Durante muito tempo o universo da produção do vinho foi masculino. As mulheres, quando ficavam viúvas, tinham por destino, vender as vinícolas. Muitos produtores afirmavam que apenas um homem pode demonstrar autoridade, dinamismo, sabedoria, know-how, em uma palavra - habilidades para perpetuar um negócio, seja em uma casa de champagne ou não. Mas muitas mulheres, sobretudo na região do Champagne mostraram que foram ou são capazes de romper com esta tradição.
Ainda melhor, elas escreveram algumas das páginas mais bonitas da história do champagne. Na região, as mulheres exerceram o poder muito antes de obter o direito de voto. Enfrentaram o concreto, a realidade, sem saber que também inventaram o poder feminino na indústria do vinho.
Em termos de champanhe, a feminilidade já existia. Não se pode esquecer da bela Madame de Pompadour, amante de Luís XV, emprestando o seio para moldar a taça de cristal que era usada para beber o vinho espumante. Note que ela tinha um seio pequeno, mas provavelmente bonito e em conformidade com os cânones da beleza da época. O golpe publicitário é magistral, tornando o champagne o único vinho que deixa mulheres bonitas depois de beber. O Champagne sempre estará ligado as mulheres.
● Viúva Clicquot, Barbe-Nicole Ponsardin - fez história ao revolucionar o mercado de espumantes franceses em pleno século 19. Contra tudo e contra todos, assumiu a vinícola, com a morte do marido, em 1805. Então, não só criou uma nova, e fundamental, etapa da vinificação, com criou a champagne rosé. A Veuve Cliquot, não à toa, ocupa lugar de destaque na história do vinho no mundo.
Ela era filha de um barão do Império e prefeito de Reims, esposa de François Clicquot, ficando viúva aos 27 anos, e decidiu assumir o comando do negócio. O gesto inaugural, história para marcar seu território, a casa passou a ser chamada Veuve Clicquot. Pela primeira vez, um champagne tem o nome de uma mulher. Em 1810, ela criou a primeira cuvée vintage. 1814, quando Napoleão acaba de abdicar, ela decidiu conquistar a Europa e enviou 10.000 garrafas de barco para São Petersburgo, incluindo o famoso vinho de 1811, batizado de "Vintage do cometa".
Os russos, privados de champagne por muito tempo, adotaram o vinho espumante de Madame Clicquot. O rótulo laranja é, inclusive, uma homenagem ao czar, já que esta era a sua cor oficial. Ela reinará suprema até os 89 anos de idade, com sua imagem sentada em majestade, representada pelo pintor Léon Cogniet, ela se sentou em um lounge no Hôtel du Marc em Reims. Seu olhar afiado e severo sempre parece vigiar os destinos de seu império.
A mais conhecida de suas invenções é a mesa de remuage, uma das técnicas que revolucionou a maneira de elaborar este espumante e é utilizada até hoje. Barbe-Nicole criou uma mesa, hoje chamada de pupitre, que permite que, como movimentos circulares na garrafa, os sedimentos da segunda fermentação desçam para o topo da garrafa inclinada e sejam retirados. Isso foi em 1816 e tornou os champagnes mais claros, sem sedimentos. Mas seis anos antes, em 1810, ela já tinha feito o primeiro champagne vintage (elaborado com uvas de uma única safra) registrado na região. Em 1818, ela criou o primeiro champanhe rosado, ao misturar vinhos tintos da propriedade na bebida.
● Louise Pommery - Contemporânea de Barbe-Nicole Clicquot, a também francesa Jeanne Alexandrine Louise Mélin Pommery (1819 a 1890), assumiu a vinícola em 1860, com a morte de seu marido, ficando viúva de 39 anos. Trinta anos de administração exemplar se seguiram e ela aumentou seu território, desenvolveu o mercado internacional e inventou o champagne brut natural, reduzindo a dosagem de açúcar.
Depois de fazer fortuna com o mercado de algodão, o casal havia decidido investir na elaboração de vinhos em Champagne e ter uma vida mais tranquila. Viúva, Louise se viu sozinha e com dois filhos para criar. Ao entrar no mundo dos champagnes, ela se tornou uma das pioneiras em elaborar uma bebida menos doce e mais parecida com os espumantes atuais. Diz a literatura que ela percebeu que os ingleses preferiam a bebida mais seca, sem tanta adição de açúcar como acontecia na época. Em 1874, a Pommery elaborou o seu primeiro champagne brut.
