As uvas Vitis vinifera são comumente chamadas “uvas do Velho Mundo ou uvas européias” e acredita-se que tenham se originado na Ásia Menor. Deste tipo de uvas, foram identificadas cerca de 5.000 cultivares. Atualmente, constituem a maioria da superfície da uva plantada no Velho Mundo.
Os clones de Vitis vinifera são bastante comuns. O termo "clone" refere-se a uma ou mais linhagens de uvas originárias de uma linhagem e que apresentam características únicas e diferentes de outras uvas da mesmo cultivar.
A variabilidade da espécie Vitis vinifera vem da multiplicação sexual que dá origem a plantas muito próximas (irmãs) com uma carga genética muito semelhante, mas com algumas diferenças, da evolução de cada planta de videira em seus diferentes ecossistemas e da mutações naturais produzidas pela passagem do tempo.
Um clone é o material vegetal obtido pela multiplicação vegetativa de uma única planta. O conjunto de todos os diferentes clones que são cultivados em um vinhedo antigo é o que chamamos de "variedade populacional". A seleção dos clones é realizada analisando a referida população e escolhendo uma cepa mãe de características adequadas, realizando a multiplicação vegetativa da referida cepa, garantindo que seus filhos tenham as mesmas características varietais que esta.
A obtenção de clones selecionados visa alcançar uma produção mínima razoável de uvas, para manter níveis aceitáveis de renda para os produtores de vinho. Pretende-se também escolher os clones que produzem vinhos da mais alta qualidade e tipicidade, adaptados às demandas do grande mercado consumidor. Este material é mais homogêneo, o que permite padronizar as operações de cultivo (poda e colheita), sendo as produções mais regulares e com qualidades superiores, o que permite uma tipificação progressiva de vinhos de qualidade.
As diferenças entre os clones da mesma cultivar são geralmente muito menores do que as diferenças entre as cultivares, mas muitas vezes essa diferença pode ser muito importante.
Os clones podem diferir em:
- O tempo de germinação
- Tempo de maturação
- Formação de grupo (ou clusters)
- Tamanho do grupo
- Compactação dos grupos
- Tamanho da baga
- Rendimento de frutos
- Qualidade da fruta
- Outras características importantes
Se essa diferença for conveniente, a videira se propaga para perpetuar esses novos recursos. Portanto, o novo clone recebe um número ou um determinado nome para distingui-lo dos outros clones.
A Sangiovese é uma uva tinta da família da Vitis vinifera que também é referida pelas seguintes denominações: Sangiovese Grosso, Brunello, Uva brunella, Morellino, Prugnolo, Prugnolo Gentile, Sangioveto, Tignolo e Uva Canina.
Em geral se fala Sangiovese, mas na realidade este termo define um grande número de variedades (ou clones) nas quais se diferenciaram no curso dos séculos e nos diversos territórios. Na Itália, cada um dos três principais vinhos toscanos é feito com um clone da Sangiovese: Chianti Clássico com Sangioveto, Brunello di Montalcino com o clone Brunello e Montepulciano com Prugnolo. Muito sensível, por onde passa, a Sangiovese sofre pequenas variações e se adapta ao microclima de cada região, se desdobrando em uma série de clones.
Outro exemplo muito utilizado para falar de clones é a uva Pinot Noir, que é uma das castas mais antigas do planeta, com mais de 2 mil anos de história e centenas de clones diferentes. Os primeiros registros do seu cultivo datam de cerca de 150 a.C., da época dos Gauleses, provavelmente quando esta família de uvas descendente da Vitis vinifera silvestris, a uva selvagem, provavelmente foi “domesticada” para a produção de vinhos. Seu local de origem é incerto, com hipóteses diversas, entre elas, o norte da França. A casta é cultivada desde 1.375 na região da Borgonha, onde está bastante adaptada ao clima e ao solo.
Mais do que apenas uma variedade de uva, Pinot é uma família de uvas que são propensas a mutações frequentes que mudam suas características como cor, taninos e sabor. Cada identidade genética que foi selecionada por suas características particulares é chamada de clone. Mais de 50 clones de Pinot Noir são oficialmente reconhecidos na França, em comparação com os 25 clones para Cabernet Sauvignon.
Clones famosos de Pinot Noir da Borgonha, Dijon que produz vinhos leves e frutados ou Pommard que produz vinhos encorpados, escuros e intensos. Como os Pinots sofrem muitas mutação, eles deram à luz uma família de outras uvas de várias cores e sabores, incluindo Pinot Gris (cinza), Pinot Blanc (branca), ou Pinot Meunier.
A Pinot Noir é uma das melhores uvas para exemplificar o conceito de terroir. Mesmo com uma assinatura própria, ela dá origem a vinhos bastante distintos dependendo de onde é plantada. Do mesmo modo que é praticamente impossível reproduzir os vinhos da Borgonha, é muito difícil produzir os Pinots de outras partes do mundo. Cada terroir valoriza uma faceta desta fantástica uva.
A seleção clonal, que busca identificar plantas mais produtivas, com valores de açúcares redutores totais mais elevados e com característica agronômica desejável, é muito utilizada em variedades de uvas para vinhos finos. A variação entre os clones de uma mesma variedade pode ser considerável e explorada para melhorar a produção e a qualidade da uva produzida.
Pesquisas têm mostrado que o ambiente afeta o desempenho relativo dos diferentes clones de videira. Informações sobre a interação genótipo e ambiente são recursos valiosos para a seleção e recomendação do clone mais adequado para plantio. Assim, pode-se optar por um clone para ser plantado numa parcela de vinhedo plana, outro clone na parcela escarpada, e outro clone numa parcela mais exposta ao sol. Ou seja, o desempenho em relação à qualidade final da uva depende do clone, do porta-enxerto e do “terroir” onde os vinhedos estão localizados.
Os parâmetros mais utilizados na avaliação agronômica dos clones são: o peso das uvas por cepa, o peso da poda, a riqueza de açúcar e a acidez total do mosto. Com esses índices, a produção, a qualidade e o vigor são avaliados, sendo determinados os valores interanuais médios. Também é importante conhecer as características do cluster: número de clusters (parcelas) por deformação e tamanho médio do cluster. O conhecimento fenológico dos clones, principalmente das datas de brotação, floração, envero e maturidade, também é importante para adaptar o clone ao ambiente e às operações de cultivo a serem realizadas para obter melhor produção e qualidade.
A quantidade de uvas é um dos principais objetivos procurados pelos produtores, uma vez que a sua renda depende disso. No entanto, a tendência atual dos mercados está levando os viticultores a acompanhar a produção e, às vezes, à custa dela, outras características que refletem maior qualidade.
O interesse pelos melhores clones é combinar as características produtivas mais destacadas com a melhor qualidade. No entanto, o produtor pode estar interessado em um dos clones por algumas características particulares que não sejam a combinação de produção e qualidade (buscar menor tempo de germinação ou intensidade de coloração, por exemplo).
Uma coisa é certa, cada vez mais o conhecimento sobre as uvas proporciona uma melhor seleção de clones para o plantio no vinhedo, gerando vinhos cada vez melhores !!! Saúde !!!
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