O Vale do Rhône apresenta uma produção de vinho heterogênea, marcada por algumas denominações de prestígio como Côte Rôtie, Hermitage ou Chateauneuf-du-Pape. Aliás, se há vinho francês que todos merecem provar, é provavelmente o Chateauneuf-du-Pape.
Enquanto o Norte tem uma produção de 10% do volume regional, em geral com denominações de alta qualidade (o melhor vinho do Rhône é o Hermitage, cujos vinhedos ficam próximos de Tain), o Sul é largamente coberto pelos vinhos AOC Côtes du Rhône proporcionando simples, mas com algumas exceções notáveis. A região sul do Côtes du Rhône produz vinhos tintos robustos e condimentados, reconhecidos internacionalmente pela famosa denominação Chateauneuf-du-Pape, que é de longe a denominação mais lembrada do Rhône Sul, que se estende do sul de Lyon até Avignon. A vinha contém uma grande variedade de castas: syrah, grenache, mourvèdre, cinsault, marsanne, roussanne, viognier.
O vinhedo do norte é plantado principalmente em encostas nas margens esquerda e direita do rio Rhône. O sul apresenta paisagens muito mais variadas, entre colinas, relevo íngreme, planícies aluviais, planaltos e terraços.
Ao sul de Valence, o Vale do Rhône se abre para dar às áreas de vinhedos mais planas e menos estreitas. As melhores vinhas estão plantadas em solos de cascalho e pedregulhos. Estes solos armazenam o calor durante o dia e aquecem as vinhas à noite, o que promove o amadurecimento das uvas.
A região tem um clima mediterrâneo, com invernos amenos e verões quentes muito secos. Além do risco de seca, as vinhas suportam o poderoso mistral. Os viticultores devem protegê-los com quebra-ventos. O rendimento médio difere conforme a denominação: de 44hl / ha para as Côtes du Rhône Villages a 35hl / ha para Chateauneuf-du-Pape.
Chateauneuf-du-Pape fica na parte inferior do Vale do Ródano, perto da fronteira com a Provença. O nome significa "o novo castelo do papa" e se refere a uma época em que a sede da Igreja Católica Romana – o Vaticano, mudou para Avignon (entre 1309-1377). A região tem registros de vinhedos que datam do Século 11–, mas a produção de vinho está instalada na região há muito mais tempo.
Chateauneuf-du-Pape é um dos 19 crus oficiais da região vinícola de Côtes du Rhône.
A denominação Châteauneuf-du-Pape foi a primeira AOC (Appellation d’Origine Controllée) de vinho francesa, criada em 1936. Existem 320 viticultores registrados no sindicato de produtores de Chateauneuf-du-Pape, com 7.746 acres de vinhedos (3.134 hectares) na região, que produzem em média 14 milhões de garrafas por ano.
Quase 75% dos vinhedos são dedicados a Grenache (também conhecida como Garnacha) e cerca de 30% das vinícolas são certificadas organicamente pela União Européia.
Chateauneuf-du-Pape é composta por cinco comunas: Chateauneuf-du-Pape, Courhézon, Orange, Bédarrides e Sorgues (ordenadas da maior para a menor).
● TERROIR DE CHATEAUNEUF-DU-PAPE: Do ponto de vista para descomplicar a conversa, Chateauneuf-du-Pape não é nada mais do que um planalto e algumas colinas baixas e ondulantes que desaguam no rio Rhône (Ródano). Mas, para um especialista, a região é uma miríade complexa de solos, encostas sutis e micro-terroirs que definem os melhores vinhos da denominação.
Solos: Existem três solos principais encontrados em Chateauneuf-du-Pape, incluindo galets roulés (pedras arredondadas sobre areia, argila vermelha rica em ferro), safres (solos com predominância de areia) e eclats calcaires (mais cor de giz, rico em calcário argilas). Vinhos mais robustos com tanino mais alto tendem a vir de solos à base de argila. Vinhos mais aromáticos e elegantes tendem a crescer em solos com maior prevalência de areia.
Efeitos do Sol: Chateauneuf-du-Pape recebe em média 2.800 horas de sol por estação de cultivo, o que a torna uma das mais ensolaradas da França.
