Neste final de semana, provei com amigos dois rótulos de Nebbiolo produzidos pela vinícola brasileira Viapiana e conversamos sobre esta uva originária da região do Piemonte, na Itália, onde foi identificada no século XIII.
A Nebbiolo é a uva dos grandes vinhos tintos italianos, como os reputados Barolo e Barbaresco e, é conhecida também como Chiavennasca ou Spanna. Ela é uma casta tinta tradicional de Piemonte, no noroeste da Itália, e por ser bastante delicada e sensível às variações de solo e clima, é difícil de ser cultivada e raramente se adapta em outros terroirs. Em certos aspectos tem as mesmas dificuldades de adaptação da Pinot Noir a outros “terroirs”, e tem com esta uva francesa a característica de produzir tintos mais claros. Seu vinho será melhor apreciado em uma taça estilo para Pinot Noir para que seus delicados aromas de rosas, coulis de framboesa e erva-doce penetrem no seu olfato.
O nome da casta é baseado nas condições climáticas da região de Piemonte, onde a presença de neblina (nebbia) nas primeiras horas da manhã e no final da tarde é frequente nos vinhedos plantados nas colinas, na época do outono, período em que a uva é colhida.
A Nebbiolo é uma uva nobre, que exige cuidados especiais para que possa crescer e amadurecer em sua plenitude. Os vinhedos desta casta são uns dos primeiros a brotar, mas o amadurecimento é tardio. A uva tem cacho alongado e casca fina, e seus bagos têm alta concentração de pruína, uma substância que confere um aspecto ligeiramente esbranquiçado ou cinza à variedade. Essa razão também influenciou o nome da uva, já que as tonalidades lembram névoa (nebbia).
A casta é marcada por sua notável intensidade e complexidade na produção de vinhos. Apesar de sua casca ser relativamente fina, ela apresenta estrutura maciça, rica em taninos e com alta acidez natural, o que favorece a elaboração de vinhos de grande longevidade.
Seus vinhos têm aroma intenso e complexo, com características únicas. Na boca são poderosos, tânicos, com grande acidez e bastante austeridade. Perfeitos para acompanhar momentos gastronômicos que possuam sabores marcantes e fortes, os tintos elaborados com a casta Nebbiolo acompanham de forma única e com duradouro momento de prazer e degustação carnes assadas, ossobuco, risotos ricos como o milanês, e queijo grana padano.
A uva produz vinhos tintos que podem ter longa guarda. Alguns dos vinhos elaborados amadurecem mais de 10 anos antes de serem apreciados e degustados, quando atingem o melhor ponto de consumo. Para muitos críticos, suas qualidades só aparecem com o seu amadurecimento por um longo tempo de guarda.
Quando jovens, os vinhos exibem forte acidez e taninos muito firmes, sendo praticamente impossíveis de serem consumidos. Com o envelhecimento, a acidez e os taninos conseguem atingir um equilíbrio e os vinhos ganham complexidade e elegância. A maturidade também deixa esse vinho com um intenso aroma de frutas negras, violeta, rosa, alcatrão, especiarias e couro.
Os tipos de vinhos mais conhecidos produzidos com a Uva Nebbiolo são: Barbaresco e Barolo. Esses vinhos têm enorme qualidade e estão entre os melhores tintos do mundo de Baco. No terroir de Barolo, a casta Nebbiolo atinge sua mais alta qualidade, produzindo tintos únicos, com sabores persistentes e grande riqueza aromática. Já os vinhos Barbaresco, que também utilizam a Nebbiolo, são mais leves, macios e não precisam de longa guarda para chegarem ao seu ponto ideal de consumo.
Outros vinhos produzidos com a uva Nebbiolo que se destacam são o Gattinara, pela sua complexidade e preço inferior ao de outros vinhos, e o Roero, um DOCG que também têm preços mais acessíveis. Aliás, este é um momento perfeito para provar esses vinhos, porque os preços de Barolos e Barbarescos estão subindo e é provável que você encontre ótimos preços nas áreas vizinhas de Gattinara e Roero.
