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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“CURIOSIDADES SOBRE BEAUJOLAIS”

O artigo sobre curiosidades sobre Jerez e Champagne gerou mais comentários de leitores que querem conhecer curiosidades sobre outros vinhos. Então, desta vez, aproveitando que na semana passada houve o lançamento do Beaujolais Nouveau, vamos comentar sobre curiosidades deste vinho.

♦ O QUE É O BEAUJOLAIS? - Beaujolais é quase sempre um vinho tinto feito da uva tinta Gamay Noir. A região de Beaujolais fica localizada na área central da França, ao sul da Borgonha e norte de Lyon. A atividade vitivinícola começou com os romanos ainda no primeiro século, graças à rota de comércio que o Rio Saône, que banha a região, proporcionava.


O fato determinante para o desenvolvimento da identidade dos vinhos Beaujolais ocorreu apenas no século 14, quando o Duque Filipe II proibiu o cultivo da uva Gamay na região da Borgonha. Segundo ele, tratava-se de variedade incapaz de produzir vinhos elegantes, como a Pinot Noir. Isso fez com que o cultivo da Gamay crescesse em Beaujolais, local onde se adaptou bem às condições climáticas e ao solo granítico. Hoje, 99% dos rótulos da região são feitos a partir dessa uva.


No século 19, com o desenvolvimento da ferrovia que ligava o restante da França a Paris, a procura pelos vinhos de Beaujolais começou a aumentar, pois eram bebidas leves e frutadas.


Seu segundo pico de popularidade viria a acontecer na década de 1980, graças à variedade conhecida como vinho Beaujolais Nouveau. Conhecido como um Vin de Primeur, essa sub-variedade é vinificado, engarrafado e vendido no mesmo ano de sua colheita.


No entanto, uma pequena quantidade de vinho branco, rosé e até mesmo vinho espumante é feita nesta área. Mas se você for até um bar e pedir uma taça de Beaujolais, as chances são boas de que você receberá uma taça de bom vinho tinto.

 

O QUE É O BEAUJOLAIS NOUVEAU? - É um tipo de vinho com fermentação mais rápida, (maceração semi-carbônica) com o objetivo de que esteja pronto para o consumo no mesmo ano da colheita das uvas. A data oficial de lançamento das safras anuais é a terceira quarta-feira de novembro.


A data limite para a venda do vinho é dia 31 de agosto do ano seguinte à colheita, já que, após esse período, a bebida não está mais em suas melhores condições de consumo. Cerca de 50% da produção de vinhos Beaujolais é destinada aos Nouveaux, graças à procura mundial por essa variedade.


Todos os anos desde então, na terceira quarta-feira de novembro, ocorre na região uma festividade para a abertura das garrafas e prova dos vinhos durante seu melhor período de consumo. O aumento na demanda, porém, também causou efeitos negativos: muitas vinícolas começaram a produzir vinhos de menor qualidade, resultando em desinteresse por parte do público. Na safra de 2001, por exemplo, mais de 1 milhão de garrafas foram destruídas pela falta de procura.


O sucesso comercial do Beaujolais Nouveau levou ao lançamento de outros vinhos “primeur” em outras partes da França, como na AOC de Gaillac. Esses vinhos, assim como o Beaujolais, também só começam a ser vendidos na terceira quinta-feira de novembro. A prática deu tão certo que se estendeu a outros países europeus, como a Itália e a Espanha.

 

♦ O QUE É A MACERAÇÃO SEMI-CARBÔNICA? - A produção de vinhos envolve processos diversos, que conferem características específicas aos rótulos, valorizam o terroir onde ele é produzido, entre outros. Dentre esses métodos de vinificação está a maceração carbônica que, embora não seja muito utilizada pelos enólogos, tornou-se conhecida por gerar exemplares leves, frutados e fáceis de beber, como o Beaujolais Nouveau.


De maneira bastante simplificada, a produção de vinhos costuma passar pelas etapas de desengaçamento (processo de separação das bagas de uva do engaço, que é o esqueleto do cacho. É uma etapa importante na vinificação, pois o engaço contém substâncias amargas e adstringentes, como os taninos, que podem deixar o vinho desagradável); maceração do vinho, quando as bagas de uva são esmagadas e liberam o mosto; e fermentação alcoólica, feita por leveduras nativas ou selecionadas, que fermentam o açúcar presente no mosto.


