Pela ocasião do Dia Internacional da Mulher, em 08 de março, vamos parar momentaneamente nossos artigos sobre as uvas brancas e seus grandes ícones e regiões produtoras e convidamos você a explorar o tema da mulher e do vinho: uma velha e longa história de amor, difícil como todas as histórias de amor, e complicada por muitos tabus.
Ao longo de sua história, a bebida e em especial o vinho, tem sido um item presente em todas as culturas, países e religiões. Desde os tempos dos egípcios, fenícios, gregos e romanos, o vinho era um privilégio reservado aos homens, enquanto as mulheres eram obrigadas a ficar de fora dos “simpósios”.
As mulheres sempre exerceram papel fundamental na sociedade, e no mundo do vinho não foi diferente. Historiadores escreveram que na Grécia antiga, somente mulheres sacerdotisas podiam vender vinhos, mas não podiam bebê-lo, sob pena de serem queimadas vivas! O vinho sempre foi uma arma de sedução, nos dois sentidos, porque o paladar das mulheres, que se diz ser mais sutil e apurado que o dos homens, foi capaz de revelar todos os mistérios do prazer que este néctar divino permite.
Sabor e prazer estão no centro de qualquer abordagem, seja para vinho ou gastronomia. Na nossa sociedade, a saúde também está no centro das nossas preocupações e aprendemos a beber bem e a comer bem: a cultura é um suporte essencial para tudo o que diz respeito ao conhecimento, à formação e à sensibilização.
As mulheres estão cada vez mais presentes no mundo do vinho. E os números comprovam: 1/3 dos enólogos, mais de 30% dos gestores de vinhas e 50% dos estudantes de enologia são agora mulheres.
Embora hoje muitas mulheres estejam à frente das vinícolas, elas ainda precisam provar sua capacidade de gestão ainda mais do que os homens. É claro que parece distante a época em que as mulheres não podiam entrar na adega em determinada época do mês sob pena de “estragar” o vinho por conta de seus humores. Mas ainda há um longo caminho a percorrer... Apostamos que graças a estas mulheres que fazem o vinho mover-se, entre as quais os amadores também têm um papel, este debate sobre o lugar da mulher no mundo do vinho em breve deixará de ser um detalhe a ser aceito, e que embora haja muitas mulheres na base da indústria do vinho, ainda haja poucas na liderança.
Nada melhor do que comemorar o Mês da Mulher citando algumas histórias de mulheres inspiradoras, já que citar todas seria uma tarefa para vários artigos:
♦ Jancis Robinson - Jornalista e uma das primeiras mulheres a conquistar o título de Master of Wine, Jancis Robinson é a crítica de vinhos mais respeitada na atualidade, sendo uma grande referência quando o assunto é “uva”. A renomada revista Decanter a descreve como a mais respeitada crítica e jornalista de vinhos do mundo. Ela tem inúmeros livros publicados, sejam eles básicos direcionados a iniciantes no mundo dos vinhos, a publicações aprofundadas e que norteiam muita pesquisa na área. Tem uma coluna semanal no respeitado Financial Times, onde escreve sobre o universo do vinho, além de veicular diariamente artigos para o próprio site, fonte de informações e dicas, avaliações de vinhos degustados, espaços de aprendizado. É a consultora dos vinhos da Rainha Elizabeth II.
♦ Laura Catena - herdeira de uma das melhores vinícolas argentinas, Laura se formou doutora em biologia em Harvard e medicina em Stanford, o que a ajudou a desenvolver importantes pesquisas na área de vitivinicultura. Apesar de ter crescido em Mendoza, foi cursar o ensino médio na Califórnia, onde era sempre visitada pelo pai Nicolás Catena. Compartilhavam grandes vinhos, e o pai deu a ela um cartão de crédito para que escolhesse os grandes vinhos dos próximos encontros. Durante 20 anos conciliou as atividades como médica em hospitais e na vinícola. Atualmente exerce a medicina como voluntária em São Francisco, onde mora na Califórnia, atendendo uma vez por semana a pessoas em situação de rua ou de zonas marginalizadas, além de ser a responsável pelo Catena Institute, da qual foi fundadora.
