé é feito com as mesmas variedades de uva usadas para a produção de vinho do Porto tinto. Na verdade, todos os vinhos rosés são geralmente feitos com uvas tintas. Então, se os vinhos do Porto tinto e rosé são feitos com as mesmas uvas, como é que eles têm um perfil de cor e sabor diferente? A diferença entre a produção de vinho tinto e rosé tem a ver com os primeiros passos do processo de fermentação. Enquanto o vinho tinto é preparado pela fermentação de variedades de uvas tintas com casca, o rosé é inicialmente feito pela prensagem das mesmas uvas com casca, mas o processo de maceração com casca é bem mais curto. Quanto ao rosé, o mosto é filtrado após a prensagem inicial, as cascas das uvas têm bem menos tempo para liberar sua cor e afetar o sabor do vinho. No geral, podemos dizer que a casca das uvas tintas tem menos chance de afetar o suco da uva e, eventualmente, resulta em um vinho de cor muito mais clara.
O vinho do Porto branco tende a ser frutado, suave e aromático. Graças ao processo de envelhecimento, ele geralmente tem uma sensação persistente de mel no paladar e tons amadeirados. Se os vinhedos do vale do Douro são plantados em socalcos nas margens do rio, as variedades de uvas brancas tendem a ser plantadas nos socalcos mais altos. As variedades de uva mais usadas para o Porto branco incluem Gouveio, Malvasia Fina, Rabigato, Viosinho e Moscatel Galego. Gouveio é uma casta resistente essencial para a produção de Porto branco, pois persiste mesmo quando há chuvas mais tarde na estação – algo que pode facilmente acontecer na região do Douro. As uvas Malvasia Fina apresentam uma cor amarela quase âmbar e seu sabor é bastante fresco e não muito complexo. Rabigato é uma das castas brancas mais celebradas para a produção de Porto, pois oferece acidez muito equilibrada, boa mineralidade e aromas deliciosos, como aqueles que lembram acácia e flores de laranjeira. Viosinho é o tipo de uva que nos lembra que o Douro se estende até a região montanhosa do norte de Portugal, Trás-os-Montes, pois esta é de fato uma uva nativa transmontana. As uvas Viosinho contribuem para vinhos altamente alcoólicos, com um bom equilíbrio entre doçura e acidez. Não se surpreenda ao ver Moscatel Galego (Muscat) como uma das variedades de uva usadas para vinho do Porto. Embora de fato esta seja a uva por trás de outro dos vinhos fortificados favoritos de Portugal, o Moscatel, ela também pode ser usada na produção de vinho do Porto, misturada com outras
Então, gostou de conhecer um pouco mais sobre o Vinho do Porto? Semana que vem escrevemos mais detalhes sobre este vinho emblemático de Portugal. Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
Comments