Além de apostar neste estilo de champagne, a viúva Pommery também ampliou, significativamente, as caves subterrâneas de sua maison. Construídas cerca de 30 metros abaixo da terra, as caves permitem o lento trabalho das leveduras, nas garrafas, o que resulta nas almejadas borbulhas dos espumantes. A Pommery conta com 18 quilômetros de caves embaixo da cidade de Reims.
Para Nathalie Vranken, que hoje garante com o marido Paul-François, a sucessão à frente da Pommery após a aquisição da vinícola em 2002, uma das principais preocupações é não decepcionar Louise. Com uma produção hoje elevada para 21 milhões de garrafas por ano, e uma "filosofia do champagne" decididamente voltada para a arte e o patrocínio, Nathalie e Paul-François Vranken não falham.
● Elizabeth Bollinger - Conhecida como Lily, é a descendente do famoso banqueiro escocês Law of Lauriston-Boubers. Viúva em 1941, ela preservou sua casa em tempos difíceis (inclusive durante a Segunda Guerra Mundial) e a administrou por trinta anos chegando ao tamanho e notoriedade que conhecemos hoje.
Equilibrando a tradição com a modernidade, teve papel importante na promoção de seu champagne no mercado europeu. Zelosa da qualidade, passeava pelos vinhedos todos os dias, de bicicleta, em cenas muito retratada pelos fotógrafos.
A resposta de Lily Bollinger sobre quando bebia champagne, em uma entrevista para um jornal inglês, entrou para a literatura das grandes frases sobre a bebida. “Eu bebo champagne quando eu estou feliz e quando eu estou triste. Às vezes eu bebo quando estou sozinha. Quando tenho companhia, considero obrigatório. Dou um gole quando estou sem fome, e bebo quando estou com fome. Se não for assim, eu nunca nem toco no champagne, a não ser que eu esteja com sede.
Hoje, seu champagne tornou-se o vinho espumante oficial da coroa britânica. James Bond também bebe Bollinger, o que regularmente lhe permite salvar o mundo.
● Carol Duval-Leroy - Em 1991, Carol Duval-Leroy, se viu apelidada pelo marido no leito de morte. Ele confiou a ela os destinos da casa. Nascida na Bélgica, estranha ao negócio de champagne, Carol colocou toda a sua energia no negócio e provou ser uma empreendedora de destaque. Vinte anos depois, a produção doméstica passou de 2,5 para 5 milhões de garrafas. A "regente do reino" venceu muitas batalhas. "Eu estava obcecada em deixar os negócios da família em boas condições para os meus filhos. Jurei isso ao meu marido", disse ela. Ela manteve sua palavra.
● Anne Malassagne não queria ver a herança da família afundar, o champagne Lenoble. Seu pai cirurgião só estava interessado no negócio de vinhos à distância e já o havia colocado à venda. Anne não aguentou. Ela não deixou a venda acontecer, e com seu irmão mais novo, Antoine, sob sua administração, o champagne Lenoble, com 350.000 garrafas, é hoje um puro produto artesanal, uma joia.
● Caroline Latrive, é quem assegura a qualidade do champanhe Ayala em Aÿ desde 2007. Ela costuma dizer que a “assembage” não é apenas uma simples adição. O resultado deve ser muito maior que a soma dos elementos. Caroline trabalha na tranquilidade de seu laboratório acima da sala de fermentação, como um alquimista entre seus tubos de ensaio, e anota seus segredos em um caderno que nunca a deixa.
● Elisabeth Sarcelet atua na Maison Castelnau. Ela também fala muito bem do vinho como uma criação da chardonnay e não da pedra, em comparação com a mineralidade dos seus vinhos".
É assim que as mulheres hoje falam de vinho champagne, sem timidez ou complexidade. Se todos concordam em afirmar que não há uma maneira especificamente feminina de fazer vinho, todos buscam o mesmo objetivo, a de um terroir a ser valorizado pelo melhor e pela sua qualidade !!! Saúde !!!
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