Na maceração carbônica, não há as etapas de desengace, nem a de esmagamento da uva. Do contrário, cachos inteiros, com casca e tudo, são colocados em um tanque hermético, dentro de uma atmosfera anaeróbica, ou seja, sem oxigênio. Para criar essa atmosfera anaeróbica, há a introdução de dióxido de carbono. É esse ambiente saturado de CO2 que incita a fermentação intracelular da uva, isso é, de dentro para fora. Durante esse processo, a pressão que ocorre internamente acaba fazendo com que a casca se rompa, liberando o suco.


Os vinhos resultantes são mais leves, com notas de frutas vermelhas e pretas frescas, acidez presente e poucos taninos. Além disso, a coloração é mais brilhante e menos intensa. São rótulos joviais e fáceis de beber, inclusive nas estações mais quentes do ano.


Na maceração semi-carbônica, as uvas são colocadas em tonéis de inox ou cimento de 4 litros a 30 mil litros. Um terço das uvas na parte mais funda dos tonéis é espremida naturalmente, pela força da gravidade e peso dos cachos que estão acima. Isso resulta em um processo natural de fermentação, graças às leveduras encontradas nas cascas das uvas.


A fermentação das uvas esmagadas deixa a temperatura do tanque mais elevada, além de liberar o gás carbônico, que começa a saturar o restante das uvas que haviam permanecido intactas, estimulando a fermentação intracelular. O mosto, sofre um processo de fermentação com leveduras autóctones. Um dos argumentos a favor deste tipo de processo é que ele permite uma tradução mais leal do terroir onde o vinho é produzido.


Vinhos tintos produzidos por meio da maceração carbônica apresentam coloração púrpura de baixa intensidade, aromas leves de frutas vermelhas frescas, com predominância de notas frutadas, como banana, framboesa, morango, e alguns aromas florais. Além disto, eles possuem taninos baixos e acidez moderada e, por esse motivo, são rótulos fáceis de beber. Por conta das características, nossa sugestão é apreciar os exemplares da categoria ainda jovens, também porque eles tendem a não envelhecer bem na garrafa.


Independentemente do rótulo produzido a partir da maceração carbônica, o processo de fermentação costuma durar de uma a três semanas, sendo, portanto, muito rápido.

 

♦ QUAIS SÃO OS ESTILOS DE BEAUJOLAIS? - Desde o ano de 1936, a região de Beaujolais possui diversas AOC (Apelação de Origem Controlada). Além dos vinhos Beaujolais AOC, há subdivisões, como Beaujolais-Villages, Cru Beaujolais, Beaujolais Blanc e Beaujolais Rosé.


Existem 12 denominações em Beaujolais: A maior, que engloba quase a metade dos vinhos produzidos é Beaujolais. A segunda, de maior prestígio que Beaujolais, é a Beaujolais-Villages, formada por vinhedos plantados em 39 Villages (vilarejos) diferentes. Representa 25% de todo o vinho produzido na região.


Para serem considerados um Beaujolais AOC, além de serem cultivados e vinificados na região, os vinhos devem ter no mínimo 10% de graduação alcoólica, produção máxima de 60 hl/ha e chaptalização máxima de 3 g/L.


Os Beaujolais-Villages são vinhos produzidos em 39 vilas nas partes norte e oeste da região. A principal diferença está no solo, que possui xisto granítico, o que confere aos rótulos características especiais. Algumas das regras também podem ser levemente diferentes.


Já os Cru Beaujolais são considerados por muitos os melhores vinhos da região. São produzidos em 10 vilas localizadas aos pés das montanhas e, muitas vezes, não apresentam o nome Beaujolais em seus rótulos, mas, sim, o da sub-região onde foram feitos.


Os vinhos chamados de Beaujolais Blanc ou Rosé, como o nome sugere, são os brancos e rosés produzidos na região. A Chardonnay é a uva utilizada para os brancos, enquanto os rosés são feitos de Gamay, assim como os tintos. Apenas uma porcentagem muito pequena da produção é destinada a essas variedades.

 

♦ QUAIS SÃO OS CRUS DE BEAUJOLAIS E SUA CARACTERÍSTICAS? - A área de Beaujolais possui dez crus, que são áreas especiais com características distintas, áreas geográficas específicas dentro da localidade que produzem vinhos com características únicas. Entre os mais conhecidos estão Brouilly, Morgon, Fleurie, Moulin-à-Vent e Juliénas. Os vinhos crus são geralmente considerados de qualidade superior e podem apresentar maiores complexidades de aromas, sabores e intensidade das estruturas.