Planalto La Crau: Uma característica notável na região é o Planalto La Crau. Esta área elevada é o lar de alguns dos castelos mais famosos da região e é marcada por pedras redondas sobre argilas vermelhas ricas em ferro deixadas durante a Idade Villafranchiana (entre a Idade do Gelo e a Época do Plioceno - cerca de 1–3 milhões de anos atrás).
● O CLIMA DA REGIÃO: Os solos e as vinhas velhas não são os únicos a moldar o caráter dos vinhos. Você também precisa considerar o clima. De modo geral, Chateauneuf du Pape é um clima mediterrâneo que geralmente oferece clima quente, seco e ensolarado no verão, com inverno frio, mas raramente congelante. O clima no sul do Rhône também é moldado por sua proximidade com o rio Ródano.
Os mistrais, nome dado aos ventos fortes, frios e secos que sopram de norte a sul são um fator importante no carácter dos vinhos. Esses ventos, que podem atingir velocidades superiores a 60 milhas por hora, ajudam a manter o ar e as frutas limpos, ao mesmo tempo que retiram o excesso de água.
Os ventos mistral, com seus efeitos positivos, são parte do motivo pelo qual tantos produtores podem usar técnicas de agricultura orgânica e biodinâmica em Chateauneuf du Pape. Os ventos açoitam a região cerca de 100 dias por ano. Quando os mistrais atingem a região, duram de um a três dias antes de se dissiparem.
O mistral é um componente chave para a região. Em parte, é o que permite que tantos produtores usem técnicas de agricultura orgânica e biodinâmica. Os ventos frios, muitas vezes fortes, mantêm as vinhas, os solos e as uvas mais limpos, mais higiênicos e ajudam a reduzir o potencial de doenças e de pragas de insetos. Nos anos extremamente quentes e secos, os mistrais também podem ajudar a resfriar os solos e as vinhas. Claro que também existem potenciais problemas negativos, especialmente para os rebentos e vinhas, que podem quebrar, durante os ventos fortes.
Do ponto de vista do clima, Chateauneuf du Pape é um candidato à região produtora de vinho mais consistente e sortuda desde 1998. É claro que algumas safras são melhores do que outras. Mas, com exceção das enormes inundações que devastaram a região em 2002, safra após safra tem variado de boa a ótima e alguns anos até excepcionais!
Chateauneuf du Pape é a região produtora de vinho mais ensolarada da França, com uma média de 2.700 horas de sol por estação de cultivo. A região recebe menos chuva do que a maioria das principais denominações produtoras de vinho, com uma precipitação média de 680 milímetros, (27 ″) por ano. A mudança climática, devido ao aquecimento global, afetou Chateauneuf du Pape. A principal mudança ocorrida são as datas de colheita, que saltaram de outubro para o início de setembro.
● A DENOMINAÇÃO: Chateauneuf-du-Pape é uma denominação de vinho francesa conhecida por suas ousadas combinações de vinhos tintos à base de Grenache. Oficialmente, a região produz vinhos tintos e brancos com até 13 uvas diferentes. (Extraoficialmente, existem 20 variedades utilizadas na região!).
Na década de 1930, por esforço do Barão Pierre Le Roy de Boiseaumarié, com sua preocupação com o crescimento de falsificações e a produção desleixada de alguns produtores da região o motivaram a liderar um comitê que estabeleceu regras específicas para a elaboração do vinho, demarcando a área onde deveriam estar os vinhedos e modo de produção. Foi criado, assim, o protótipo das Denominações de Origem, conhecido como Appellation d’Origine Controllée (AOC), em francês.
Apesar de sua importância histórica e de ser a denominação de maior prestígio do sul do Rhône atingindo altos preços, os vinhos de Chateauneuf-du-Pape tiveram sua reputação afetada devido a duas questões, principalmente: o estilo do vinho e a qualidade variável entre produtores.
Uma ótima garrafa de Chateauneuf-du-Pape tinto mostra aromas e sabores ricos de framboesa e ameixa. Conforme ele evolui, você experimentará notas de couro, caça e ervas. Os francófilos - e os verdadeiros franceses - chamam esse aroma de ervas de "garrigue", em homenagem aos cerrados de sálvia, alecrim e lavanda da região do Rhône.
