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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

A ESPANHA QUE VI, COMI E BEBI – PARTE 3


Passear pelos vinhedos da Espanha é se deparar com o tradição e a moderninade de forma intensa e encantadora. Ribera del Duero e Rioja atendem aos amantes de vinho mais exigentes com rótulos de grande qualidade, sendo provavelmente as denominações mais conhecidas. Mas a Espanha tem muito mais a oferecer. Pelas estradas deste Roteiro por La Mancha descobrimos pequenos pueblos e diferentes costumes que são mantidos de geração em geração. Até na culinária tivemos oportunidade de provar pratos típicos da época de Miguel de Cervantes e seu clássico “Don Quixote de La Mancha”.

Nos anos 90, a indústria vinícola espanhola passou por grandes modernizações e hoje é a maior área de vinhedos do mundo e o terceiro maior produtor e responsável por um dos melhores vinhos do mundo.

BODEGA Y VIÑEDOS CASTIBLANQUE – situada em Campo de Criptana, em plena planície manchega, a 800 m.de altitude, com uma oscilação térmica muito pronunciada entre o dia e a noite. Estes gradientes altos de temperatura são excelentes para gerar bons vinhos. Conta com 120 Ha de vinhedos próprios e uma antiga bodega dotada com os mais modernos meios técnicos quanto a processos de vinificação (tanques de aço inox, sistemas de controle de temperaturas, etc.).

A família Castiblanque tem tradição viticultora de 3 gerações, quando o avô Jesús Castiblanque Alberca, iniciou o plantio de vinhedos da variedade Airén nos anos de 1950. Pouco a pouco, com muito esforço e com a ajuda do filho Jesús Castiblanque Pintor, ampliaram a plantação, toda no sistema Gobelet ou vaso (muito difundido na Espanha, em que a videira é apoiada apenas por uma estaca) plantando a variedade branca Airén.

Dispõe de ampla sala de degustação no que foi a antiga oficina de reparação dos toneis, laboratório onde realizam as análises para obter os melhors caldos, nave de brancos e tintos onde onde antigamente estavam as tinajas (ânforas) por depósitos de inox, planta de estabilização e engarrafamento, cave de envelhecimento com capacidade para 800 barricas e 150 mil gfas. Nesta Sala de Degustação tivemos uma verdadeira aula sobre a vinicultura manchega, e tivemos a surpresa de conhecer um Guia Enológico Didático desenvolvido para crianças, com ênsafe no conhecimento sobre as uvas e nos processos de vinificação, criando o respeito a um futuro consumo consciente do vinho.

Na década de 1990, frente as dificuldades econômicas que baixaram o valor da uva plantada em La Mancha, decidiram agregar valor ao seu produto e começaram a elaborar seus próprios vinhos, para garantir a sobrevivência de suas propriedades, e se planejou uma mudança das variedades do vinhedo, com a finalidade de adaptar-se ao potencial dos solos, clima, e as próprias variedades permitidas para os vinhos de Castilla La Mancha. Este processo foi além e criou um programa de reestruturação dos vinhedos, e em algumas áreas foram plantadas variedades estrangeiras, com o propósito de estabelecer um vinhedo que atendesse a todas as necessidades da Bodega, alterando-se então os padrões da mentalidade tradicional da região. Assim em 1995 começou o arranque das vinhas de Airén (a variedade mais plantada no mundo), conservando ainda algumas parcelas de melhor qualidade. Do mesmo modo se completou neste ano e no seguinte o plantio das vinhas de Tempranillo.

Em 2003 plantou-se a Moscatel de grão pequeno, variedade própria para a produção de vinhos doces na Espanha (especialmente em Jerez), muito aromática e rica em açúcares. Entretanto na Bodega produzem um vinho seco com esta variedade, a partir de leveduras autóctones em lugar de utilizar as habituais leveduras selecionadas, aproveitando dos aromas naturais desta uva. O resultado é um vinho jovem para consumo, aumentando a oferta de produtos brancos já existentes de Airén e Verdejo. Neste ano também se plantou Chardonnay, típica variedade francesa, para fazer-se um vinho fermentado em barrica, criando um produto de alta gama.