Antes de criar uma referência absoluta para seus vinhos, é importante dizer que na verdade, nem todo Nebbiolo tem taninos extremamente altos. Além disso, nem todos os Nebbiolo cheiram a flores (especialmente a rosas). Cada região do norte da Itália tem uma expressão diferente.
● Barolo DOCG
A cor de seus vinhos geralmente é granada pálida, o que realmente não dá nenhuma pista da intensidade deste vinho. Seus taninos são duros e precisam de um bom tempo de guarda, os sabores são ousados, as vezes sutis, as vezes de alcatrão, mas sempre mostram elegância.
Os sommeliers adoram descrever os Barolos com duas palavras: "rosas" e "alcatrão". Claro, Barolo é na verdade a mais frutada e mais encorpada de todas as regiões de Nebbiolo no norte da Itália. Espere sabores de framboesa, cereja vermelha, rosas, flores secas, cacau, anis, alcaçuz, pimenta da Jamaica ou do Reino, trufas e um toque as vezes terroso.
Barolos envelhecem pelo menos 18 meses em barrica, com um total de três anos de envelhecimento antes do lançamento ao mercado. Embora pareça muito, este vinho foi feito para envelhecer. A maioria dos exemplares feitos tradicionalmente só começam a aparecer no mercado com mais de 10 anos (quando os taninos começam a amaciar).
Riserva Os vinhos com o rótulo Barolo “Riserva” são envelhecidos por um período mínimo de cinco anos.
O termo Vigna em um rótulo indica um vinho feito a partir de um vinhedo específico. Existem onze comunas diferentes na região do Barolo, com dois estilos principais de sabor diferentes com base no tipo de solo: calcário versus arenito). A influência do enólogo também é importante, mas isso fica como um outro assunto, sobre estilos de vinificação.
Os Barolos vindos de regiões com solos calcários tendem a ser mais leves, como os da comuna de La Morra. As comunas com solos de arenito-argila mais intemperizados, incluem Serralunga d’Alba, Monforte d’Alba e Castiglione Falletto, e criam vinhos de grande complexidade.
●Barbaresco DOCG
Os solos principalmente férteis à base de calcário em Barbaresco, juntamente com seu clima ligeiramente mais ameno, resultam em vinhos com menos taninos do que Barolo. Isso não quer dizer que o Barbaresco não seja tânico, é apenas mais agradável e fácil de beber e gostar, preparando seu paladar para um Barolo.
Em termos de sabores, o Barbaresco oferece frutas vermelhas, com aromas de morango, framboesa, cereja, que se misturam com rosas, flores secas e notas mais leves de anis.
O Barbaresco deve envelhecer 26 meses (cerca de 2 anos), com pelo menos 9 meses em barril, enquanto o Barbaresco Riserva deve envelhecer 50 meses (cerca de 4 anos), com um mínimo de 24 meses em barril.
Uma comparação de sabor entre Barolo e Barbaresco revela que eles têm gosto semelhante.
●Roero DOCG
Roero também fica em Alba, no Piemonte, entre Barolo e Barbaresco. Este vinho continua a voar sob o radar, embora tenha sido recentemente elevado ao status DOCG em 2004. Os vinhos Nebbiolo de Roero são tão intensos e estruturados quanto o Barolo (mas geralmente custam apenas uma fração do seu preço). Eles também têm as frutas doces do Barbaresco.
O Roero Riserva requer pelo menos 32 meses de envelhecimento, incluindo seis meses em barrica.
● Outras regiões da Nebbiolo na Itália
♦ Boca – aqui a Nebbiolo é chamada de Spanna e os vinhos nascem de cortes com a Vespolina e Uva Rara. Estes são vinhos terrosos e rústicos com alta acidez, alto tanino e, muitas vezes, aromas de ferro dos solos da região.
♦ Bramaterra – aqui a Nebbiolo também é chamada de Spanna, com vinhos criados a partir da mistura com Vespolina e Uva Rara. Os vinhos são mais leves no estilo, com aromas simples de frutos vermelhos frescos e rosas com tanino médio e ampla acidez. Muitos consideram um pecado abrir uma garrafa antes dos 10 anos.