Esses Crus ocupam o topo de toda a gama de vinhos produzidos na região de Beaujolais. São vinhos bastante gastronômicos e que, no passado, gozavam de tanto prestígio que seus valores equivaliam aos Grands Crus da Borgonha. Não são vinhos comparáveis com os mais simples da região tampouco com o Beaujolais Nouveau. Até mesmo seus rótulos ostentam a denominação específica de sua produção, sem menção ao nome Beaujolais.

 

● Brouilly: Este é o maior e mais meridional dos crus. Os vinhos de Brouilly tendem a ser aromáticos, com notas de frutas vermelhas e uma textura sedosa.  Por vezes apresentam notas minerais, que expressam na perfeição o bouquet da Gamay. Leve, elegante e repleto de notas de frutas maduras, os vinhos de Brouilly estão entre os mais delicados dos Crus de Beaujolais. Foi uma das áreas originais autorizadas a vender seus vinhos para o mercado de Paris já em 1769, tornando Brouilly uma das áreas mais conhecidas de Beaujolais.

 

● Côte de Brouilly: Localizado em uma encosta acima de Brouilly, o Côte de Brouilly produz vinhos mais estruturados e minerais graças ao seu solo de granito azul. Os vinhos são generosos com taninos delicados e aromas que evocam pimenta, pequenos frutos pretos macerados e notas minerais.


● Régnié: Classificado como cru em 1988, é o mais jovem dos crus Beaujolais. Régnié é conhecido por vinhos suaves e redondos com notas de frutas vermelhas e especiarias. As vinhas estão plantadas em encostas a uma altitude média de 350 metros, viradas a sudeste. Os vinhos desta denominação são leves, fáceis de beber e ricos em elementos minerais, muito aromáticos, amadurecendo rapidamente.

 

● Morgon: É conhecido por seus vinhos robustos e complexos que podem envelhecer bem. Os melhores vinhos de Morgon são tânicos e minerais, com suculentas notas de fruta e um cativante toque de rusticidade. Com vista para o Mont du Py, é um dos maiores crus Beaujolais. A famosa Côte du Py é composta de xisto decomposto. Esses são vinhos feitos para envelhecer de 5 a 10 anos (pelo menos). O paladar jovem e carnudo de pêssego, damasco, cereja e ameixa se desenvolverá em um vinho mais terroso, que lembra o Pinot Noir da Borgonha. Quando jovens, os vinhos da denominação oferecem aromas de frutas de caroço como cerejas, com notas de violeta e kirsch.

 

● Chiroubles: São as vinhas mais altas do Beaujolais. Vinhedos em encostas dispostas em círculos de granito cuja série de vales em forma de anfiteatro proporciona às vinhas uma ótima exposição. Estas (muitas vezes em encostas com declives superiores a 30%), uma garantia de temperaturas frescas face à atual mudança climática. Os produtores de Chiroubles são frequentemente considerados “heróicos”, dado o quão fisicamente exigente e meticuloso é o trabalho nas encostas acidentadas. É conhecido por seus vinhos leves e elegantes, com notas florais e de frutas vermelhas.

 

● Fleurie: Como o nome sugere, Fleurie produz vinhos com um caráter floral distinto, juntamente com sabores de frutas vermelhas. Os vinhos são conhecidos por sua elegância e delicadeza. São os mais delicados dos crus. São cultivados em colinas verdejantes. O solo de granito cor de rosa produz vinhos minerais e perfumados, que para alguns especialistas, lembram os aromas de Chambolle-Musigny. Acabou de solicitar o reconhecimento de 1er Cru para 7 dos seus 48 lieux-dit (single vineyard). É a primeira apelação de Beaujolais a buscar a distinção.


Além de todo arcabouço histórico levantado para retratar a excelência e consistência dos vinhos desta zona, parte do processo necessário para a promoção dos vinhedos, Fleurie também reúne hoje alguns dos produtores mais badalados de todo Beaujolais, cujos vinhos, por vezes, superam os preços da vizinha Borgonha, casos de Métras, Clos de la Roilette, Dutraive e Chignard. A uva Gamay, plantada nos 840 hectares de vinhedos em grande parte de granito rosa, em altitude média de 340 hectares, (chegando a mais de 400 metros nos vinhedos Poncié, Rocche Guillon ou La Madone, nome da capela que simboliza Fleurie) cria a tipicidade floral de seus vinhos. Outros vinhedos conhecidos e bem reputados são Moriers, Champagne, Chapelle des Bois e Les Marrans.