Este processo se completou com o plantio de variedades como Syrah, Petit Verdot e Cabernet Sauvignon, criando assim uma gama bastante completa e ampla de vinhos tintos. Todas as novas plantações foram pensadas para poderem ser colhidas de forma mecanizada, fazendo-se a vindima no melhor momento de maturidade dos frutos, de forma mais rápida durante a noite, quando a uva chega fresca na Bodega.

Fator importante é a condução do vinhedo para garantir rendimentos baixos e controlados, com poda de inverno para não permitir uma floração excessiva na primavera. Há podas em verde para regular a carga de cachos por videira, controle de irrigação e adoção de fertilizantes quando necessário, para garantir frutos de qualidade ótima em cada parcela dos vinhedos. Além disto, ao longo do tempo se trabalhou na densidade de plantio, originalmente de 1600 plantas por hectare, e agora em 3000 plantas. O cultivo nesta condição de stress produz menos quantidade de cachos, mas de melhor qualidade. A colheita das uvas é feita nas horas mais frescas do dia, e são transportadas rapidamente para a cantina, com temperatura entre 10 a 11ºC de forma a garantir as condições mais favoráveis para a prensa da uva, obtendo um mostro fresco e excelente para ser fermentado.

Parte da colheita é feita de forma mecanizada, sempre durante a noite, de maneira rápida (50.000 kg por noite), garantindo que o as uvas e mosto obtido seja fresco e sadio para iniciar-se a fermentação. Lembrando que “O vinho se faz na vinha!”, o cuidado fundamental é manter a sanidade e frescor dos frutos colhidos, garantindo uma uva da mais alta qualidade.

Produzem duas gamas de vinhos: BALDOR com 3 monovarietias, Chardonnay, Old Vines (Cabernet Sauvignon) e Syrah ILEX com 4 vinhos, o Branco monovarietal de Airén, o Rosado, monovarietal de Syrah e 2 tintos, o corte de Syrah e Tempranillo e o Coupage de Syrah, Garnacha e Tempranillo

Nesta visita degustamos os seguintes vinhos:

1. Branco. Ilex Blanco. 2016. 13%. 100% Airén – eu sempre tive uma curiosidade em provar os vinhos brancos de Airén, praticamente ausente no mercado brasileiro. Este vinho mostrou todo o potencial aromático da variedade. Cristalino e brilhante. Com aromas de intensidade média, lembrando frutas bracas, notas florais, e nuances minerais. Na boca é fresco, e persistente. Par perfeito para o queijo Manchego, e vai bem com peixes e frutos do mar em qualquer tipo de preparação. Perfeito com saladas leves, bem como com arroz e massas leves. 2. Branco. Baldor Chardonnay. 2016. 13%. 100% Chardonnay 3. Tinto. Ilex Tinto. 2016. 13%. 60% Syrah + 40% Tempranillo 4. Tinto. Ilex Coupage. 2016. 13,5%. 50% Syrah + 10% Garnacha + 40% Tempranillo 5. Tinto. Baldor Old Vines. 2011. 14%. 100% Cabernet Sauvignon 6. Tinto. Baldor Syrah. 2014. 13,5%. 100% Syrah Observação: sem importador para o Brasil.

PAGO DEL VICARIO - Esta vinícola foi inaugurada em 2005, sendo resultado da iniciativa dos irmãos Antonio e Ignacio Barco, provenientes de uma família com uma longa tradição na produção de vinho, iniciada por seu pai, Dario Barco, dono de uma adega na cidade de Miguelturra até 1995. O nome da adega refere-se a um antigo antepassado da família, grande amante do vinho e da viticultura, que foi vigário da diocese de Ciudad Real e defendeu o conceito de vinho para Pago, uma filosofia que hoje está presente nesta adega, que se reflete em seu nome, mas que também vem da proximidade do reservatório Vicário sobre o Rio Guadiana, em cujos bancos cultivam as vinhas da adega.