Como se isso não bastasse, o Chateauneuf-duPape (ou de forma abreviada CdP) tinto muitas vezes termina com um formigamento de morango maduro e doce que marca o fundo da garganta devido ao álcool elevado (comum no vinho CdP). O fim de boca varia de doce a seco, dependendo da safra.
Recomenda-se decantar os vinhos CdP tintos por cerca de uma hora, e menos para vinhos mais velhos. Sirva refrescado, abaixo da temperatura ambiente para reduzir a evaporação do álcool em torno de 16–18 ºC.
Os vinhos tintos envelhecem normalmente de 10 a 20 anos, dependendo do produtor, da safra e do estilo. Os vinhos brancos envelhecem até cerca de 10 anos.
● O SABOR E CARÁTER DO VINHO CHATEAUNEUF-DU-PAPE: Embora os vinhos tintos de Chateauneuf du Pape sejam produzidos em uma ampla e diversa gama de estilos, eles compartilham as características comuns de cerejas vermelhas e pretas frescas, morango, kirsch, pimenta preta, framboesa preta, especiarias, terra e garrigue (ervas frescas típicas da região). As texturas podem ser exuberantes, vigorosas e atraentes quando jovens, e assumir características sedosas com a idade.
Uma das grandes qualidades que a maioria dos vinhos tintos Chateauneuf du Pape compartilham é a ampla variedade de acessibilidade (o que os ingleses chamam de “drinkability”). A maioria dos vinhos Chateauneuf du Pape são deliciosos jovens. A maioria dos vinhos não precisa ser envelhecida ou armazenada antes de ser degustada. O fato de terem a capacidade de envelhecer e se desenvolver é igualmente importante.
Creio que o ponto ideal para a maioria dos vinhos Chateauneuf du Pape é entre 8 e 12 anos de idade. Algumas vinícolas produzem vinhos que podem envelhecer décadas, mas não é o caso da maioria dos vinhos da região. Isso é bom, pois é mais do que equilibrado devido à bebida inicial da maioria dos vinhos Chateauneuf du Pape.
Cerca de 95% da produção de Chateauneuf du Pape é destinada à produção de vinho tinto, enquanto 5% é dedicada à produção de vinho branco Chateauneuf du Pape.
A maioria dos vinhos Chateauneuf du Pape Blanc são melhores em sua juventude, quando a fruta é exuberante, apimentada com sua rica exibição de notas frescas, doces, algumas frutas tropicais e exóticas, cítricas, madressilvas, laranja e especiarias. Muitos desses vinhos brancos Chateauneuf du Pape também oferecem texturas ricas e exuberantes. Alguns dos melhores vinhos brancos Chateauneuf du Pape podem envelhecer por décadas, mais notavelmente o Beaucastel Vieille Vignes.
Vale a pena citar que algumas propriedades também fazem pequenas quantidades de Vin de Paille, um vinho doce feito na maioria das vezes colhendo cachos de uvas e secando as frutas em esteiras de palha ou prateleiras antes da fermentação.
● HARMONIZAÇÕES RECOMENDADAS: Chateauneuf du Pape é uma das regiões vinícolas mais versáteis para harmonizar vinho e comida. Chateauneuf du Pape é uma região vinícola empolgante que produz vinhos tintos cheios de personalidade, que envelhecem e evoluem e a maioria dos vinhos ainda é vendida por preços justos, tornando-os perfeitos para a mesa de jantar.
Os vinhos tintos vêm em uma grande variedade de estilos, do grande, ousado e rico, ao opulento, bem como ao elegante e refinado. A diversidade de estilos, juntamente com a frescura natural e a qualidade picante do Chateauneuf du Pape tinto tornam-no perfeito para servir com tudo, desde carne grelhada, vitela, porco, caça, pato, cordeiro, embutidos, a ensopados e pratos refogados, cassoulet ou ricos pratos de frutos do mar. O Chateauneuf du Pape também é fácil de combinar com muitos pratos asiáticos especialmente da cozinha chinesa.
O vinho Chateauneuf du Pape branco faz excelentes combinações com todos os tipos de peixes, mariscos, lagostas, caranguejos, sushi, vitela, frango, porco, pratos com molhos cremosos, pratos de vegetais selecionados e uma ampla variedade de queijo macio.
