A safra de 2017 em Bordeaux foi marcada por dois importantes fenômenos meteorológicos : as geadas de 27 e 28 de abril, que atingiram grande parte dos vinhedos da região, e as chuvas de início de setembro. Esses dois eventos naturais tiveram grande impacto na região, com consequências por vezes irreversíveis.

Os vinhedos mais severamente afetados foram devastados e simplesmente não produziram vinho em 2017. Em comparação a 2016, o volume total produzido em Bordeaux diminuiu cerca de 40% . Em algumas regiões como o Pomerol e Saint-Emilion, a perda de produção atingiu 60%.
Diz-se que o mundo do vinho conhece os grandes produtores, quando em anos como este, com caraterísticas devastadoras, eles conseguem produzir grandes vinhos. Para suprir as dificuldades, eles fizeram um rigoroso trabalho junto ao solo, na condução do vinhedo e na atenção ao terroir, e ainda uma vinificação criteriosa, visando com tudo isto, minimizar o impacto na natureza da região.
Desta forma, 2017 pode ser considerada uma safra de forte identidade, na qual o viticultor expressa da melhor forma a vinha e o terroir. As primeiras provas dos vinhos a colocam como semelhante a safra de 2014, mas com um perfil mais clássico. Os vinhos tem menos teor alcoólico, apresentam fruta madura intensa com aromas frescos, taninos bem resolvidos e integrados, e uma boa acidez que sugere esses vinhos para a gastronomia.
De maneira geral, os vinhos produzidos na chamada Margem Esquerda tiveram uma qualidade melhor, especialmente no norte do Médoc, em denominações como Saint-Estèphe e Saint-Julien, que quase não foram afetadas pelas geadas. Os Châteaux de Saint Pierre, Beychevelle, Lagrange, Branaire-Ducru, Léoville Poyferre, Montrose, ou Gruaud-Larose produziram vinhos excelentes.
Pauillac também assinou vinhos muito bons, especialmente aqueles originários dos terroirs próximos do rio Garonne. Alguns ótimos resultados também em Pessac-Léognan, especialmente nos vinhedos que foram poupados pelas geadas e chuvas.
Já a região de Saint-Emilion, situada à Margem Direita, sofreu muito com as geadas, que devastaram boa parte dos vinhedos. Paradoxalmente, os melhores vinhos deste ano virão da Margem Direita, já que os solos de argila melhor resistiram ao risco de diluição pela ação da água.
Châteaux como Petrus, Vieux Château Certan, l'Eglise Clinet e Lafleur, em Pomerol, ou Cheval Blanc, Canon, Ausone, Pavia, Angelus, Canon-la-Gaffalière e Figeac em Saint-Emilion, produziram excelentes crus esse ano.
Vale também notar também que 2017 é uma grande safra para os brancos secos , que resultaram ser aromáticos, frescos, ricos e maduros. Quanto a Sauternes, a safra é considerada ótima, com vinhos num estilo rico e potente. (Fonte: baseado em análise de Ana Carolina Dani - Legrand Filles et Fils | 1, rue de la Banque - 75002 Paris)