Alejandro Vigil é um dos casos a estudar no mundo do vinho. Sua paixão é respirar os solos, as frutas e o ar do vinhedo. Ele costumava passar as férias na casa do avô materno - Tristán Valenzuela, em San Juan (província vizinha a Mendoza). No inverno, participava da poda. No verão, do cultivo, da colheita e da produção do vinho. Esta forma de viver a vida em família moldou uma série de atitudes em sua vida. Quem trabalha com ele para, para almoçar e tomar vinho durante a refeição. E que depois faça a sesta, que descanse uma hora. E depois volte a trabalhar. E depois se trabalha até uma da manhã, dois, três, quatro (sobre os momentos mais trabalhosos da produção do vinho, como a vindima), não importa. No almoço se compartilha a vida, o que acontece na casa, na família, e ele não quer que isto se perca, que se perca a memória dos bons momentos. Isto tem a ver muito com o fato de que Alejandro é disléxico. Não consegue separar sílabas, por exemplo, e por isto, tudo para ele é memória. Lê as palavras por memória e isto se aplica ao vinho. Guarda os sabores, o tato, a textura. A dislexia, que poderia ter sido um problema, foi uma solução porque trabalhou muito na sua constância. Entrou na universidade de agronomia e, depois de um ano, passou a trabalhar no Instituto de Tecnologia Agropecuária da Argentina. Depois de cinco anos e três meses, formou-se e ingressou como chefe do departamento de solos. Sua tese foi sobre o zoneamento da Malbec nos distintos terroir, o que na época parecia ser uma loucura, porque o Malbec era pensado como um vinho básico. A partir desta tese seu trabalho passou a chamar a atenção das bodegas, entre elas a Catena. Ele começou a trabalhar na Catena e não tinha um conhecimento prévio sobre vinhos, mas não perdeu a chance de surpreender Nicolas Catena, quando teve a a seu cargo fazer um vinho especial para ele, que se apaixonou pelo resultado - o Nicolás Catena Zapata 2001.
Na época, a Catena tinha consultoria do australiano, John Duval, fazendo o corte do vinho e Vigil foi convidado a fazer um corte. Reunidos, Nicolas, Laura (sua filha), Pepe Galante (enólogo), e John Duval, Alejandro apresentou sua garrafa. Fizeram uma prova às cegas e todos votaram no vinho de Alejandro. Alguns meses depois, Nicolas encarregou Alejandro de preparar todos os vinhos premium da empresa, sem mais nenhuma consultoria.
Vigil criou em 2007, junto de Adrianna Catena (filha caçula de Nicolás Catena), a bodega El Enemigo, onde produz vinhos de alta gama. A bodega é inspirada na Divina Comédia e fica em Chachingo, na localidade de Maipú. Tendo à sua disposição uma ampla gama dos melhores vinhedos da região de Mendoza — pertencentes à família Catena — Alejandro Vigil selecionou parcelas específicas das uvas que pudessem dar origem a vinhos com uma personalidade distinta dos talhados por ele na Catena Zapata. São vinhos tintos com bastante nervo, taninos abundantes e um caráter deliciosamente selvagem.
A linha “El Enemigo” da vinícola é formada pelos vinhos Malbec, Cabernet Franc, Bonarda, Syrah/Viognier e Chadonnay. Logo o primeiro vinho lançado, El Enemigo Malbec, já foi apontado como “outstanding” por Robert Parker. O mais novo cult wine da família Catena Zapata, El Enemigo Malbec é talhado para ser um dos mais cativantes exemplares da vinícola, extremamente profundo, saboroso e com grande personalidade.
Na degustação que tive oportunidade de participar em Belo Horizonte, orientada por Constanza Hartung – Gerente de Exportação, alguns rótulos me surpreenderam e o Syrah-Viognier foi um deles.
Notas de Degustação: Vinho tinto rubi ainda escuro, sem notas de evolução na cor. É o resultado da fascinação de Alejandro pelos vinhos do Rhône, criando um corte de Syrah e 7% de Viognier como os melhores franceses da região. Nos aromas aparecem as notas de ameixa escuras e especiarias, com elegante toque mineral. Em boca tem elegância e delicadeza ao mesmo tempo, um vinho fácil de gostar e com grande complexidade, bom frescor, repetindo o perfil aromático. Boa persistência.
Estimativa de Guarda: Pronto para beber (é 2012), mas aguenta até 5 anos de guarda.
Notas de Harmonização: Perfeito para acompanhar carnes vermelhas grelhadas (maminha, fraldinha, filé mignon), queijos macios como gouda e emental ou pode ser servido sozinho como um vinho para degustação prazerosa. Servir entre 16 e 17°C.
Onde comprar: Em BH: MISTRAL - Rua Cláudio Manoel, 723 - Savassi - BH. Tel.: (31) 3115-2100.