 

● Moulin-à-Vent: Este é frequentemente considerado o mais prestigioso dos crus de Beaujolais. Os vinhos de Moulin-à-Vent são robustos e complexos, com uma boa capacidade de envelhecimento. Um cru bastante especial. O moinho de vento (moulin) – com 278 metros de altitude, rodeado de vinhas – incorpora o prestígio e o orgulho da pequena denominação. Depois de alguns anos, os vinhos Moulin-à-Vent desenvolvem aromas de flor de íris, rosas murchas, especiarias e frutas maduras com notas de vegetação rasteira e trufas, proporcionando vinhos tânicos e estruturados.


Este é o Cru que produz os vinhos mais potentes e encorpados de Beajoulais. Quando jovens, possuem aromas florais de violetas e frutados, com aromas de violeta e cereja. Os vinhos geralmente começam a mostrar todas as suas qualidades depois de 5 anos, exibindo um caráter selvagem que lembra alguns vinhos de Gevrey-Chambertin. Se você puder deixar o vinho envelhecer até 10 anos, será recompensado com mais estilo “Pinot Noir”, com notas de frutas secas, trufas terrosas e especiarias.

 

● Juliénas: Este cru produz vinhos encorpados e frutados, com notas de pêssego, ameixa e cereja. Alguns vinhos também podem apresentar notas de especiarias e minerais. A altitude média varia, começando em 230 metros e chegando a 430 metros no extremo noroeste. O AOC definitivamente tem um dos solos mais diversos do Beaujolais: xisto, diorito e arenito, além de argila. Sutilmente picante, esta denominação faz jus ao seu nome, que herdou do Imperador Júlio César.

 

● Saint-Amour: Esse é o cru mais ao norte e próximo da Borgonha. Os seus solos mistos incluem granito, xisto e argila, produzindo vinhos com duas características distintas. Um é leve e fácil de beber, com aromas de íris ou violeta e até framboesa. O outro é poderoso e complexo, oferecendo aromas de kirsch e especiarias.

 

● Chénas: O menor dos crus, Chénas é conhecido por seus vinhos robustos e elegantes, com notas de frutas vermelhas e pequenos frutos pretos, flores e especiarias realçadas por taninos suaves e flores. Foi nomeado após as antigas florestas de carvalho que anteriormente cobriam a comuna, desmatadas pelos romanos e depois pelos monges locais. As videiras se estendem por colinas e vales.

 

Cada um desses crus traz uma expressão única do terroir e da uva Gamay. Para quem ama vinhos, explorar os diversos perfis pode ser uma experiência enriquecedora e deliciosa. Os vinhos dessas localizações são mais prestigiados, mais complexos e têm preço mais elevado, e o nome do Cru figura no rótulo.

 

♦ PORQUE AINDA SE CONHECE POUCO SOBRE BEAUJOLAIS? - O Beaujolais fora da Europa passa despercebido porque uma grande quantidade de vinhos Cru é consumida localmente. Assim sendo, a descoberta gradual desses vinhos entre as pessoas se dá quando estando na França podem num dia de calor se refrescar com um vinho tinto fácil de beber!


Os Beaujolais são vinhos deliciosos, frutados, fáceis de gostar e que combinam bem com comida. Milhares de bistrôs em Paris não podem estar errados!

 

♦ QUAIS SÃO AS HARMONIZAÇÕES SUGERIDAS COM BEAUJOLAIS? - Por ser um vinho leve, ácido e frutado, é necessário escolher comidas que tenham intensidade similar no paladar.


Além disto, é um vinho muito utilizado para cozinhar, já que, qualquer receita que peça um vinho tinto ficará muito boa com um Beaujolais frutado. Eles podem facilmente substituir Pinot Noir em receitas.


Para acompanhar uma garrafa de Beaujolais, a melhor opção é apreciar pratos de charcutaria francesa, como patês, terrines, rillettes e salames tipo saucisson. Para os queijos, opte por Brie e Camembert. Pratos principais à base de peixes ou frutos do mar com molhos leves também combinam muito bem.


Se você optar por variações mais encorpadas do Beaujolais, como Village ou Cru, também é possível fazer harmonizações com aves assadas, como frango e pato, ou lombo de porco grelhado, risotos ou um delicioso “coq au vin”.

 

Então, gostou de conhecer um pouco mais sobre o Beaujolais? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).

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