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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

UMA ROTA PELOS VINHOS, QUEIJOS E AZEITES MINEIROS


Dos 27 vinhos brasileiros premiados no Decanter World Wine Awards 2017, em Londres, 5 rótulos são elaborados com a tecnologia da dupla poda desenvolvida no Núcleo Tecnológico da Uva e Vinho da Epamig - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, em Caldas. Este é um reconhecimento de peso, uma vez que o prêmio foi organizado pela prestigiada revista inglesa Decanter – uma das mais tradicionais e respeitadas publicações sobre vinhos no mundo, que contou com avaliação de mais de 17 mil vinhos, julgados por 219 experts, contando ainda com 65 mestres de vinhos e 20 mestres sommeliers.

O sucesso no prêmio Decanter é reflexo de um trabalho de pesquisa exitoso da Epamig que aperfeiçoou a qualidade dos vinhos finos produzidos no Brasil em propriedades no Sul de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo.

A tecnologia da dupla poda foi desenvolvida pelo pesquisador Murillo Albuquerque Regina, da Epamig. O que o consultor faz é alterar o ciclo vegetativo das vinhas e, em vez de realizar a colheita no verão, quando as chuvas são intensas e podem prejudicar o sabor e os aromas das uvas, colhe-as no inverno, com dias quentes e noites frias, que são ideais para seu amadurecimento, manutenção de aromas e para alcançar alta acidez e concentração de açúcar ideais.

Os resultados são impressionantes, pois só em MG, cerca de 2,5 milhões de litros de vinho são elaborados, incluindo tintos, brancos e espumantes. Mas por se tratar de uma técnica recente muitas questões precisam ser respondidas a respeito do comportamento da planta e as condições de manejo da viticultura tradicional, abrangendo a definição de porta-enxertos, densidade de plantio da vinha, sistema de condução, direção das linhas de plantio, clones indicados, desbaste de ramos e/ou cachos, desfolha, irrigação são alguns dos aspectos que ainda precisam ser avaliados para otimizar a produção de uvas voltadas a elaboração de vinhos finos no sudeste brasileiro.

Qualquer interferência na planta provoca uma resposta metabólica com consequência na composição das bagas e do vinho. Em todos os casos, busca-se a produção de uvas sadias, com elevado teor de açúcar, acidez equilibrada e, no caso das uvas tintas, elevado teor de antocianinas e taninos maduros.

Em Minas, na região da Serra da Mantiqueira, temos vinhedos de Chardonnay e Pinot Noir voltados principalmente para a elaboração de vinhos espumantes. Em regiões de menor altitude, como Três Corações, Três Pontas, São Sebastião do Paraíso, Araxá, Santana dos Montes, Santo Antônio do Amparo, temos vinhedos de Syrah, para vinhos tintos, e Sauvignon Blanc, para vinhos brancos. As castas Syrah e Sauvignon Blanc foram as que mais se adaptaram ao manejo em dupla poda e, por isso, representam a maior parte do vinho fino produzido na região sudeste.

Já estão no mercado: Primeira Estrada (de Três Corações), Luiz Porto e Dom de Minas (Cordislândia), e Maria Maria (Três Pontas).

Na estimativa de Murillo Regina, são 20 produtores no Sul do Estado que hoje se dedicam à produção de uvas, embora nem todos ainda tenham seus rótulos. Aos poucos, serão agregadas novas marcas e mais produtores terão o interesse despertado. A condição de mercado é muito boa pelas experiências até agora e a intenção dos produtores é que a região de Minas se transforme, no longo prazo, em um polo de produção viticultora.


Além do sucesso com o vinho, Minas vem observando uma revolução no reconhecimentos dos queijos mineiros, em especiais os maturados de forma artesanal. No recente Salão Mundial do Queijo, realizado em Tours, na França, entre mais de 700 competidores de 20 países, 11 queijos produzidos em Minas Gerais foram premiados.

O queijo minas artesanal é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Há estimativas de que a atividade gera renda e emprego para cerca de 30 mil famílias num universo superior a 600 municípios de Minas.

O interessante é que o sucesso dos queijos mineiros na França pode ser explicado por um fungo: o Geotricum candidun, utilizado nas receitas de vários queijos na França. Uma parceria entre a Universidade Federal de Lavras e produtores da região do Serro encontrou o fungo, que passou a agregar valor à produção mineira.

E as coisas não param por ai, porque o sucesso também está chegando para os produtores de azeites mineiros. Com sabores suaves, que destacam a essência das oliveiras, os azeites produzidos na região do Sul de Minas têm agradado e conquistado paladares.

Com teor de acidez em 0,2%, os azeites extra-virgens produzidos especialmente em Maria da Fé, Itanhandu e outras cidades da Serra da Mantiqueira, bem como Caldas e Andradas, demonstram que a colheita e o processamento das azeitonas ocorreu no tempo certo até o envase, evitando a fermentação e garantindo a qualidade do produto.

A minha esperança é que este bom momento possa consolidar-se em um roteiro bem estruturado que promova o turismo enogastronômico como mais um incentivo para a economia destas regiões.

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