♦ Canavese Nebbiolo - Um Nebbiolo monovarietal com um mínimo de 85% de Nebbiolo (mas geralmente mais) vindo das províncias do norte do Piemonte, onde a rara uva branca Erbaluce cresce. Os vinhos parecem igualmente florais e terrosos, com taninos fortes e notas de alcaçuz. Para qualidade, busque aqueles exemplos sérios com cerca de 14% de álcool.
♦ Carema - Outra joia do norte do Piemonte que produz Nebbiolo no lado mais claro - imagine rosas, violetas, trufas e morangos silvestres. O envelhecimento deve ser de no mínimo três anos e os Riserva requerem quatro!
♦ Fara – aqui a Nebbiolo é chamada de Spanna e os vinhos incluem Spanna, Vespolina e Uva Rara. Fara é considerado um vinho muito antigo, cultivado nas colinas a oeste de Milão. Os vinhos apresentam aromas ricos lembrando frutos secos e couro rústico.
♦ Ghemme DOCG e Gattinara DOCG - Duas regiões vizinhas do norte do Piemonte, que produzem vinhos Nebbiolo monovarietais com ricos aromas de frutas secas e notas rústicas de terra.
♦ Langhe Nebbiolo - Langhe é a região que abrange Barolo, Barbaresco e Roero. Os vinhedos em locais fora das regiões DOCG estão posicionados nas colinas mais baixas ou em parcelas voltadas para o norte, onde é mais difícil amadurecer o Nebbiolo. Ainda assim, em safras excelentes, este é um ótimo lugar para procurar por bons vinhos.
♦ Lessona - O melhor Lessona é 100% Nebbiolo, embora algumas incluam uma mistura de Vespolina, Croatina e Uva Rara. Os solos arenosos da região produzem vinhos de elegância ágil com notas florais perfumadas de rosas, peônias e violetas. No paladar, o Lessona tem alta acidez e é muito estruturado, sendo aconselhável envelhecer por cerca de 10 anos para atingir o pico.
♦ Nebbiolo d’Alba - Uma região ainda maior que abrange grande parte do centro-sul do Piemonte produz uma grande quantidade de vinhos Nebbiolo de bom custo e benefício. Nebbiolo d'Alba varia no sabor de frutado e floral a herbáceo e rústico. Este é um vinho onde a vindima certa fará realmente a diferença!
♦ Valtellina, Lombardia. Na vizinha Lombardia existe um vale transversal que se abre para o Lago de Como. Aqui, nas colinas voltadas para o sul, você encontrará a Nebbiolo, que aqui se chama Chiavennasca. A região é muito mais fresca e produz vinhos com notas ácidas de frutos silvestres terrosos e alta acidez. É aqui que você encontrará o raro vinho Sforzato ou Sfursat, que é essencialmente um Nebbiolo feito no estilo de Amarone della Valpolicella.
● OS NEBBIOLOS DA VIAPIANA
♦ NEBBIOLO MICROLOTES 2015 – Um vinho de cor rubi claro com reflexos granadas mostrando os sinais da evolução. Aromas florais, frutas vermelhas como cerejas, nota de alcaçuz e toque de especiaria lembra o carvalho. Na boca tem boa textura e elegância, os taninos já estão macios, mas presentes e temos um longo e prazeroso final de boca de um vinho com tudo bem integrado. Uma pena que está esgotado.
♦ VIA 1986 NEBBIOLO 2017 - Um vinho de cor rubi claro sem grande sinal de evolução. Aromas florais de violeta, frutas vermelhas como cerejas, nota de alcaçuz, aqui aparece uma nota terrosa ou de cogumelo e toque de especiaria lembrando o carvalho. Na boca tem boa textura e elegância, os taninos estão amaciando, mas presentes e todo o conjunto cria um longo e final de boca.
Se você ainda não provou um Nebbiolo, os vinhos brasileiros produzidos em Flores da Cunha, pela Vinícola Viapiana podem ser um bom começo. Passada de geração em geração, a paixão pela produção de vinhos foi a motivação para, em 1986, ser elaborada a primeira safra da vinícola Viapiana. Hoje a Vinícola se consolidou como sinônimo de qualidade e em 2009, percebendo o potencial enoturístico da região no Rio Grande do Sul, inaugurou o Enoespaço Viapiana, evidenciando diferenciação e consolidando a marca em conceito grife.
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