O resultado é uma imagem incomum da região de La Mancha, um cenário inspirado de grande beleza juntando o Guadiana e o conjunto de vinhas bem cuidadas, com as montanhas próximas. Faz parte da qualificação “Vinos de la Tierra de Castilla”, oferece uma bela visita de uma instalação para produção de vinhos, reunindo no conjunto, além da vinícola, um hotel e um restaurante junto a vinha de 130 ha as margens do Rio Guadiana e aos pés dos Montes de Toledo.

A vinícola está instalada no próprio terreno do vinhedo com uma arquitetura vanguardista que não agride o entorno e se funde com a paisagem natural desse entorno. Conjuga deste modo um design moderno com a tradição local, de encanto e de contrastes que busca criar um clima muito acolhedor e romântico. Tanto é assim que as instalações dispõem de uma área de eventos, e possibilita a hospedagem no Wine Hotel, onde acontecem celebrações e casamentos, completando assim a sua oferta de qualidade no enoturismo.

Cada uma das diferentes áreas do edifício se integra perfeitamente com a orografia e a cor da paisagem, enquanto a sucessão de arcos decrescentes simboliza as diferentes etapas de transformação do processo, da vinha, do reservatório, ao barril, e depois para a garrafa e, finalmente, para a taça.

O resultado não fica indiferente ao visitante provocando o desejo de visitar suas instalações. A Sala de Barricas novas está composta por distintos tipos de carvalho, sendo predominantemente usado as barricas de carvalho francês, mas também tendo as feitas com carvalho americano e do Cáucaso. A ideia é trabalhar com esta palheta de barricas um vinho mais elegante e complexo. A vinha está plantada a 600 m.de altitude e conta com 130 ha de vinhedo, contando com 7 variedades diferentes de videiras: Tempranillo, Garnacha Tintorera, Merlot, Syrah, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot para os vinhos tintos, e Chardonnay e Sauvignon Blanc para os brancos. Como isto se pode observar que na realidade é uma vinícola de estilo bem mais moderno que as tradicionais de La Mancha, onde se prefere usar variedades não autóctones, todas francesas a exceção de duas eminentemente espanholas, o que define o posicionamento de mercado desta Bodega.

O total da sua plantação das 130 ha está projetada em 25 parcelas de pequeno tamanho, sendo o cuidado e manejo do cultivo de forma individualizada em função das caraterísticas singulares de cada uma delas.

Produzem 9 rótulos diferentes:

Monovarietais: Branco da tinta Tempranillo, Rosé de Petit Verdot, os tintos “Bancal del Rio” Petit Verdot), “Monagós” (Syrah) e Sobremesa “Merlot Dulce”. Cortes: “Talva” (Chardonnay, Sauvignon Blanc e tintas Garnacha e Tempranillo), “50-50” (Tempranillo e Cabernet Sauvingon em iguais proporções), “Penta” (Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Shyrah e Petit Verdot) e o Sobremesa “Corte Dulce” (Chardonnay e Sauvignon Blanc).

Eles também produzem 2 vinhos em Andalucia qualificados como “Vinos de la Tierra La Alpujarras” e 3 vinhos da “DO Bierzo” em Castilla y León.

Vinhos da Degustação:

1. Branco. Talva. 2015. 14,5%. 50% Chardonnay + 25% Sauvignon Blanc + 25% tintas Garnacha (12%) e Tempranillo (13%). Delicioso branco que leva uvas tintas vinificadas em branco em seu corte. Límpido e cristalino, com aromas de boa intensidade, lembrando frutas brancas e amarelas, com toques minerais num segundo momento. Na boca mostra frescor e as frutas, dando vontade de provar um segundo gole de imediato. 2. Tinto. Penta. 2014. 13,5%. 40% Merlot + 23% Tempranillo + 15% Petit Verdot + 11% Garnacha e 11% de Syrah. Observação: sem importador para o Brasil.

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