♦ Leonor de Aquitânia - Filha do Duque de Aquitânia, onde ficava a região de Bordeaux. Ela conseguiu se casar com 2 reis: primeiro com Luís VII da França com quem teve duas filhas e posteriormente com Henrique II da Inglaterra, além de ter sido matriarca da dinastia plantageneta, que governou a Inglaterra entre 1154 e 1485. Mãe do futuro rei da Inglaterra - Ricardo “Coração de Leão”, foi ela que através de uma manobra política, conseguiu que o rei (seu filho) isentasse de impostos os vinhos da região de Bordeaux, criando condições para que eles não tivessem concorrência quando importados para a Inglaterra. Desta forma Bordeaux começou a ser conhecido e firmou-se como referência de bons vinhos. Após uma intensa vida de oitenta e dois anos, sendo rainha da França e da Inglaterra, tomou o véu na Abadia de Fontevraud, onde morreu como monja em 1 de abril de 1204.
♦ Mônica Rossetti - Nascida em Bento Gonçalves (RS), onde iniciou sua formação em enologia, a descendente de italianos Monica Rossetti tinha 19 anos quando partiu para desbravar a terra de seus antepassados. Esteve à frente da enologia da Vinícola Lídio Carraro, ficou famosa por ser responsável pelos vinhos brancos e tintos que fez para Copa do Mundo e para as Olimpíadas sediadas no Brasil. Hoje, Mônica mora na Itália, e recentemente esteve apresentando seus rótulos feitos na Toscana, e que chegam ao Brasil pela importadora Mosto Flor.
♦ Regina Vanderlinde: Com mais de 30 anos na área de Enologia, ela foi eleita presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), a mais importante instituição mundial do vinho, com sede em Paris, para o triênio 2018/2020. Formada em Farmácia Bioquímica – Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina, é Mestre e Doutora em Enologia pela Universidade de Bordeaux (França) e professora do programa de Pós-Graduação da Universidade de Caxias do Sul, onde atua há 23 anos. Também foi criadora do Laboratório de Referência Enológica da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, que dirigiu por 17 anos através do seu trabalho no Instituto Brasileiro do Vinho. É uma grande referência no meio acadêmico, onde tem mais de 50 artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Durante sua carreira, gerou grandes contribuições para o avanço da vitivinicultura mundial, tendo coordenado inúmeros Projetos de Pesquisas em Vinhos. Tem também uma empresa de assessoria e comércio de vinhos e é degustadora em concursos internacionais de vinhos e bebidas espirituosas.
♦ Suzana Barelli - Brasileira, jornalista especializada em vinhos e socióloga de formação, ela já trabalhou em grandes veículos de comunicação, como o jornal “Folha de São Paulo” e a revista “Carta Capital”. Formada como sommelière pela ABS-SP (Associação Brasileira de Sommeliers), atuou como editora de vinhos da revista “Menu”, colunista na revista “Isto É Platinum” e no site da “Isto É Dinheiro”. Foi jurada em edições do Argentina Wine Awards, concurso que, em 2015, teve júri composto apenas por mulheres, sobre o tema “The Empowerment of Women in Wine” – para enfatizar o papel da mulher no mundo do vinho.
♦ Sarah Morphew Stephen - Quando o programa para obter o título de Master of Wine foi criado em 1953, apenas 21 profissionais, todos homens do segmento fizeram a prova. Dezessete anos mais tarde, Sarah Morphew se tornou a primeira mulher Master of Wine do mundo, marcando um precedente para as futuras gerações de enólogas, escritoras, vendedoras e trabalhadoras do segmento a nível internacional. Enóloga da Universidade de Bordeaux e especialista em Vinhos do Porto, Sarah desenvolveu uma carreira importante no segmento vinícola europeu. Somente seis anos depois outra mulher obteve o título outra vez.
Não posso deixar de citar minha esposa – Marina, que há 20 anos me apoia nas ações e degustações em torno do vinho, acompanhando minhas viagens, e que me permite ao longo das noites de domingo me distanciar da família e mergulhar na edição de mais um Vinotícias !!!.
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações e pesquisas).
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