O CdP Blanc é mais difícil de encontrar porque apenas cerca de 7% dos vinhedos da região são plantados com uvas brancas. Ainda assim, você encontrará muitos produtores que fazem pequenas quantidades que geralmente são uma mistura de uvas brancas da região, mais notavelmente, Grenache Blanc, Clairette e Roussanne.
● TABELA DE SAFRAS RECENTES DO CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE:
2011 - Excepcional safra de alto rendimento. Vinhos concentrados, densos e frutados.
2012 - Boa. Os rendimentos médios e as chuvas do final da estação causaram alguns taninos mais amargos. Ainda assim, o aumento dos níveis de ácido sugere capacidade para a idade.
2013 – Boa com cuidados. Rendimentos reduzidos de temperaturas mais frias ao longo da temporada. Procure produtores de qualidade; estes vão envelhecer.
2014 - Boa com cuidados. Esta foi uma safra complicada que exigiu muito trabalho nos vinhedos. Procure produtores de qualidade; estes devem envelhecer.
2015 - Boa. Esta é uma safra de muita fruta refletida nos vinhos. Taninos menos herbáceos e amargos em geral. Ótimos vinhos para beber.
2016 – Excepcional. Uvas felizes, bons vinhos.
2017 - Boa. Menor safra em 40 anos (apenas 9,6 milhões de garrafas). Colheita extremamente difícil devido à seca.
2018 - Boa. Um ano chuvoso e mais frio.
2019 - Boa. Este foi um ano grande e generoso. Espere notas de fruta madura e menor acidez nos vinhos brancos.
● OS MELHORES PRODUTORES: As vinícolas que produzem os melhores vinhos: Château de Beaucastel, Henri Bonneau, Clos des Papes, Domaine du Vieux Télégraphe, Domaine Bois de Boursan, Domaine Bosquet des Papes, Domaine Chante-Cigale, Domaine Clos du Caillou, Domaine du Mont Olivet, Château de la Gardine, Domaine Grand Veneur, Domaine de la Janasse, Château de la Nerthe, Château Rayas, Domaine de la Vieille Julienne..
● AS TÉCNICAS DE VINIFICAÇÃO DA GRENACHE: A Grenache é a uva de referência no CdP. Tradicionalmente, os cachos Grenache não são desengaçados (eles vão para o fermentador inteiro). Deixar caules adiciona um pouco de amargor, mas também aumenta a capacidade de envelhecimento do vinho. Entretanto, alguns produtores fazem desengace parcial ou total, especialmente em safras difíceis, para fazer um vinho mais macio e frutado. Às vezes, as fichas técnicas mais bem elaboradas de alguns produtores, dão estas notas de vinificação!).
Vinificação: Carvalho ou não? - A região há muito tempo usa cubas de concreto para fermentar vinhos (como em Bordeaux), mas há muitos produtores que usam cubas de aço inoxidável. Essas cubas mantêm as temperaturas baixas enquanto a fermentação esquenta. Alguns produtores optam por fermentadores de barril de carvalho, embora isso não seja tão comum. Grenache é muito sensível à oxidação, então o uso de fermentadores de carvalho é mais do que provável para outras variedades.
Durante a afinação dos vinhos ("amadurecimento"), alguns produtores usam carvalho novo, mas isso geralmente é para variedades diferentes de Grenache. Na verdade, Grenache é capaz de produzir um vinho delicioso e rico sem a necessidade de barricas novas. Dito isso, você pode esperar que os vinhos envelhecidos em carvalho novo tenham conotações ainda mais doces e defumadas, como o cravo e canela, e muitas vezes incluem variedades mais ousadas como Syrah e Mourvèdre.
Quase todos os vinhos tintos passam pela fermentação malolática, enquanto a maioria dos vinhos brancos não. A vinificação dos vinhos desta região evoluiu ao longo de vários séculos e hoje usa uma combinação de técnicas clássicas combinadas com a tecnologia moderna. Existem algumas diferenças estilísticas entre os produtores, o que torna os vinhos CdP mais interessantes ainda de serem provados em degustações horizontais (vinhos de mesma safra), para perceber os estilos de cada um dos produtores..................... Saúde!!!
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